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O domingo passou sem grandes novidades do Bernardo ou de seus amigos. Fiquei o dia inteiro brincando com o meu irmão e o meu pai e até fomos na piscina. A Flávia sempre foi muito legal com a gente e nos deixa usar a piscina sempre que queremos, até quando ela está em casa. Contudo, o Bernardo nunca foi tão legal quanto a mãe e não gosta que entremos quando ele está presente, então eu só a uso quando sei que não tem ninguém em casa e que não vão voltar cedo.


A segunda-feira teria sido um dia perfeito sem o Bernardo e alguns de seus amigos se não fosse a circunstância da falta deles. Dos cinco, o único que ficou internado, e mais machucado, foi o Bernardo. Os outros estavam em casa se recuperando dos hematomas. É óbvio que todos já sabiam do ocorrido e alguns estavam preocupados, outros indiferentes e tinha até uma parcela que estava feliz com o que aconteceu.

-Como está o Giovanni? -Eu e meus amigos fomos direto para a sala assim que chegamos.

-Com algumas dores, mas nada preocupante. Deve vir para escola essa semana ainda.

-Você sabe dos outros? -A Liara perguntou.

Vi que o Caíque hesitou antes de responder.

-Eu soube que a Lavínia estava grávida. -Ele sussurrou.

Grávida? Como assim grávida? Tá. eu sei o que quer dizer grávida, mas não consigo acreditar que ela estava G R Á V I D A.

-Ela perdeu? -Perguntei chocada.

O Caíque assentiu.

Eu não sei qual foi a sensação dela ao descobrir que estava grávida ao mesmo tempo que descobriu que não estava mais. Mas imagino que deva ter sido algo bem impactante... Eu não tenho conhecimento suficiente para falar se a Lavínia gostaria de ter um filho ou se ela abortaria, ainda mais com a nossa idade. Independente de sua resposta, deve ter sido um choque enorme.

-Os outros estão bem também. Acho que a Fabiana quebrou um dedo, mas nada tão grave quanto o Bernardo... Em falar nele, como está?

-Você deve ter mais informação que eu. A última vez que eu falei com a minha mãe, ele tinha acordado sem lembrar de ninguém.

-O Giovanni tentou falar com ele, mas ninguém atendeu.

-A mãe dele deve estar com o seu celular, esperando um momento oportuno para lhe entregar. -A Liara falou. -Imagina ele olhar o Whatsapp ou a galeria cheia de pessoas que ele sequer lembra.

-Aí não... -Resmunguei olhando para a porta e vendo que a Kátia se aproximava da gente.

-O que foi? -A Liara não havia reparado.

-Como ele está, heim mulambenta? -Antes que eu pudesse contar para a minha amiga quem estava se aproximando, ela chegou perto o suficiente. Até para pedir uma informação esse povo precisa ofender. Eu quis dar um soco na cara dela, mas civilizada do jeito que sou, não o fiz.

Mesmo todo mundo sabendo do acidente, acho que só nós três e o Giovanni sabemos que ele está sem memória. Como ele está incomunicável e o Giovanni jamais falaria algo da vida do Bernardo para alguém, não tem como saberem.

-Ele fez uma cirurgia na perna e está internado. -Respondi.

-Por que ele não atende o telefone?

-A Anne tem cara de vidente por acaso? -Foi a Liara quem respondeu.

A Kátia fechou a cara com a resposta.

-Estou preocupada com ele. -Não tinha preocupação em sua voz, só curiosidade para saber se ele tinha amputado algum membro, se estava acordado ou até vivo... Que tipo de gente que o Bernardo chama de amigo... É assustador. Bom, sem generalizar obviamente, mas chamar a Kátia de amiga é triste. Espero que pelo menos os outros do grupinho se importem de verdade com seu estado de saúde.

-Pode ter certeza que ele está sendo muito bem cuidado. -O Caíque respondeu.

-Mas...

-Vai embora daqui, Kátia. -A Liara apontou para o lugar que ela sempre sentava. -Ao infinito e além.

Ela queria responder, mas desistiu e foi embora.

-Vocês notaram, né? Que ela só queria uma notícia ruim? -Eu e o Caíque assentimos. -Isso é doentio. -O sinal tocou dando início a aula.

Os três primeiros tempos se arrastaram e os três últimos pareceram os primeiros.

-Tchau meninas, eu preciso correr para casa. Minha mãe e o pai do Giovanni precisam sair e eu quem vou ter que cuidar daquele insuportável. -O Caíque apertou o passo para a saída da escola.

-Boa sorte. -Eu e a Liara falamos ao mesmo tempo.

-Posso ir com você pegar o seu irmão? -Ela perguntou e eu assenti.

Saímos da escola e caminhamos pelas ruas.

-Você acha que o Bernardo vai se tornar uma pessoa melhor igual nos filmes de romance?

-Só falta você falar que vamos ficar juntos também. -A Liara riu, mas logo parou. -Eu não sei... Não entendo dessas coisas, mas vai ser muito difícil para a Flávia.

De repente tudo mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora