CAPÍTULO 20 - A PROPOSTA DE JOANNE

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Xica sentou na lateral da basílica ainda pensando no tema da conversa que acontecia ali dentro. Estava tão concentrada em seus pensamentos que não percebeu que assim que passou pela porta dos fundos da igreja, logo atrás dela, veio alguém. O homem negro, parrudo, mais para gordo do que musculoso, carregava uma flor de pau-brasil nas mãos e ao ver Xica sentada, deu a volta com o braço nela e colocando a flor nas vistas da mulher.

- Uma flor brasileira para uma princesa africana! - Disse o homem, mas a reação de Xica foi diferente do que imaginava. A mulher se assustou, tanto com o braço do homem se envolvendo em seu corpo quanto com a voz dele, mas ao olhar para trás, reconheceu seu amante. Era Ghali, o mesmo homem que na noite anterior havia acendido o cigarro de Xica enquanto estava incorporando Latasha.

- Você me assustou! - Repreendeu Xica, mas observou a flor e continuou - A flor é muito bonita! Obrigada!

- Desculpe! Eu ia te entregar mais tarde, mas não podia deixar de falar com você agora, fiquei preocupado com o final do ritual! - Explicou Ghali.

- Foi só uma indisposição momentânea que foi resolvida com uma boa noite de sono! - Explicou Xica - Mas você falou sobre me entregar a flor mais tarde, que certeza é essa que me verá ao anoitecer?

- Ah...Você não sabe ainda. Bem...O Padre Alceu tá organizando aquelas festas... - Disse Ghali de forma um pouco receosa.

- Ah não! - Respondeu Xica ao engulhar - Tenho nojo desse homem.

- Eu sei. Também queria que você não fizesse isso, mas é o único jeito de passarmos um tempo juntos. Ele jamais deixaria vir aqui somente para me ver, mas deixou que você passasse o resto da noite comigo depois da festa. - Argumentou Ghali um tanto desconfortável, mas firme em sua posição.

- Eu ainda prefiro me encontrar com você, no canavial. - Rebateu Xica, um pouco contrariada.

- Eu mencionei que ele vai pagar o triplo que pagou da última vez? - Continuou insistindo Ghali - Não precisa de dinheiro?

- Seria de boa ajuda para eu e Joanne. Talvez, em algumas semanas conseguiremos... - Disse Xica, mas interrompendo ao perceber que não poderia revelar para ninguém o que as duas estavam planejando - Será que ele vai pagar mesmo tudo isso? E se for um golpe?

- Segundo ele, é a última oportunidade que terá de fazer isso,  portanto está disposto a garantir que vocês não recusem por questões financeiras. - Explicou Ghali.

- Última oportunidade? - Perguntou Xica, mas logo encontrou a resposta sozinha - Ah! A chegada do Santo Ofício. Sem data definida para deixarem o Brasil, o Padre ficará sob constante vigilância.

- Além disso, o combinado será que recebam o pagamento, por mim, antes de realizarem o trabalho. - Continuou Ghali na expectativa que Xica concordasse.

- Não sei. Tenho medo de desmaiar como ontem ou algo pior. - Falou Xica tentando convencer seu amante.

- Ah Xica! Também não é como se fosse a primeira vez que você faria isso por dinheiro. - Respondeu Ghali quase que esbravejando, mas Xica não teve tempo de responder pois de dentro da Basílica saiu uma animada Joanne que lhe puxou pelos braços ao dizer:

- Vamos Xica! Mais tarde vocês namoram!

- Até mais tarde! - Disse Ghali ao ficar parado enquanto as duas se afastaram.

- Vamos passar na Dona Thereza. Ela prometeu emprestar uns vestidos antigos para nós duas. O Padre Alceu nos convidou para uma festa, hoje à noite... - dizia Joanne gesticulando e vibrando, mas Ghali já não conseguia ouvir o restante da conversa.

- Não precisa me convencer, Joanne. Eu vou! - Disse Xica assim que as duas viraram a rua e desapareceram da vista de Ghali.

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