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Sentei em uma cadeira ao lado da Júlia. Todos queriam saber o conteúdo da minha conversa com o Bernardo, mas ninguém teve a coragem de perguntar, o que foi de muito bom senso. Um silêncio constrangedor reinou ali, até que a Júlia pensou em qualquer coisa para dizer.

-Se um dia eu casar, não será de branco. -Dei uma risada. Isso é tão a cara dela. 

-Por que "se um dia"? -O Rennan perguntou. -Você tem muito a cara de uma pessoa que vai casar! Com direito a igreja e tudo. 

Ela deu de ombros.

-Não sei nem se vou namorar. -Eu queria jogar uma indireta para o Diego nesse momento, mas eu estava aérea demais com o que tinha acabado de acontecer que era como se eu tivesse apenas de espectadora na conversa. 

-Quem sabe o garoto que você gosta não deixa de ser um completo lesado e vocês namoram! -O Rennan tirou a ideia da minha cabeça. Claro que ele foi um pouquinho mais arrogante do que eu seria, mas transmitiu a ideia.

-Alguém gosta da Júlia? -O Diego perguntou. Tão lerdo, tadinho!

-Por que? Essa ideia é tão repugnante para você? -A Júlia o encarou.

Será uma longa noite...

O Rennan me olhou em  busca de socorro, mas eu não sabia o que dizer. 

-Claro que não! É só que... 

O Diego parou de falar quando o Bernardo puxou uma cadeira para se sentar ao lado dele. Dessa vez não teve uma pessoa para quebrar o clima estranho que se instaurou. A Júlia tinha ficado bolada com o Diego, que ficou com ciúmes do que o Rennan disse. Por que as pessoas têm que ser tão confusas? Por que tudo tem que ser tão confuso?

-Eu vou ao banheiro. -A voz da Júlia estava embargada. 

-Eu vou também. -Falei em seguida.

Ela levantou e sorriu para mim. Eu a acompanhei até o banheiro.

-Como alguém pode ser tão lerdo, Anne? -Ela se escorou na pia e passou a mão na nuca. -Ele me contou que vocês ficaram no primeiro encontro. -Ela me olhou. -Isso faz eu achar que ele não gosta de mim. 

-Ou isso só mostra o quanto ele gosta de você. -Cheguei perto dela e coloquei minhas mãos em seus ombros. -Quando a gente ficou foi por ficar, a gente mal se conhecia. Ele parece querer fazer diferente com você. Quer esperar o momento certo.

Ela me olhou.

-E quando vai ser isso? Quando eu tiver 90 anos? -Ela deitou a cabeça no meu ombro, chateada.

-Você sabe que eu e a Liara defendemos que você é dona dos seus sentimentos e pode ser a pessoa a tomar a iniciativa...

-Mas eu gostaria que pelo menos uma vez ele tomasse iniciativa para alguma coisa em relação a mim. -Ela levantou a cabeça e se virou para o espelho. -Fui eu quem foi atrás dele primeiro, eu quem criei o grupo com todo mundo e o chamou no privado para conversar. Sempre eu. Não quero tomar a iniciativa mais uma vez. 

Bom... Ela tem um ótimo ponto. Mas eu consigo ver que o Diego é louquinho por ela, só não ver quem não quer! Eu não entendo porque ele está agindo dessa forma, se ele está com receio de se entregar a essa relação. Mas vou lembrar de tentar conversar com ele sobre isso. Faz tempo que não temos tempo para conversar, a sós. 

-Bom, vamos voltar. -A Júlia respirou fundo. -A cerimônia já deve começar. 

Assenti e nós duas voltamos para a mesa. 

-Mais tarde você vai contar o que você e o Bernardo conversaram? -Ela perguntou enquanto caminhávamos.

-Se eu ficar bêbada o suficiente, eu até grito. -Ela riu.  

No momento em que sentamos, a cerimônia começou. 

De repente tudo mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora