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-Eu não sei, Bernardo. Mas tenho certeza que não era ontem. -Falei o mais calma que eu consegui me manter.

-Eu não aguento mais isso. -Ele passou as mãos no rosto. -Eu tenho 17 anos dos quais não me lembro de nada. Tento seguir em frente, mas cada hora aparece uma merda que eu fiz e não me lembro. Até quando essas coisas vão continuar me perseguindo? Até quando eu vou ser assombrado pelas minhas escolhas e minha vida? -Ele começou a chorar.

-É muito difícil me colocar no seu lugar, por que qual é a chance do que aconteceu com você acontecer de novo? Mas você tem que pensar que quem você era não existe mais. Aquele menino escroto morreu no dia do acidente e todas as decisões erradas que você tomou ficaram para trás. Sim, você tem que lidar com as consequências delas, mas não precisa se culpar por elas. O que você podia, você consertou. Mas as coisas que não tem conserto, você precisa superar... Mas você não precisa passar por isso sozinho, tem muitas pessoas que te amam e que estão dispostas a te ajudar.

-Pessoas que eu já magoei também.

-Não importa! Se nós conseguimos te perdoar e estamos aqui com você, por que você não se perdoa? Você pode achar que eu só estou aqui pela sua mãe ou porque você não desgruda do meu pé, mas não é verdade. Eu estou aqui porque quero estar aqui, assim como a Júlia, o Rennan e todos os outros. Nós aceitamos que o que aconteceu com você foi uma loucura e decidimos te dar outra chance, assim com a vida te deu outra chance, te deixando vivo. Eu não tenho ideia da barra que você está passando pensando nesse bebê, mas de uma coisa eu tenho certeza, mesmo aquele Bernardo idiota, jamais teria feito algum mal a uma vida tão inocente. Ninguém sabia dessa gravidez, não tinha como ser evitado. Infelizmente. 

-É, infelizmente...

-Sei que está doendo muito agora, mas se você se permitir sentir essa dor, você vai ver que ela vai passar. Não luta contra, aceite o seu luto e quando você menos esperar, ele vai passar. -Forcei um sorriso lembrando de todas as pessoas que já perdi.

-Tem certeza? 

Respirei fundo.

-Sim. -Forcei um sorriso. -Você vai ver.

-Fica aqui comigo hoje? -Ele falou um pouquinho mais animado. -Vamos ver um filme.

-Claro, Bernardo. -Ele deitou na cama e pegou o controle da televisão. 

-Você pode deitar aqui comigo, se quiser. -Na hora, não pareceu uma decisão ruim, então aceitei. 

Ele deu um sorriso discreto. 

Deixei ele escolher o primeiro filme, o próximo e o próximo do próximo e em algum momento da manhã, ele comeu a fatia de bolo e os pães de queijo. E até bebeu o café que já estava gelado. 


De repente tudo mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora