-Ele ainda está dormindo, mas a senhora já pode vê-lo. -A Cláudia falou e a Flávia sorriu ansiosa, levantando da cadeira.
-Porque não a levamos na cadeira de rodas? -Propus.
Não tenho muitos exemplos de vítimas de acidentes de carro, mas não acho que o Bernardo esteja da forma que a Flávia deseja ver o filho e ela já teve muitas surpresas para um dia.
A Flávia me olhou e depois olhou para a médica, esperando sua opinião profissional.
-Douglas, você poderia nos acompanhar até o quarto 106? Levando a Senhora Soares? -Ela se dirigiu a um enfermeiro.
-É claro! -Ele respondeu solidário e com boa vontade.
-Eu vou esperar lá fora. -Falei.
-Por favor, vem comigo. -A Flávia pediu olhando-me nos olhos.
Eu queria recusar. Sei que o Bernardo está mal e não acordou, mas se ele acordar e me vê lá não vai ser bom. Ele pode ficar irritado e isso pode ser ruim para ele. Sem falar que... Que...
Não é porque ele se acidentou que eu preciso perdoar tudo o que ele fez comigo. Com memória ou sem, o Bernardo continua sendo o que é para mim: a pessoa que faz da minha vida um inferno na escola e fora dela.
-Não acho que ele vai gostar de me ver, Flávia. -Recusei educadamente. Ela balançou a cabeça afirmativamente e seguiu pelo corredor com a médica e o enfermeiro.
Fui para a área da emergência, onde passei a manhã inteira. Peguei o meu celular e liguei para a minha mãe.
-Oi, mãe! Como está as coisas ai? O Cae melhorou? -Ela atendeu no segundo toque.
-Oi, minha filha. Ele melhorou sim, está brincando de trenzinho com o seu pai. Como está o Bernardo e a Flávia?
-Ai, mãe! Você pode vir para cá? Eu não sirvo para consolar a Flávia. Eu fiz o meu máximo, mas eu não consigo esquecer as coisas que o Bernardo me fez... Ela pediu para eu ir no quarto com ela e eu não consegui. Ela está muito triste e o Hugo disse que não vem.
-Caramba, Anne! Eu estou indo agora para aí, filha.
-Por favor...
-Mas o Bernardo vai ficar bem? -Conseguia ouvir que ela estava se movimentando para vir para o hospital.
-Tem uma chance dele perder a memória, mas ele tem que acordar para descobrirem... Ele deve acordar logo.
-Eu chego aí em quinze minutos.
-Tudo bem, mãe. -Desliguei a chamada e sentei em um banco colado na parede. Encostei minha cabeça e, em questão de segundos, eu estava dormindo.
-Filha? -Senti a mão da minha mãe repousar no meu ombro delicadamente. -Já pode ir para casa.
Assenti, sem saber muito o que estava acontecendo.
-Vai de Uber. -Levantei da cadeira e dei um abraço nela.
-Obrigada por vir. A Flávia precisa muito de você. -Sorrimos uma para a outra ao mesmo tempo.
Ela foi para a recepção falar com a mulher chata e eu peguei um Uber para casa.
Eu só espero que o Bernardo fique bem. Pensei.
Eu tinha certeza que se não fizesse nada no caminho de casa, eu dormiria e todo mundo sabe que não é bom dormir no carro de um estranho, então decidi ligar para a minha melhor amiga e para o Caíque.
-Acordei alguém? -Perguntei.
-Sim. -A voz da Liara a entregava.
-Não.
Os dois responderam ao mesmo tempo.
-Desculpa não ter ido falar com você no hospital.
-Não tem problema, Anne.
-Afinal, o que aconteceu?
-Sério, eu gosto muito de vocês, mas eu vou dormir. -Nos despedimos da Liara e ela desligou.
-Pelo que o Giovanni disse, eles saíram da boate para a casa da Kátia e ficaram lá por um tempo. Depois, ele, o Bernardo, a Fabiana, o Leonan e a Lavínia acharam que era uma boa ideia dar uma volta no quarteirão de carro. Todos ficaram desacordados, menos o Giovanni. Se não fosse ele ligar para a ambulância... Eu não gosto nem de pensar.
-Quem estava dirigindo? Sabe?
-O Bernardo.
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De repente tudo mudou
RomanceAnne é uma menina inteligente, amiga e dedicada que dá duro para conseguir ajudar os pais a cuidar do seu irmão mais novo. Ela, com a sua família, mora na casa da família Soares, onde vive Bernardo, um garoto mimado, sem noção e que não dá valor as...