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Ficou meio difícil de passar o sábado estudando com a grande notícia do sábado, então eu desisti e passei o dia com elas e o Bernardo. O meu pai foi para casa ficar com o Cae. A tarde foi super produtiva e rolou muitas ideias, desde fazer um restaurante de frutos do mar em frente a praia à fazer um bistrô no centro da cidade. Nada foi definido, pois a Flávia falou que faria um estudo da área para descobrir como está o mercado. Admito que viajei um pouco nessa parte. Eu e o Bernardo contribuímos com ideias para deixar o estabelecimento mais acessível como colocando uma área com baixa luminosidade e pouco som, bons espaços entre as mesas e cardápio em braile. Fiquei surpresa com os conhecimentos dele sobre acessibilidade, não sabia que esse era um novo interesse dele.

Quando deu umas seis horas, as nossas mães decidiram encerrar o primeiro dia de trabalho delas. A minha mãe foi para casa e a Flávia para o seu quarto, assim que nos despedimos delas, fomos para a sala.

-Sua mãe está feliz, né? -Sentei no sofá e o Bernardo sentou em seguida.

-Graças a sua família. -Ele sorriu para mim.

-Não só a minha família! Graças a você também. Você está fazendo muito bem para a sua mãe.

-Mas não é só ela que está radiante de alegria, todos vocês estão.

-Essa oportunidade vai ser incrível para nossa família. O salário vai aumentar, vamos conseguir melhorar os tratamentos do Cae e vai até sobrar um dinheirinho para gente sair mais. -Sorri imaginando os passeios que eu e minha família poderíamos fazer.

-É muito lindo a forma como você cuida do seu irmão.

-O Cae é a razão da minha existência, eu morro e mato por aquele menino.

-Eu sei. -Ele sorriu. -Só espero que você também faça coisas por você e não passe o resto da sua vida apenas indo para parquinhos e ficando em piscina com uma criança... É deprimente. -Ele falou zoando.

-Olha quem quer falar da minha vida social! O menino que fica enfiado dentro de casa e só recebe gente babaca em casa. Isso sim é deprimente. Além do mais, eu tenho a Liara, o Caíque e o Diego.

-Diego é o seu namorado? Aquele menino que te pegou aqui semana passada?

O Bernardo se mexeu desconfortável no sofá quando perguntou do Diego. Será que... Não! Isso com certeza é coisa da minha cabeça. Ou será que... É ciúmes? Ai, meu deus! Eu não quero nem cogitar essa possibilidade!

-Eu não tenho tempo para namorar. O Diego foi adotado recentemente pela tia da Liara, os pais dele morreram em um acidente.

-Que situação chata. Se quiser você pode chamar os seus amigos para curtir um dia na piscina e quem sabe, se tiver tudo bem para você, eu posso conhecê-los.

Concordei com a cabeça.

-Eles devem ser pessoas bem legais e eu to precisando de gente legal na minha vida.

-E a Júlia e o Rennan? Por que não os convida?

-Acha que eles aceitariam?

-Oferece uma boa comida que eles vêm! -Ele riu. -Sim, eu acho que eles viriam. Você falou que vocês estão se dando super bem.

-A gente podia fazer um churrasco aqui na piscina amanhã se todo mundo topar, o que acha? -Ele falou absurdamente empolgado e eu não cogitei a ideia antes de recusar. Eu precisava estudar, já que hoje passei o dia inteiro dando atenção a assuntos que nada tinham a ver com a escola.

-Eu tenho que... -Quando eu comecei a falar, pude perceber sua expressão mudar bruscamente, antes ele parecia empolgado para encarar qualquer coisa e no segundo seguinte parecia ter levado um banho de água fria. Senti-me mal por ser a causadora de sua tristeza momentânea e não conseguir ter outra atitude. -Um fim de semana de folga não mata ninguém.

-Eu vou mandar mensagem para os dois e aproveitar pedir nossa pizza! A conversa da tarde me deixou com muita fome.

Concordei.

Peguei meu celular no bolso e mandei mensagem no grupo do Whatsapp que eu tinha com meus amigos.

"O Bernardo chamou a gente para um churrasco amanhã... Vocês estão livres?"

"Desmarco qualquer compromisso para admirar o que uma pequena alteração no cérebro é capaz de fazer com a personalidade de uma pessoa" -A Liara respondeu e ela, como sempre, com sua dose de ironia.

"Estou dentro" -O Caique respondeu

"Eu tbm... O que precisa levar?" -O Diego concordou.

-Precisa trazer alguma coisa? -Olhei para o Bernardo.

-Eles vêm? -Assenti e ele sorriu empolgado. -Tem tudo aqui.

"Nada"

Guardei o celular no bolso.

-E a Júlia e o Rennan?

-Toparam. -Ele sorriu de novo.

Como a Liara falou, é muito interessante ver como o nosso cérebro é capaz de fazer coisas mirabolantes. Eu nunca imaginaria que o Bernardo, o menino que eu conheço a minha vida inteira, é dono de um sorriso tão lindo e encantador.

De repente tudo mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora