No dia seguinte, tive o desprazer de chegar na escola junto com o mala, o que me rendeu um péssimo começo de dia.
-Bom dia, ralé. -Ele me "cumprimentou".
Revirei os olhos. Como pode tamanha idiotice caber em uma pessoa só? Se bem que... Ele divide toda essa idiotice com o resto dos seus amigos.
-Nem quando eu sou educado você valoriza? -Ele caminhou ao meu lado enquanto íamos para sala. Algumas pessoas nos olharam, mas não falaram nada. Sabiam que ele estava me insultando, assim como faz com todo mundo que ele, ou seus amigos, não acham interessante o bastante para serem de seu grupo ou ficarem.
-Você não está sendo educado, Bernardo, só está me insultando com o que era para ser um cumprimento. -Fui seca.
-Olhando por esse lado... -Ele fez uma cara de pensativo. Seria pedir muito os deuses mandarem alguém para tirar esse mala do meu lado?
-Oi, meu amorzinho. -Uma menina ruiva, Lavínia, pulou em seu pescoço e me olhou feio.
Obrigada, universo! Mas, sem querer abusar, não poderia ter sido alguém mais legal?
A Lavínia é uma das muitas ficantes do Bernardo e longe de mim julgar suas atitudes. Não acho legal as pessoas falarem que essas meninas são "piranhas" "periguetes" ou coisas piores. Cada uma/um tem liberdade para fazer o que quiser da sua própria vida e, ainda assim, ser respeitada por isso. Acho que a humanidade poderia estar muito melhor se parássemos de julgar a vida dos outros e tomássemos unicamente conta da nossa.
Quer beijar? Beija.
Quer transar? Transe.
Quer cair fora? Caia.
Pegou vários/várias em uma festa? Está tudo bem.
Pegou um/uma só em uma festa? Está tudo bem.
Não pegou ninguém? Tudo bem também.
Cada um sabe o que faz da própria vida e espero que um dia as pessoas entendam isso.
-O que está fazendo com essa desqualificada? -Ela deu vários beijos babados na bochecha do Bernardo.
-Indo para a sala, Lavínia. -Ele foi meio seco, ignorando seu gesto. Não sei o que ele tinha de tão especial que fazia muitas meninas quererem namorá-lo. Talvez fosse seu dinheiro ou, quem sabe, o fato de conseguir se destacar no ensino médio. Mas o que eles não percebiam era que diferente dos filmes estadunidenses, eles não eram a sensação da escola. Óbvio que alguns tinham medo deles e outros rastejavam aos seus pés, mas tem uma parcela bem significante com bom senso que cagam e andam para eles. Não posso me incluir nessa parcela, já que sinto desprezo (outra parcela bem significante), pois eles não perdem uma oportunidade de encher o meu saco e eu não posso fazer nada a respeito.
Ser bolsista em uma escola de ricos com um diretor facilmente comprável não é a coisa mais fácil do mundo. Eu não posso perder essa bolsa e já sobrevivi dois longos anos, só falta mais um para eu me ver livre desses pés no saco e vou fazer o impossível para não surtar antes disso.
-Estamos combinando de matar aula. -Ela segurou a mão dele e eu aproveitei que a ideia foi super tentadora para ele apressei meu passo. Os dois não notaram e eu, finalmente, fiquei livre. Cheguei na sala a passos largos e meus amigos me perguntaram o que tinha acontecido quando me viram ofegante e eu contei.
-Esses caras estão por todos os lados? -O Caíque indagou.
Com o tempo você percebe que sim, eles estão em todos os lados. Nunca parei para contar quantas pessoas faziam parte do bondinho dos malas, mas eram pessoas suficientes para ser encontradas em todos os lugares da escola. Não importa aonde vá, a chance é de 99% de encontrar alguém para atazanar o seu juízo.
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De repente tudo mudou
RomanceAnne é uma menina inteligente, amiga e dedicada que dá duro para conseguir ajudar os pais a cuidar do seu irmão mais novo. Ela, com a sua família, mora na casa da família Soares, onde vive Bernardo, um garoto mimado, sem noção e que não dá valor as...