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Cap 47

Por Ayla. 

Attina ligou avisando que tudo estava quase pronto e Eric me trouxe até o tal posto de gasolina. Tudo depois disso passou como um borrão. 

Minha irmã e os amigos do Eric refizeram a cena do crime com tantos detalhes que fiquei perturbada. O corpo do Mariano,todo aquele sangue...é demais pra mim,faz meu estômago embrulhar. Ficou praticamente idêntica àquela que deixei no estacionamento da boate. 

Me despedi do meu namorado com um beijo longo e mais intenso do que de costume. A sensação era que o herdeiro dos Costantini não queria me soltar. Ele está preocupado,se sente culpado e sabe que vai ser difícil nos vermos depois que meu pai souber o que aconteceu. 

Attina e eu então seguimos para um hotel e ficamos no mesmo quarto. Ela ligou pro papai enquanto eu tomei mais um banho na tentativa de me livrar da sensação de sujeira. 

Toda vez que olho pra mim vejo o sangue nas minhas mãos,na minha roupa. Sinto como se nunca fosse me livrar dele,como se nunca mais fosse ser a mesma Ayla de antes. 

Enrolei pelo maior tempo que pude. Fiquei na banheira até a água esfriar e depois ainda fui pro chuveiro e lavei o cabelo. Usei a esponja com tanta força que minha pele ficou vermelha,praticamente acabei com o sabonete líquido e usei o shampoo três vezes. Mas a sensação continuou a me atormentar. 

Attina : Ayla,está tudo bem aí? - minha irmã pergunta com preocupação. 

Encaro mais uma vez meu corpo nú no espelho. Fora o ferimento no rosto e alguns hematomas nas pernas,estou ótima. Não levei um tiro. Minha barriga continua lisa,reta,sem cicatriz ou marca. Parece um milagre. 

Por um segundo,após a arma disparar e mesmo depois de sentir ela,de apertar o gatilho,pensei que a bala tinha me perfurado. O sangue que espirrou na minha roupa me enganou,assim como o olhar do Mariano. Até morrendo ele era presunçoso. 

Attina : Ayla? - ela chama novamente,dessa vez mais alto. 

Ayla : estou bem. Estou indo - respondo ainda meio grogue. 

Coloquei as roupas que peguei na casa do Eric,as mesmas que usei depois do primeiro banho,e saí do banheiro para encontrar minha irmã. Ela também já está pronta para ir. 

Ayla : falou com o papai? - pergunto. 

Attina : falei - ela responde - ele quer que eu te leve pra casa. 

Ayla : ele está lá? - insisto e me sento na cama pra colocar os sapatos. 

Attina : não contei a história toda exatamente pra ele não sair de casa. Só disso que você foi atacada,que ficou muito assustada e que viemos para um hotel pra que pudesse se acalmar - minha irmã explica. 

Ayla : então ele não sabe que sou uma assassina - comento - quanto tempo será que vai levar até que ele jogue na minha cara que avisou? - questiono com frieza. 

Attina : ele jamais faria isso,Ayla - a herdeira garante. 

Ayla : não sei mais o que pensar - confesso com um sussurro. 

Attina : nós somos sua família. Ninguém vai te julgar pelo que fez - ela fala com ternura. 

Ayla : eu julguei ele,Attina. Falei coisas horríveis pro papai…

Attina : é diferente e todo mundo sabe. Você não teve escolha,salvou sua vida. Seus ideais,quem você é,isso não vai mudar - minha irmã garante. 

Ayla : já mudou - lamento com a mesma certeza. 

O assunto se encerra. Minha irmã sabe que estou certa. Ela também já matou e conhece bem toda a escuridão que isso trás,a angústia. Attina sabe que nunca mais vou ser a mesma,que vai sempre existir uma mancha na minha história,um erro incorrigível. 

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