De repente tudo mudou

15.

-Ele está ótimo, fomos à praia hoje. -Ela sorriu.

-Qualquer dia vou passar na sua casa para tomar um café. -Ela falou como se morássemos longe, mas a verdade é que ela nem teria que sair de sua própria propriedade para fazer isso.

-Vá sim. -Falei empolgada. Gosto de conversar com a Flávia, o que não ocorre muito.

Ela mexeu no bolso da sua calça de moletom pegando algumas notas.

-Aqui está. -Ela me entregou um dinheiro a mais do que tínhamos combinado. -Fica com esse agrado por ter dado um jeito no chiqueiro do meu filho.

O Bernardo revirou os olhos.

Sorri muito feliz, eu não só conseguiria comprar um notebook como também poderia comprar algo para o meu irmão.

-Obrigada, sempre que precisar só chamar.

-Pode deixar. Quer comer alguma coisa? Uma bebida?

-Não, Flávia. Muito obrigada. Boa noite.

-Boa noite, minha linda. -Ela disse.

-Boa noite, Anne. -Até o Bernardo se despediu.

Voltei para a minha casa saltitando de alegria e encontrei meu pais e meu irmão arrumados para sair.

-Vamos ao shopping? -Meu pai perguntou sorrindo.

Todos estavam felizes por eu finalmente conseguir meu notebook, não podia ir comprar sem a presença deles. Eu queria e precisava deles comigo, são as pessoas mais importantes do mundo para mim e que sempre torcem pelo meu sucesso.

-Claro! -Gritei e fui para o meu quarto me arrumar.

No domingo eu tentei usar o meu notebook novo, mas fiquei com medo por não ter antivírus e outras coisas necessárias, então decidi não mexer nele até conseguir falar com o profissional da TI da minha escola, tinha certeza que ele me ajudaria a configurá-lo. Optei por estudar pelo bom e tradicional método de estudo: os livros.

Fiquei focada umas cinco horas, até minha mãe me chamar para ver um filme. Não pude recusar, quase não fico com os meus pais dia de semana, preciso aproveitá-los quando estão disponíveis.

-Boa tarde, Vanessa. -A bibliotecária sorriu para mim. -O Tião está aí?

-Sim, lá nos computadores. -Ela apontou, mesmo sabendo que conhecia a direção.

Sorri para ela e caminhei até o Tião, TI da escola.

-Oi, Tião. -Ele parou de digitar no computador e me olhou. -Desculpa incomodar, eu sou a Anne do último ano.

-Oi, Anne. -Ele sorriu. -Como posso ajudar?

-Então, eu comprei um notebook para estudar, mas eu não sei baixar antivírus, internet... Sabe, essas coisas. -Ele deu uma risada. -Gostaria de saber se pode me ajudar.

-Claro, será um prazer. -Sorri, animada.

-Pode ser amanhã, umas duas da tarde?

Ele refletiu por um tempo antes de aceitar, agradeci e fui embora, afinal estava atrasada para pegar o Cae na escola. Apertei o passo para não me atrasar muito.

Como nas terças-feiras, assim como nas quintas, o meu irmão faz duas horas de terapia, eu teria mais que tempo suficiente para levar meu notebook para o Tião me ajudar a configurá-lo. Seria um pouco corrido pegá-lo na escola, levá-lo a terapia e voltar a minha escola, mas o que não fazemos pela nossa educação, não é mesmo?

-Vamos na balada na sexta-feira? -A Liara perguntou assim que nos sentamos nos nossos lugares para esperar a aula começar. -A entrada até meia-noite é grátis.

Revirei os olhos. Sexta à noite quando o mala não resolve dar festa é um ótimo dia para estudar.

-Vai, Anne! -Minha amiga já sabia o que vinha pela frente. -Estamos no começo do ano, sua mãe não vai trabalhar e eu sei que mais para frente você não vai nem respirar fora do livro.

Olhei para o Caíque pedindo socorro.

-Não tem como eu te ajudar nessa, Anne. Eu estou super dentro, Liara! -Ela comemorou a vitória.

Ponderei melhor a ideia. Ela estava certa, eu tinha que me permitir umas saídas logo no começo do ano, pois mais para frente eu não vou querer saber de outra coisa se não estudar. Preciso mais do que tudo passar no vestibular, não tenho condições de bancar uma faculdade particular de psicologia.

-Tudo bem, só dessa vez. -A Liara deu um gritinho, atraindo atenção de alguns amigos do Bernardo, mas eles não falaram nada.

Amém!

-Vai se arrumar lá em casa! -Ela me intimou. -E você... -Ela olhou para o Caíque. -Vamos marcar a hora para pegarmos o mesmo Uber.

Balancei a cabeça concordando, por que estragar a felicidade dela?!