De repente tudo mudou

82.

Remexi desconfortável na cadeira e acho que meu gesto o deixou meio sem graça, pois ele desviou o olhar.

-Eu penso muito em você e fico pensando em mil formas de esbarrar com você sem querer e de chamar a sua atenção.

-Como o notebook. -Olhei para o aparelho.

-Não, o notebook não. Isso é o mínimo que eu poderia fazer... Apesar de eu pensar em mil formas de te encontrar, eu não sinto que deveria.

-Qual foi a forma mais criativa que você pensou?

-Cair na piscina. -Ri com a sua resposta.

A imagem do Bernardo se jogando na piscina com gesso no pé para chamar a minha atenção me fez cair na gargalhada.

-Sabe, eu queria acabar de ver Harry Potter.

-Como você consegue ser tão certa do que quer? Como não me culpa pelo que eu fiz? Como consegue olhar na minha cara? -A dor em seus olhos era quase palpável. 

-Você já se culpa demais por nós dois.

-É sério, Anne. Como você consegue? Digo, como consegue não me culpar? 

Dei de ombros. 

Eu simplesmente não tinha uma resposta para isso. Eu não posso dizer que não o culpo porque ele não lembra de ter feito, afinal que bate esquece, quem apanha não (mesmo que no caso dele, ele tenha esquecido completamente, como se realmente nunca tivesse acontecido). Sei lá, mas eu consigo ver verdade quando ele pede desculpa e conversa comigo, não parece a mesma pessoa. 

-Eu não sei. -Balancei a cabeça negativamente. -Eu acho que eu o culpo pelo o que aconteceu, afinal você foi realmente o culpado, mas o Bernardo que eu vejo aqui e agora não parece ser capaz de repetir os erros do Bernardo do passado. O que você fez vai ficar marcado para sempre e vai doer todas as vezes que eu lembrar disso, mas se você mudou eu não posso ficar trazendo isso a tona toda hora. O que importa é que você não vai fazer mais aquelas coisas e, se eu fui capaz de lidar com quem você era, consigo lidar com quem você é. Você não está me pedindo em casamento nem querendo ser meu melhor amigo, você só quer uma pessoa para conversar e passar o tempo, eu posso ser isso para você. Eu consigo ser a pessoa que te faz companhia, vê filme e te escuta, isso não me machuca nem me traz insegurança. 

Ele assentiu com um olhar distante. 

-Olha... -Esperei ele me olhar nos olhos para continuar. -Você não pode viver carregando a culpa pelo seu passado, porque essa culpa pode te... -Respirei fundo. -Você precisa olhar para frente, pensar no futuro. O que vai fazer quando sair de casa? Vai voltar para seus amigos antigos? Vai criar novos laços? Embarcar em um projeto social? Estudar para tentar não perder o ano? Pense no futuro e deixa o passado para trás. Você já teve tempo de olhar a lista com os nomes? -Ele assentiu. -E como foi?

-Algumas pessoas foram bem simpáticas, já outras... Até mantive contato com dois deles, o Rennan e a Júlia. 

-Eles são muito legais. -Eu não sou amiga deles, mas já os vi pela escola, parecem pessoas maneiras.

-São sim. 

-Viu?! Você consegue fazer amigos, não é uma pessoa tão deplorável quanto pensa. -Ele deu uma risada. -Será que a gente pode tentar manter uma relação amigável, em que você não vai morrer de vontade de chorar de culpa toda vez que me olhar?

Ele sorriu de lado.

-Eu posso tentar. -Ele parecia mais alegre.

-Eu que deveria tentar, você tem é que conseguir! -Estendi a mão para ele. -Amigos?

-Amigos. -Ele apertou a minha mão.

E assim, deu-se início a uma amizade entre a menina humilhada a vida inteira e o menino não mais o mais babaca da escola. 

Oii, boa noite gente!!!

E ai, o que vocês estão achando??? Estão gostando da amizade da Anne como Bê? 

Estão gostando do novo Bernardo?

O que vocês esperam daqui para frente? 

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Até a próxima, beijinhos