87.

591 35 4
                                    


O clima pesou tanto que não fazer nada parecia fazer o tempo não passar. Então cada um decidiu limpar alguma coisa. A Liara foi lavar a louça com o Caíque, eu decidi limpar a churrasqueira, o Rennan juntou o lixo e o Bernardo ficou tirando as folhas da árvore que caíram em cima da espreguiçadeira.

-Desculpa pela cena, pessoal. -O Diego falou, algum tempo depois. 

A Júlia e ele voltaram para perto limpando os olhos, ambos. Eu não sei muita coisa da vida da Júlia, mas parece que ela também perdeu alguém bem importante. 

-Não precisa pedir desculpa, Die. -A Liara lhe deu um abraço. -Amigos são para essas coisas também. 

Voltamos para a rodinha e ficamos conversando por mais um bom tempo, dessa vez, sem bebida. Estava tão legal a nossa noite que não vimos a hora passar e quando fomos nos dar conta já eram nove da noite. O povo decidiu que era hora de ir embora, já que amanhã todos nós teríamos aula. 

-Gostei muito de hoje. -O Bernardo falou enquanto caminhávamos para nossas casas após nos despedirmos dos nossos amigos. -Espero que possamos repetir.

-Gostei muito também. Tenho certeza que se você chamar todo mundo vai topar. 

-Seus amigos, o Caíque e a Liara, eles tem alguma coisa?

-Se tudo der certo, terão. -Falei sorrindo. 

-Eu vi você olhando para eles mais cedo... -Ele travou depois de falar essa frase. Não sabia onde ele queria chegar, mas nunca sabemos onde uma pessoa bêbada, ou levemente alterada, quer chegar. -Você já se apaixonou?

Arregalei os olhos com a pergunta. Eu não estava esperando por isso.

Paramos no ponto onde nossos caminhos passariam a ser diferentes.

-Não.

-Eu já me apaixonei?

Refleti brevemente sobre todos os relacionamentos do Bernardo que duraram mais de um mês. A Lavínia é o mais próximo de um relacionamento que o Bernardo teve.

-Talvez você gostasse da Lavínia. 

-É... Eu acho que não.

-Tudo bem, você vai ter muito tempo ainda para se apaixonar.

-Talvez eu não precise de tanto tempo assim. -Ele disse olhando no fundo dos meus olhos. 

Fiquei arrepiada no segundo seguinte que o Bernardo terminou a frase, mas, com certeza, foi porque passou uma rajada de vento gelada. 

-Até amanhã, Bernardo.

-Até, Anne.

Foi o vento gelado, né?

É claro que foi!

O que mais seria?

De repente tudo mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora