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Odiava ter que abaixar a cabeça, mas em alguns momentos tinha que por minha família em prioridade e fazer o que era melhor para todos.

-Será que tem como liberá-la mais cedo? Eu posso limpar o que precisar e servir vocês. -Ele se aproximou de mim e senti meu corpo responder com nojo.

-Ah querida, você fica tão patética quando usa esse tom de sofrida. -Ele falou no meu ouvido. Pude ver que a Lavínia e outra menina fizeram uma cara de desgosto/ciúmes. Oi? Essas garotas realmente são conscientes da vida? Quem fica com ciúmes de um insulto. Talvez... Só talvez elas tenham sentido ciúmes de que mesmo que para um insulto, o Bernardo dedicou mais atenção para mim do que para elas... Isso é doentio... Será que alguém iria preferir ser insultada a ser esquecida? Que dependência emocional ruim... E então me vi com pena delas... -Pede por favor olhando para mim que eu penso a respeito.

Engoli a vontade de xingá-lo junto com o meu orgulho e o olhei.

-Por favor. -Disse baixo. O pior era que meus amigos e seus amigos estavam me vendo naquela posição humilhante. Sabia que a Liara e o Caíque estavam enojados com a situação, diferente dos seus amigos, que riam ou prendiam a risada.

-Mais alto, desengonçada. -Seu olhar penetrava o meu de uma forma assustadora.

-Por favor. -Falei em alto e bom som, morrendo de vergonha e sentindo meu rosto corar.

-Tudo bem. -Ele se afastou de mim sorrindo vitorioso. -Vou dispensá-la.

-Não tinha alguém mais atraente e sexy para ser nossa garçonete? -O Giovanne perguntou e o grupinho riu. Alguns taparam a boca, como se sentissem vergonha de rir de sua piada nada engraçada.

-Infelizmente, minha mãe acha que precisa fazer caridade para a família da desengonçada. -Ele revirou os olhos e eu senti uma raiva da forma que falou. A Flávia não nos faz caridade. Nós trabalhamos e recebemos por isso. -Isso tudo para eles poderem pagar um tratamento que sabem que não é para a classe deles.

-Olha aqui... -A Liara saiu em defesa da integridade da minha família, mas eu a interrompi.

-Estarei lá. -Puxei a minha melhor amiga para a saída da escola.

-Não demore. -A Fabiana, uma das amigas do Bernardo, falou.

-Por que não me deixa falar umas boas verdades na cara dele? -A Liara perguntou irritada.

-Porque aturar ele o resto do dia vai ser insuportável, não preciso aturar ele irritado. -Falei seca.

-Anne, eu... -Ela ficou sem jeito. -Desculpa.

-Tudo bem. -Forcei um sorriso, mas a verdade é que eu queria me enfiar em um buraco e não sair de lá nunca mais. -Até mais tarde. -Sorri para os dois e fui para a escola do meu irmão.

-Hoje você vai ficar com a mamãe. -Falei para o Cae enquanto caminhávamos para casa.

Ele pegou seu chaveiro com várias imagens para se comunicar e eu já sabia o que ele queria. Sorvete. Mas a soverteria que compramos fica à duas ruas depois da casa do Bernardo e se eu não chegasse lá o quanto antes, nem sei o que ele faria.

Dito e feito.

Ele me mostrou o sorvete.

-Depois, meu amor. A mamãe te leva. 

De repente tudo mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora