18.

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Corri até lá, esperando que desse tempo de salvar o computador. O tirei rápido da mochila, mas assim como o resto, estava tudo molhado. Olhei ao redor procurando o culpado ou alguém que pudesse ter visto, mas não tinha ninguém ali, nem a Vanessa.

-Merda. -Falei para mim mesma caindo no choro.

A Vanessa apareceu e veio correndo até mim.

-O que aconteceu, Anne? -Perguntou preocupada, mas viu o que tinha acontecido antes que eu pudesse falar. -Me dá aqui. -Ela pegou o notebook da minha mão e tirou a bateria. Não sei no que isso adiantaria. -Vou pedir um pouco de arroz na cantina, talvez dê para salvar.

Eu estava tão desesperada que não prestei muita atenção no que ela disse, apenas concordei.

Meu notebook novinho havia sido estragado. Eu levei meses para juntar o dinheiro suficiente para isso e agora que eu tenho algum panaca vem e joga água. Como alguém pode ficar tão feliz com a desgraça do outro? O que eu vou dizer para os meus pais? Como eu vou estudar agora?

Merda...

Quanto tempo faz que eu estou chorando? Pensei limpando minhas lágrimas.

Peguei o celular no meu bolso e olhei a hora.

Quatro horas. Tenho que pegar o Caetano!

Liguei para minha mãe tentando não parecer estar chorando. Ela tem hora de lanche agora, quem sabe consegue pegar o Cae.

-Oi, mãe. -Forcei uma voz feliz, mas mãe é mãe.

-O que foi, filha? Está chorando? -Perguntou preocupada e eu voltei a chorar.

-Olha, mãe, eu estou bem e explico depois, mas consegue pegar o meu irmão? Estou na escola e vou demorar um pouco até conseguir sair daqui.

-Foi o Bernardo? -Ela estava irritada. -Ele te fez alguma coisa?

Bernardo...

Hoje tem treino da equipe de basquete e o Bernardo e seus amigos estão aqui.

- Suas desculpas não me servem de nada, sua nojenta. Como disse ontem, é melhor tomar cuidado comigo agora. Não vou deixar barato. ­

Lembrei das palavras do Bernardo quando pedi desculpa por ter chutado ele...

Será?

Quem mais seria, Anne? Só pode ter sido ele ou algum de seus amigos.

Apesar de eu saber o quão desprezível ele é, não queria acreditar que foi capaz de tamanha baixaria. Sabia que a pessoa que fez aquilo viu que tinha um notebook ali dentro, pois era a primeira coisa amostra ao abrir o zíper e mesmo assim tiveram coragem de jogar água. O Bernardo não seria tão baixo assim, seria? Ele sabe das minhas dificuldades e do quanto eu dei duro para aquilo...

Ah, quem eu quero enganar... É o Bernardo, ele com certeza sabe e faria isso do mesmo jeito.

-Anne! Filha! Eu estou falando com você. -Despertei do meu transe momentâneo.

-Mãe, em casa explico. -Não daria tempo de contar tudo nem queria sem provas. -Pega o Cae e eu lhe prometi um sorvete, não esqueça. -Desliguei antes que ela pudesse contestar.

A Vanessa voltou sem o meu notebook.

-Deixei na cantina no arroz, tem grandes chances de voltar a funcionar. -Sei que ela só disse aquilo para eu me sentir melhor. O notebook tinha sigo afogado, completamente molhado. -Pode deixar aqui e pegar amanhã, ninguém vai mexer.

-Igual achei que ninguém mexeria aqui. -Falei sem pensar e acabei sendo um pouco rude, embora minha voz tenha saído manhosa de tanto chorar. -Desculpa.

A Vanessa sorriu compreensiva.

-Quem teria feito uma coisa dessas?

-Consigo pensar em várias pessoas. -Limpei minhas lágrimas e peguei minha mochila na mesa, molhando mais ainda o chão.

-É, eu também. -Ela falou. -Você tem que falar com o diretor.

-Eu não posso correr risco de perder minha bolsa. Sem o notebook eu ainda tenho chance de passar no vestibular, mas sem essa escola não. -Juntei as alças da mochila e a segurei do lado do corpo.

-Isso não é justo. -Ela protestou.

-Justiça está longe de existir nessa escola, Vanessa. -Despedi-me dela e saí da biblioteca, voltando a chorar.

Para melhorar mais ainda o meu dia, o Bernardo e seus amigos estavam na frente da porta.

-Acho que a mochila de alguém tomou um banho. -O Giovanne falou rindo.

De repente tudo mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora