A porta estava aberta e a Flávia sentada no sofá da sala.-Com licença. -Falei chamando sua atenção. Ela levantou do sofá em um pulo e veio me receber. Seu rosto estava inchado e os olhos vermelhos.
-Oi, meu amor! Que bom que chegou. -Sua voz saiu fanha e eu não sabia o que dizer para ajudar. -Ele ficou muito feliz quando soube que vinha.
-Eu pensei nesse encontro o dia inteiro. -Forcei um sorriso.
Foi a coisa mais simpática que eu consegui dizer e acho que para a Flávia foi o suficiente, pois ela forçou um sorriso.
-Pode ir lá, você sabe o caminho. -Ela me deu passagem e eu fui.
Subi a escada e caminhei em direção a porta do quarto do Bernardo. Respirei fundo antes de bater.
-Pode entrar, mãe. -Ele gritou e eu abri a porta, hesitante. -Anne? -Ele parecia surpreso ao me ver. -Minha mãe disse que viria, mas achei que inventaria alguma desculpa em cima da hora.
-E por que eu faria isso? -Achei que ele se sentiria mais confortável com a porta fechada, por isso a fechei ao entrar.
-Eu a ouvi falando com você ontem... Sobre os meus amigos. -Ele parecia triste.
-Não são todos, o Giovanni está doido para te ver. -Falei o consolando.
-Meu melhor amigo, né? -Concordei. -Senta ai. -Ele apontou para uma poltrona e eu obedeci.
Não tinha muito assunto com o Bernardo e por um tempo se instaurou um silêncio meio constrangedor.
-Como você está? -Foi a coisa mais estúpida e, ao mesmo tempo, brilhante que meu cérebro conseguiu pensar em dizer.
-Fisicamente, eu estou isso ai que você está vendo. -Ele falou com humor apontando para o próprio corpo. -Já mentalmente está tudo um caos. A minha mãe, a qual não lembro um momento com ela, está destruída por tudo que está acontecendo. O meu pai... Eu tenho um pai? Eu perguntei, mas ela começou a chorar. A sua mãe é a pessoa que está mais conversando comigo.
-Você pode não lembrar de nada e duvidar de tudo que te falam, mas nunca duvide do amor da Flávia por você. Ela é capaz de mudar o planeta de lugar para te ver feliz. -O Bernardo sorriu e, olha, até que ele tem um sorriso bem bonito. Eu já o vi sorrir? Sorrir de verdade?
-Eu consegui perceber isso por muito motivos e um deles é por você estar aqui. -Franzi o cenho. -Eu estou sem memória, mas não sou burro. Vi o jeito que me olhou, você não gosta de mim, mas mesmo assim está aqui... Sei que é por ela. Se ela conseguiu fazer você vir me ver, ela realmente consegue mudar o planeta de lugar. -Deixei escapar uma risada.
-Quando começa o reabilitação para a memória?
-Amanhã.
-Está ansioso?
-Muito. Você tem ideia de quantas pessoas me ligaram para me desejar melhoras e eu não tenho ideia de quem são? É horrível.
-Espero que recupere a sua memória.
-A médica disse que tem uma grande chance de eu nunca recuperá-la completamente, mas acha que as chances de eu recuperar uma parte são boas.
-Se tem uma coisa que o Bernardo que eu conheço é, é determinado. -Eu tinha mesmo acabado de elogiar o antigo Bernardo? Aquele que afogou o meu notebook novinho e me humilhou na frente do menino que fiquei na balada? Pelo visto, foi isso mesmo que aconteceu.
-Sabe o que eu não entendo? -O olhei curiosa. -Não menosprezando a sua mãe, de forma alguma, mas por que ninguém da minha família veio dar apoio pessoalmente para nós. Várias pessoas me ligaram, mas ninguém se dispôs a vir aqui.
Não que eu vá falar isso para ele, mas a Flávia, que é filha única, brigou com os pais quando preferiu manter o relacionamento tóxico com o Hugo e eles não se falam há alguns anos. Os primos dela meio que não gostam que os filhos fiquem perto do Bernardo e por isso não devem ter vindo. A família do Hugo eu não sei muito quem são, mas acho que moram no Sul, bem longe daqui.
-Não somos muito próximos, não sei da sua família. -Fui o mais convincente que consegui ser e parece que ele acreditou. Se a memória dele vai voltar, não quero que seja culpa minha quando ele descobri que metade do mundo não gosta dele e a outra metade que ele acha que gosta dele, não se importa nem um pouco com seu estado de saúde.
-Sabe, eu quero recuperar minha memória, mas algo me diz que eu não vou gostar do que vou encontrar pelo caminho. -Ele encarou o teto. -Você acha que por eu ter esquecido tudo da minha vida eu estou diferente?
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De repente tudo mudou
RomanceAnne é uma menina inteligente, amiga e dedicada que dá duro para conseguir ajudar os pais a cuidar do seu irmão mais novo. Ela, com a sua família, mora na casa da família Soares, onde vive Bernardo, um garoto mimado, sem noção e que não dá valor as...