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-O que você está fazendo, cara? Solta ela! -O Bernardo falou claramente irritado.

Isso ainda é muito estranho.

Olhei em direção ao segundo andar e vi o Bernardo na janela do seu quarto. Fiquei feliz por ele ter conseguido levantar. Não sei se é a primeira vez que ele sai da cama, mas é bom saber que está se recuperando aos poucos.

O Giovanni soltou-me imediatamente, é claro que ele não quer ficar mal visto pelo amigo.

-Só estamos conversando, mano. -Sua voz falhou e eu me forcei para não rir de como o Giovanni parecia um gatinho abandonado.

Acho que não importa o quanto o Giovanni ou os outros amigos do Bernardo tentem ser legais, eles não sabem o que é isso. O Giovanni não sabe como tratar uma pessoa decentemente e se ele continuar assim, não vai conseguir ser amigo desse Bernardo.

O Bernardo, agora, por mais incrível que pareça, ele é uma pessoa gentil, bondosa e que sabe como fazer uma pessoa rir ou ficar desconfortável com elogios. Ele é completamente diferente do que era, pois não carrega consigo as lembranças e marcas horríveis que seu pais deixou em sua alma. Óbvio que não dá para culpar o Hugo 100% pela personalidade horrível do filho, mas ele tem uma grande parcela de culpa no que ele se tornou. O Hugo conseguiu despertar o pior lado do filho.

-Anne? -Ele queria que eu confirmasse a versão do amigo.

-Está tudo bem. -Menti.

Não queria que o Bernardo ficasse irritado com o seu único amigo, mas mesmo eu mentindo era óbvio o que tinha acabado de acontecer, só sendo muito idiota para não perceber que o Giovanni tinha me agarrado a força. O Bernardo pode ser tudo, menos idiota.

-Olha, Giovanni, eu estou cansado agora. Você pode voltar outra hora? -O Bernardo não caiu na mentira dele.

O Giovanni ficou sem saber o que fazer e até um pouco envergonhado.

-Mas, mano, a gente ia ver...

-Eu sei, mas eu não quero agora. -O Giovanni bufou.

-Tudo bem, depois te ligo então. -Ele deu meia volta e foi embora.

Um silêncio constrangedor reinou entre nós.

-Fico feliz que esteja conseguindo levantar.

-O meu fisioterapeuta disse que minha recuperação está muito boa e que em pouco tempo eu já vou conseguir descer a escada e andar um pouco mais. -Ele parecia animado.

Fiquei feliz por ele e imaginei o quanto a Flávia também devia estar feliz.

-Que bom, Bernardo! Espero que se recupere plenamente logo. -Um sorriso espontâneo se formou em meu rosto.

Ouvi uma buzina e, pelo som, sabia que era do carro dos pais da Liara.

-Preciso ir agora... Tchau. -Comecei a caminhar para a rua.

-Anne. -O Bernardo me chamou.

Parei e o olhei.

-Você está linda. -Ele disse sorrindo.

De repente tudo mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora