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Não tinha mesmo como negar o pedido da Flávia. Tive muita dificuldade para pregar os olhos à noite só pensando em tudo que ela está tendo que encarar sem ajuda da própria família. Eu e meus pais somos a coisa mais próxima de família que ela tem e não podemos deixá-la na mão, assim como ela nunca nos deixou.

A manhã na escola foi horrível e eu precisava lutar para não pregar os olhos em cada aula que se iniciava. A Liara e o Caíque ajudaram nessa missão, me cutucando e balançando minha cadeira toda hora que meus olhos se fechavam. 

-Anne, eu sei que a filosofia não agrada muita gente, mas será que pode tentar não dormir na minha aula? -Uma hora alguém tinha que me pegar dormindo, afinal se eu fiquei cinco muitos de olhos abertos foi muito, mesmo com a ajuda dos meus amigos.

-Desculpa, professor... Eu tenho dormido mal. 

-Talvez devesse tentar largar o telefone à noite, para variar. -Ninguém gostava desse professor, ele era arrogante e se acha a pessoa mais inteligente do mundo.

-Prof, não sei se lembra, mas a Anne mora do lado do Bernardo e ela está ajudando a cuidar dele. -A Liara me defendeu, como sempre.

-Até parece que o Bernardo iria suportar que essa menina fizesse algo por ele! -A Kátia falou. -A Liara só quer encobrir porque as duas ficaram conversando a madrugada inteira sobre a vidinha de merda que têm.

-Pelo menos eu tenho uma vida. -A Liara rebateu. 

-Chega! -O professor elevou a voz. -Anne, se não vai ficar acordada na minha aula eu quero que saia. 

Gelei. Em toda a minha vida nunca havia sido expulsa de uma sala de aula e não achei que teria essa história para contar. De novo o Bernardo empacando a minha vida, mas dessa vez ele não tem culpa.

Os "amigos" do Bernardo riram baixinho e eu juntei meu material. Vi, de rabo de olho, que a Liara também juntou o dela... Essa menina adora desafiar uma autoridade. 

Levantei da cadeira, morrendo de vergonha e caminhei para a saída. A Liara fez o mesmo.

-Onde pensa que vai, mocinha? -Ele perguntou para minha amiga.

-Eu vou embora, me recuso a ficar na aula de uma pessoa sem empatia. 

-Vou também! Afinal estou cuidando do Giovanni e preciso dormir. -O Caíque fez o mesmo que a Liara e deixei de ficar com vergonha. 

-Vocês são sem noção! -Falei enquanto caminhávamos para a sala do diretor, afinal alguém nos acharia nos corredores e iriam querer saber o porque de não estarmos na aula. Eu sei o que vou dizer e também sei o que a Liara vai dizer, mas não tenho ideia de qual história o Caíque vai contar. 

Bati na porta do diretor e ele nos deu permissão para entrar.

-Anne? -Ele arregalou os olhos, curioso. Todo mundo sabe que eu não sou o tipo de pessoa que é mandada para fora de sala. -Caíque e Liara? Foram pegos conversando? -Ele se ajeitou na cadeira.

-Dormindo. -A vergonha voltou e não consegui olhar em seus olhos para falar. 

-Eu não esperava isso de você, Anne. -Ele disse balançando a cabeça negativamente. -Vou precisar te dar uma advertência.

-Oi? -A Liara se irritou, claro que ela iria sair em minha defesa frente a esse diretor que adora ferrar os bolsistas. 

-Vai me dar uma advertência também ou é um presente exclusivo?


De repente tudo mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora