94.

562 34 0
                                    


Fui embora no domingo assim que acordei, pois sentia que a Liara estava querendo isso. Estava estampado na cara dela o quanto ela queria falar logo com o Caique e não ia ser eu quem iria impedir essa linda história de amor acontecer. 

Eu estava na sala tentando brincar com meu irmão de algo que não fosse tremzinho quando alguém bateu na porta.

-Eu já volto, meu amor. -Levantei do chão e fui abrir. -Bernardo? -Perguntei surpresa, pois não tinha marcado nada com ele.

-Oi Anne. 

-Está tudo bem?

-Sim. Eu estava querendo levar o seu irmão para tomar um sorvete agora. -Franzi o cenho. -É que eu já pedi desculpa para todo mundo, menos para ele e acho que a melhor forma de pedir desculpa para uma criança é com um bom doce.

-Você está tentando comprar o meu irmão? -Perguntei rindo. 

-Não! -Ele respondeu em um tom alto e sério. Não entrou na brincadeira. -É só que eu queria tentar me acertar com ele. 

-Cae. -Chamei o meu irmão. Ele estava vindo correndo, mas quando reparou que estava na porta, passou a andar devagar e alerta. Ele se escondeu atrás da minha perna. 

Fiz um sinal com a cabeça, indicando que o Bernardo deveria perguntar para ele.

-Fala ai, amigão. -O Bernardo curvou o corpo, foi o melhor que ele conseguiu fazer com a perna engessada. -Eu queria saber se você topa tomar um sorvete comigo e com a Anne. 

O Cae me olhou com brilho nos olhos. 

Ele não ia com a cara do Bernardo, mas sua raiva não era tão grande quanto o seu amor por sorvete, então não foi tão difícil convencê-lo a sair com o Bernardo. 

-Vai trocar de roupa e pegar um chinelo. -O Cae saiu correndo. Observei enquanto ele se afastava. -Espero que eu não me arrependa disso. -Pensei alto. Merda.

-Eu não vou fazer nada para magoá-lo, Anne. Nunca mais. 

-Não prometa coisas que você não sabe se vai conseguir cumprir. -Falei na defensiva. 

-Eu prometo tentar. -Ele forçou um sorriso e meu coração amoleceu um pouquinho. 

O Cae é uma pessoa difícil de desapegar, mas ele precisa aprender o quanto antes que algumas pessoas vem e vão na nossa vida. Então se ele passar a gostar do Bernardo e ele se mostrar um babaca de novo, estarei ao lado do Cae para ajudá-lo. 

Peguei um chaveiro com um joguinho de imagens que eu uso com o Cae para ele se comunicar.

-Aqui. -Estendi para o Bernardo. -Pergunta se ele prefere o picolé ou se ele prefere o sorvete da praça. 

-É assim que ele se comunica? -O Bernardo perguntou encantado. Assenti. -Isso é incrível. 

-Existem softwares que tem uma gama de possibilidades maior e um dia conseguiremos que ele comece essa terapia. 

-Por que ele ainda não faz? É muito novo?

Fiquei sem jeito com a pergunta.

-A gente não tem dinheiro para pagar uma profissional especializada nisso. -Dei de ombros. -Mas se tudo der certo com o restaurante logo teremos.

O Cae veio até nós saltitando. 

-Qual você prefere, cara? -O Bernardo mostrou as figuras para ele. -O picolé ou o sorvete na praça?

O Cae apontou para a praça

-Ótima escolha. -O Bernardo me devolveu o chaveiro e eu coloquei no bolso. -Vamos?


De repente tudo mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora