De repente tudo mudou

46.

A tarde de estudos foi puxada. Trocamos nossos conhecimentos nas matérias que tínhamos dificuldade e sobrou pouco tempo para nos divertimos antes do Caíque precisar ir embora. Pelo menos conseguimos estudar tudo que planejamos. 

-Já pensou em dar uma chance para o amor? -Perguntei para a Liara assim que o segundo filme de romance que víamos seguidos, acabou. 

-Para eu dar uma chance para o amor, eu preciso de alguém para amar. -Ela colocou o terceiro filme de romance água com açúcar: "Para sempre".

-Você está de sacanagem com a minha cara, Liara? -Ela me olhou se fazendo de desentendida e eu não pude deixar de rir da sua cara de pau. -Sério? Um filme de perda de memória?

-Esse filme é lindo, nem vem! 

-Você está tirando a atenção da conversa de você! E o Caíque? -Continuamos a conversa enquanto o filme rolava no fundo.

-Ah, ele é legal, mas não sinto nada especial quando estou perto dele... 

-Nadinha de nada? -Ela negou com a cabeça. 

-Mas acho que ele está se interessando por mim, isso é muito chato. 

-Isso pode ser coisa da sua cabeça. 

-Ele fez uma playlist para mim! -Falou incrédula.

-Como assim alguém te faz uma playlist e você não cai de amores? Isso é muito cena de filme contemporâneo! 

-Prefiro filme da década de 2000.

-Prefere que alguém faça uma aposta para transar com você? Tente te deixar mais bonita para os outros te acharem bonita? Quer ficar presa em uma cidade pequena e se apaixonar pelo garoto sarado? Quer fingir ser rica para conquistar o menino gato? Quer fingir um namoro para conquistar sua verdadeira paixão?

-Eu já sou rica e sua última referência é de um filme atual. -Revirei os olhos e joguei uma almofada nela. -Eu só não encontrei alguém ainda...

-Tudo bem, quando encontrar lembra de me contar. -Pisquei para ela.

-Quando começar seu filme clichê de romance não esquece de me contar. -Ela falou zoando.

-Eu tenho que ter muito pouco amor próprio para me permitir ficar com aquele idiota, Liara! -Falei irritada, detestando ela estar cogitando a possibilidade de um dia eu conseguir perdoar o Bernardo por tudo que ele me fez passar. Talvez eu o perdoe, quando ele nascer de novo!

-Eu zoou, mas saiba que eu concordo com você. -Ela falou séria dessa vez. -Não importa que agora ele esteja sendo legal, ele babaca durante muito tempo e não dá para esquecer isso.

-Prometi a mãe dele que iria passar lá todos os dias para ficar um pouco com ele.

-Por que fez isso?

-Cara, a mãe dele é perfeita e ver ela enfrentando essa barra sem o apoio da própria família é devastador. Eu sei que o Bernardo é um babaca, mas qual é? Os avós, tios e primos não apareceram para prestar uma força a Flávia! Não importa o quão idiota ele seja, a Flávia precisa de apoio. Se eu consigo passar por cima do meu orgulho e ódio do Bernardo, os familiares podiam passar cinco minutos na casa dela, só para mostrar solidariedade.

-Eu não sabia que ela estava tão sem rede de apoio assim... O que acha de eu ir com você na segunda?

-Faria isso? -Sorri olhando para a minha melhor amiga.

-Sei como a Flávia é importante para você e se isso for ajudá-la a ficar bem, sim. -Ela deu de ombros como se fosse a coisa mais óbvia de se fazer. -Ninguém merece passar por isso que ela está passando. 

-O Bernardo vai ficar feliz. -Deixei escapar.

Notei que a Liara escondeu um sorriso.