Os outros não seguiram seu gesto ridículo e eu me aproximei para recolher as latas.
-Mais uma para cada?
-O que acha, criada? -A Fabiana indagou.
-Já trago. -Recolhi as latas e fui para a cozinha. Peguei cinco latas no congelador e levei para eles.
A primeira que entreguei foi a do Bernardo, pois ele estava mais próximo a mim. E antes que eu conseguisse me afastar deles, ele cuspiu o líquido em cima de mim.
-Essa merda está quente! -Ele jogou a lata no chão, molhando o tapete.
Todos seus amigos riram e eu fervi de raiva, mas nada podia fazer. Respirei fundo.
-Elas estavam no congelador, é o mais gelado que tem por agora.
-Então me traga algo que esteja realmente gelado e depois limpe essa sujeira. -Ele apontou para a lata que tinha propositalmente jogado no tapete.
Assenti, peguei a lata e fui para a cozinha.
O engraçado foi que nenhum outro amigo dele reclamou da temperatura da bebida e eu quase queimei a mão levando-as. Elas estavam sim geladas, mas mais que isso... Estavam quase congeladas.
Limpei rapidamente minha roupa com um papel toalha e água, não ficou bom, mas era o que tinha de opção no momento.
Preparei uma caipirinha com bastante gelo e levei para o Bernardo que, dessa vez, não reclamou. Limpei rapidamente o chão e voltei para o seu quarto.
O resto da tarde passou assim: eu intercalando entre arrumar quartos e banheiros e ser ofendida por ele e seus amigos enquanto os servia. Quando chegou à noite eu já estava exausta, mas não podia parar. Consegui terminar de limpar tudo que ele tinha me pedido.
-Eu posso trocar de roupa? Essa está molhada. -Digamos que eu não tenha muita prática em limpar coisas sem me molhar toda. Quando eu arrumo a minha casa, normalmente fico ensopada de água.
-Infelizmente, não. -Ele falou rindo pegando algumas bebidas no congelador. -Eu preciso que você fique de uniforme e só tem esse do seu tamanho. -Com certeza se eu ficasse com essa roupa e fosse para a varanda eu ficaria resfriada, levando em conta que ele mora em um sítio e estamos cercados por árvores. O vento é frio à noite.
-Mas, Bernardo...
-Sem reclamar, querida. -Ele sorriu vitorioso para mim, curtindo com a minha cara. Odiava quando ele me chamava de querida, achava menos pior os outros apelidos nada carinhosos. Mas o fato dele usar algo que, na teoria, era para ser carinhoso me dava nojo e arrepios. -Peça desculpas.
O que? Por quê?
Ele arregalou os olhos, esperando.
-Desculpa. -Murmurei entre dentes, coberta de raiva.
-Muito bem, querida. -Ele sorriu. -As comidas já estão chegando, fique atenta ao portão. Assim que chegar pode começar a servir. -Balancei a cabeça e ele foi para a varanda.
Alguns convidados já haviam chegados, mas ainda estava cedo para a festa começar de verdade. Ele ligou o som, mais alto do que o necessário e eu senti um aperto no peito... O Cae odeia barulho alto.
Livrei meus pensamentos do meu irmão e fui dar um jeito na minha roupa molhada. A verdade é que eu queria que ele me liberasse daquele maldito uniforme, porque eu não queria que meus colegas de turma me vissem daquele jeito. Eu sei que não há vergonha nenhuma em trabalhar de uniforme, mas sei lá, sou uma adolescente no ensino médio e não queria que me vissem assim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
De repente tudo mudou
RomansAnne é uma menina inteligente, amiga e dedicada que dá duro para conseguir ajudar os pais a cuidar do seu irmão mais novo. Ela, com a sua família, mora na casa da família Soares, onde vive Bernardo, um garoto mimado, sem noção e que não dá valor as...