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Ficamos estudando na sala de olho no Cae brincando de trenzinho por um bom tempo. Demorou algumas horas até a minha mãe aparecer em casa. Parece que a visita foi bem legal, pois ficaram quase que a tarde toda lá. 

-Eu preciso mesmo ir? Os amigos dele ficaram lá quase que a tarde toda, ele deve estar cansado. -Falei juntando os livros.

-Fui me despedir do Bernardo antes de vir e ele disse que não via a hora deles irem embora para você poder ir lá. -A minha mãe e a Liara esconderam uma risada. 

Sério, isso está ficando estranho demais... Sabe, eu estou fazendo isso pela Flávia, mas se o Bernardo ficar com essa neura de querer me ver sempre e me tratar como amiga eu não vou aguentar. Ele é uma pessoa legal agora e eu sei disso, não estou negando, mas eu não consigo apagar toda dor e sofrimento que ele me causou durante anos! Foram anos da minha vida sendo pisada e humilhada por esse menino! Eu não consigo perdoá-lo! Eu não quero perdoá-lo!

Pensar em ser amiga de uma pessoa que me causou tanta dor não passa pela minha cabeça, mesmo que o Bernardo de agora não lembre o que aconteceu, eu lembro! Lembro todo santo dia! Como eu sempre digo, eu quero que ele fique bem, mas bem longe de mim.

-Ah, não... -Ergui as mãos para o céu. -Eu não mereço isso! -Olhei para as duas irritadas. -Parem de rir! 

-Desculpa, Anne. -A Liara engoliu a risada.

-Vamos logo acabar com isso. -Eu e a Liara saímos da minha casa, após dar "tchau" para minha mãe. -Tente não fazer uma cara muito ruim...

-Por que eu teria uma expressão facial ruim ao ver um Bernardo simpático, com infinitos pontos no rosto e uma perna quebrada? -Olhei para ela revirando os olhos. -É só mais um dia normal. 

Deixei uma risada escapar. 

Bati na porta e não demorou muito a Flávia abriu para nós.

-Boa tarde, Flávia! Não sei se lembra, mas essa é a Liara. -As duas trocaram um sorriso.

-Boa tarde, Sra. Soares.

-Claro que lembro, sempre a vejo chegando para a sua casa. Mas me chame só de Flávia, por favor. -Ela nos deu passagem. -Podem entrar, ele está lá em cima.

Assenti e fui com a Liara até o seu quarto. A porta estava aberta, mas eu não iria simplesmente entrar. Ele estava deitado na cama, como de costume, lendo o último livro de Harry Potter. Ele estava quase no final.

Bom, não é como se ele tivesse muitas outras coisas para fazer para passar o tempo.

-Boa tarde, Bernardo. -Despertei sua atenção. Ele fechou o livro e nos olhou.

-Anne, oi! Entrem. 

Entramos em seu quarto.

-Essa é a Liara...

-Uma das três únicas pessoas que você gosta sem ser da sua família. -Não quis refletir muito sobre o tom de voz que ele usou nessa frase, mas posso dizer que não teve o ânimo de sempre... -Fala ai, Liara! -Ele recuperou o tom animado do Bernardo 2.0

-Oi. -Ela forçou um sorriso, mas parecia estar com dor de barriga. 

O Bernardo riu da cara dela.

Um silêncio mega constrangedor surgiu entre nós e eu sabia que eu teria que quebrá-lo, mas eu não tinha ideia do que falar! Foi então que a coisa mais estúpida saiu da minha boca.

-Como foi conhecer seus amigos? -O Bernardo ficou espantado com a minha repentina curiosidade sobre sua vida social, mas não foi um espantado ruim.

-O Giovanni é legal, mas... Eu namorei mesmo a Lavínia?

Ele não parecia com a expressão de quem soube que queria pai e depois que não seria mais. Acho que ela não teve uma boa oportunidade de lhe contar. 

-Você tinha um gosto bem duvidoso. -A Liara falou, direta e indelicada como sempre.

-Eu não posso discordar. -Ele riu. -Ela é...Sabe, ela... -Ele não sabia que adjetivo usar para descrevê-la... Bom, nenhum de nós sabe como adjetivá-la sem ser rude.

-Má.

-Estava pensando em esnobe e fútil, mas má é um bom adjetivo. 

-Você disse que ele tinha mudado, mas não tinha dito que ele adquiriu um cérebro no processo. -A Liara me olhou e eu fiquei sem saber o que dizer.

O Bernardo riu. 

-Quer dizer que ela fala de mim? -O Bernardo provocou e eu quis me enfiar em um buraco.

De repente tudo mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora