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A Flávia começou a chorar, mas foi um choro tão sofrido e pesado que ela desmaiou.

-Alguém trás uma cadeira de rodas. -A Doutora Cláudia gritou segurando a Flávia antes que ela batesse a cabeça no chão e eu fiz o meu máximo para ajudar, mas estava em choque em pensar no Bernardo sem lembrar de nada. Nadinha...

Um enfermeiro veio correndo carregando uma cadeira de rodas e a Dra. Cláudia colocou a Flávia sentada com a maior facilidade.

-Ela vai ficar bem? -Perguntei meio desnorteada.

-Vai sim.

A Flávia resmungou e voltou a chorar sem controle.

-Vou levá-la para tomar um calmante, quer vir junto? -Concordei e fomos para outra área do hospital, onde tinha várias pessoas tomando soro e, possivelmente, alguma outra medicação. O enfermeiro parou a Flávia ao lado dessas pessoas e a Cláudia apareceu do nosso lado com um remédio, eu nem tinha visto que ela saiu de perto de nós.

-Senhora Soares, toma esse calmante e daqui a pouco volto para conversarmos. Ele é natural, não possui nenhum componente químico. -A Flávia pegou o comprimido com a mão tremendo e o tomou. -Só uma coisa... Caso essa hipótese seja confirmada, o seu filho com tratamento pode recuperar a memória, pode ser só um episódio passageiro.

-Mas tem uma chance dele não acordar sem memória, não é? -Perguntei querendo dar um pingo de esperança a Flávia, pois ela não parecia pensar mais nessa hipótese.

-É claro. -A médica confirmou. -Ele deve acordar logo da anestesia e vamos saber. Vou só esperar a senhora se acalmar um pouco mais e poderá ver o seu filho.

A Flávia concordou e a Cláudia se afastou de nós.

-O que será do Bernardo se ele perder a memória, Anne.

Várias coisas estavam passando pela minha cabeça naquele momento e admito que algumas não eram muito boas, a maior parte dos meus pensamentos não eram coisas que a Flávia gostaria de ouvir e eu não seria escrota em contar para ela ou para qualquer outra pessoa. Somos livres para pensar, mas a partir do momento que nossos atos e falas realizam alguns dos nossos pensamentos temos culpa por eles.

-Vamos focar na hipótese de que ele irá acordar bem.

-E se não acontecer isso? -Ela insistia em ver o lado negativo da situação, mas eu a entendo... Como ser positiva em uma situação dessas? É bem complicado mesmo.

-E se não acontecer, você sabe que terá condição de pagar o melhor tratamento para o seu filho poder voltar a ser quem era.

-E se ainda assim não funcionar?

-Você ainda assim terá condição de proporcionar uma boa qualidade de vida para o seu filho. -Coloquei a mão em sua perna. -Ele jamais irá deixar de ser o seu filho e um bom tratamento é capaz de muitas coisas, confia em mim. -Várias imagens da evolução do meu irmão vieram a minha mente e eu sorri.

-Vamos pensar positivo. -Ela disse por fim.

-O Bernardo é forte e vai conseguir sair dessa.

-É... Ele vai sim... -Ela sorriu, mas não parecia tão otimista.

Liguei novamente o modo "fala sobre qualquer coisa para ela não pensar" e ficamos conversando até a médica achar que ela estava calma o suficiente para ver o filho.

Ele havia acabado de passar por uma cirurgia e a enfermeira disse que ele tinha levado outros pontos. Estou com medo da reação da Flávia quando olhar para o filho dela em cima de uma cama cheio de hematomas e curativos.

Eu queria que a minha mãe estivesse aqui, ela é muito melhor em dar apoio do que eu.

De repente tudo mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora