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-Fiz o prato preferido da Anne. -A Flávia falou quando sentamos a mesa. Olhei para a grande travessa de panqueca de espinafre com recheio de frango e minha boca encheu-se d'água. -Eu até faria o prato preferido do Bernardo, mas temperar peixe não é bem a minha praia. 

-Nem sei se peixe ainda é  meu prato preferido. -Ele disse descontraído e a Flávia pegou o prato do Bernardo para lhe servir.

-Quando provar o salmão da minha mãe, vai ter certeza. -Minha mãe sorriu envergonhada. Ela sabe que cozinha bem, mas fica tímida quando falam isso. 

-Não tem como escolher um entre os pratos da Márcia. -A Flávia colocou o prato na sua frente. -Obrigada, mãe.

-Obrigada, gente. -A minha mãe sorriu.

Depois da Flávia se servir, nos revezamos para por comida em nossos pratos. 

O almoço foi muito legal e ficou um ambiente leve, parecíamos uma grande família feliz comemorando. Contudo, passei o almoço inteiro querendo que ele chegasse logo ao fim para o Bernardo contar o que ele tanto andou pensando. Eu estava morrendo de curiosidade. Além da Flávia ter feito  panquecas de frango, ela preparou um bolo de abacaxi para comermos de sobremesa. 

O Cae começou a dar sinais de que queria ir embora.

-Flávia, muito obrigado pelo almoço, estava muito gostoso. -Meu pai levantou da cadeira. -Eu vou para casa com o Caetano, para vocês poderem por a fofoca em dia. 

-Obrigada por ter vindo, Tadeu. -A Flávia sorriu e meu pai foi embora com o meu irmãozinho. 

-Vamos deixar vocês duas também. -O Bernardo falou. -Anne, você poderia me levar até ali fora? Quero ver a varanda. 

Olhei para a Flávia, pois não iria sair carregando o Bernardo por ai se ela achasse uma ideia ruim. Ela sorriu e eu levantei da cadeira. Segurei a cadeira de rodas do Bernardo e fui com ele até a varanda. 

Parei a cadeira de rodas perto de uma rede, onde sentei e ficamos olhando para a grande varanda de sua casa. Esperei que ele falasse alguma coisa. Embora tivesse morrendo de curiosidade, não daria esse gostinho para ele.

-Estou morrendo de vontade de entrar nessa piscina. -Ele estava enrolando e eu sentia isso ou, talvez, ele quisesse que eu demonstrasse minha curiosidade.

Olhei para sua perna engessada. 

-Vai levar um bom tempo para poder tirar esse gesso. 

-É, fiquei sabendo... O médico me disse que devo ficar muito tempo com esse troço ainda... -Ele me olhou. -Espero que assine o meu gesso. 

-Talvez eu assine. -Respondi encarando as pequenas ondas da água da piscina batendo na borda.

O Bernardo ficou em silêncio por um tempo e eu não tinha o que falar também. Fiquei boa parte do jantar imaginando o que ele poderia querer falar. Será que ele lembrou que afogou o meu notebook e iria pedir desculpa? Será que ele recuperou alguma parte da sua memória e quer me ameaçar para que eu nunca fale sobre isso? Não, ele não parecia com o antigo Bernardo.

-Estava pensando em desistir de recuperar a memória. 

De repente tudo mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora