Parece que quando a gente quer que as aulas demorem a passar, elas voam e o contrário também é verdadeiro. Hoje foi só eu piscar que o sinal da última aula tocou, anunciando que eu poderia ir para minha casinha. Eu ia amar a ideia se eu não tivesse que ir ver o Bernardo antes disso. Mas vou tentar não reclamar disso, pelo menos não muito...
-Hoje sou eu quem preciso ir embora rápido para conversar com um mala. -Falei para os meus amigos apressando o passo para sair da escola.
Eu não tinha necessariamente que ir embora rápido, mas depois dessa conversa eu ainda queria ter um bom tempo para poder estudar, então quanto mais rápido fosse, mais cedo iria embora.
-Tenha um bom dia. -A Liara respondeu.
A caminhada para a escola do meu irmão levou o tempo de sempre, não quis correr pelas ruas em baixo do sol escaldante que sempre se faz presente no Rio de Janeiro. Chegando lá, a professora estava de novo com o meu irmão.
-Boa tarde. -Cumprimentei a ela e o meu irmão.
-Boa tarde, Anne. -Ela sorriu. -Eu só vim aqui para lhe dizer que hoje ele ficou bem melhor.
Respirei aliviada.
-Ah, que bom.
-Tenham um bom dia... Até amanhã, Cae.
Eu e o meu irmão seguimos o caminho pelas ruas até em casa.
-Mãe? -A chamei fechando a porta atrás de mim. A Flávia disse que liberaria minha mãe para ela estar em casa quando eu chegasse.
-Oi, filha. -Ela apareceu na sala.
O cheio de comida que vinha da cozinha estava delicioso e minha barriga roncou de fome.
-Vai trocar de roupa e vem comer antes de ir ver o Bernardo. -Assenti e fui fazer o que ela disse, mas antes tomaria um banho.
Coloquei uma roupa confortável e fui para a cozinha. Meu irmão estava sentado em uma cadeira, brincando com um trenzinho. Peguei um outro trenzinho e comecei a brincar com ele. Quem vê assim pensa que foi super fácil fazer o meu irmão compartilhar os brinquedos, mas, no começo, ele sequer deixava a gente olhar. Com o tempo, com a terapia, ele foi sendo mais aberto as pessoas entrarem em suas brincadeiras.
-Vamos fazer uma pausa? O maquinista precisa comer. -Minha mãe colocou um prato de comida na frente do Cae, que colocou o trem parado ao lado do prato.
Coloquei minha comida e antes que eu terminasse de comer, recebi uma ligação da Flávia.
-Espero que não tenha desistido de vir aqui. -Ela falou assim que eu atendi.
-Claro que não! Eu só estou comendo alguma coisa antes e já vou.
-Tudo bem. Beijo.
-Beijo. -Desliguei a chamada e coloquei o telefone no bolso do short.
-Mãe, você sente que a Flávia está meio desesperada para me fazer ser amiga do Bernardo? -Minha mãe me olhou e refletiu por um momento.
-Eu acho que ela tem esperança de se conseguir fazer o Bernardo ver o quanto você é legal, ele não vai voltar ser quem era, mesmo que recupere a memória.
-Você não acha que, quando ele recuperar a memória, ele pode ficar com raiva da mãe por isso?
-Eu não sei.
-Você acha que eu devo tentar construir essa relação que ela quer forçar? -Ela coçou a cabeça e sentou ao meu lado.
-Como amiga da Flávia, sim. Como sua mãe, não. Assim como você, eu não consigo esquecer tudo que ele te fez, mas eu vejo a Flávia enfrentando essa barra sozinha que pensar que você pode ajudá-la deixa as coisas um pouco mais leve.
-Eu fico com o mesmo dilema... O Hugo é tão merda por não ter voltado para casa nesse momento. -Levei a última garfada a boca.
-Realmente filha, mas aquele cara nunca prestou.
-Bom... Eu vou lá. -Levantei da cadeira e coloquei meu prato na pia.
-Saiba que a Flávia vai entender se você não quiser fazer isso. -Assenti.
Dei um beijo no topo da cabeça do Cae e saí de casa em direção a casa do Bernardo.
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De repente tudo mudou
RomanceAnne é uma menina inteligente, amiga e dedicada que dá duro para conseguir ajudar os pais a cuidar do seu irmão mais novo. Ela, com a sua família, mora na casa da família Soares, onde vive Bernardo, um garoto mimado, sem noção e que não dá valor as...