De repente tudo mudou

58.

Não sei explicar muito bem porque, mas aquele elogio do Bernardo mexeu comigo. Além de não saber explicar o porquê, também não sabia explicar como mexeu comigo...

O Bernardo continuava com um sorriso no rosto. Ele sabe que consegue despertar um mix de sentimentos em mim quando é simpático e diferente do que eu estou acostumada. Sei que ele não faz por mal, mas não sei como me sinto em relação a isso tudo. É difícil pensar em gostar (como amiga, obviamente) de uma pessoa que me causou tanto mal, mesmo que essa pessoa tenha perdido a memória e não lembre de merda nenhuma do passado.

Forcei um sorriso e fui embora.

-Boa tarde. -Cumprimentei a todos dentro do carro.

-Você almoçou, né? -Foi a resposta da minha melhor amiga, ou melhor, a pergunta.

-Liara! -A Adriana tentou a repreender, mas estava rindo.

O Júlio deu a partida no carro.

-Apenas verdades, mamãe! Não vai dar para comer na festa da Ana Júlia! A sua irmã surtou achando que todo mundo é obrigado a seguir o estilo cem por cento natureba dela!

-Você não é obrigada a seguir, filha. Mas se ela prega isso, nada mais justo que fazer uma festa seguindo seus princípios. -Sua mãe respondeu.

-É pecado eu querer um brigadeiro cheio de leite condensado? -A Adriana não conseguia para de rir da filha.

-A gente faz brigadeiro quando voltar para casa. -Ela respondeu.

-Estou levando uns biscoitos, qualquer coisa só pedir que eu dou!

-Com certeza eu vou querer! -O Júlio respondeu olhando a filha pelo retrovisor interno.

-Júlio!

-O que é? A sua irmã pode fazer uma festa só com comida saudável e eu posso querer comer um biscoitinho cheio de gordura na festa.

A Adriana balançou a cabeça negativamente, sabendo que nada que dissesse mudaria a opinião dos dois. Eu tinha a esperança da comida não ser tão ruim. Quem sabe as pessoas não se interessam e mudam um pouco a alimentação tão baseada em trigo e gordura?

Fomos jogando conversa fora o caminho inteiro. É sempre muito legal sair com a família da Liara, nos damos muito bem. Não demorou muito para chegarmos no salão. O Júlio estacionou o mais próximo possível e saímos do carro.

O tema escolhido pela Ana Julia foi unicórnios e os decoradores capricharam nos enfeites. Todo o salão tinha ornamentos lindos que variavam entre lilás, rosinha, azul e amarelo. A Ana Júlia estava com um vestido lilás incrível e cumprimentava todos os convidados com um abraço e um beijinho. Após falarmos com ela e com seus pais, fomos sentar em uma mesa. Os garçons já serviam as comidas e assim que um parou na nossa mesa, peguei um para experimentar.

-Ah, não é ruim, Liara. -Ofereci um pedaço do meu salgadinho assado de couve para ela.

Ela fez uma cara feia, mas acabou comendo.

-É... Dá para o gasto. -A Liara olhou para um menino, nada discreta e olhou para a mãe. -Aquele é o menino que a tia Vânia adotou?