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-Bom dia, família. -Falei chegando na sala de jantar para tomar um café da manhã rápido. Não queria demorar mais que o necessário para encontrá-lo.

-Bom dia, filha. Que noite hein! -Minha mãe falou, enquanto me sentava.

-Nem me fale! -Coloquei o café na xícara. -Eu só vou comer e vou dar um pulo lá para ver o Bernardo.

-A Flávia me contou que foi você quem o acalmou. -Olhei para ela. 

-Foi de partir o coração, mãe. -Peguei um pão e passei geleia. -Foi no meio da festa, na frente de todo mundo. -Meu celular vibrou no meu bolso e eu o peguei. Era uma mensagem do Giovanni.

"E ai?"

Mordi o pão. 

"Só estou comendo e já vou para lá... Ele não te respondeu?"

"Respondeu, mas eu quero saber de vc... como ele tá de vdd!"

"Só vou terminar de comer e vou p lá... Mais tarde te dou notícias."

"Blz" 

Coloquei o celular de volta no bolso e bebi em um gole só o café.

-Vou dar um pulo no Bernardo. -Meus pais só assentiram com a cabeça. 

Era uma situação estranha.

Caminhei mais rápido que o normal até a casa dele e a Flávia logo abriu a porta.

-Tentei chamá-lo para tomar café, mas ele não quis sair do quarto. Levei no quarto, mas ele disse que não queria comer. -Ela falou triste me mostrando a bandeja que tinha pão de queijo, uma fatia de bolo e café. -Se você puder tentar. -Ela me ofereceu a bandeija

-Pode deixar. -Peguei a bandeja da mão dela e forcei um sorriso. 

-Vou dar um pulo na sua casa. -Assenti. Ela saiu e eu fui em direção ao quarto do Bernardo.

Bati na porta antes de entrar. 

-Pode entrar. -Ele disse. 

-Oi. -Forcei um sorriso para ele, o qual não foi retribuído. 

-Já falei para minha mãe que eu estou sem fome. -Ele sentou na cama. 

-Eu não vou obrigá-lo a comer. -Coloquei a bandeja na estante de livros dele. -Nada acontece se você pular uma refeição. Posso? -Apontei para a cama e ele assentiu. 

Sentei perto dele, mas não perto demais. 

-Como você está? -Quis saber.

-Estou muito triste. Tirei a noite de ontem para pensar bastante e infelizmente, conclui que esse bebê nunca teve a chance de existir. -Esperei ele continuar. -O jeito que a Lavínia falou... Não tinha tristeza nem amor na voz, era óbvio que se ela não tivesse perdido ela teria tirado. Sem falar que o antigo eu também não ia querer um filho. Mas, sabe, mesmo assim eu me sinto tão mal. 

-Mesmo que esse bebê não tivesse chance nenhuma de vir ao mundo, você tem o direito de ficar triste. 

-Eu não estou triste só por isso. -Ele me olhou. -Eu sinto que eu não posso confiar em ninguém, todos vocês me esconderam isso e sei lá mais o que estão me escondendo. 

-Bernardo, eu não tenho o direito de ficar contando histórias e segredos que não são meus. Eu me importo demais com você e tudo que perguntou sobre você eu te disse, mas não cabia a mim te contar isso ou qualquer outra coisa que envolvam outras pessoas. 

-No fundo, eu entendo, mas não consigo deixar de lado a sensação de que fui enganado. 

-Nós não te enganamos, mas não achávamos que estava pronto para receber essa notícia. Tem coisas que você precisa saber, mas não tudo de uma vez só.

-E quando vocês achavam que eu estaria pronto para saber que eu matei meu filho? -Ele gritou, o que involuntariamente fez com que eu me assustasse. 

De repente tudo mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora