CAPÍTULO 36 - UMA FAÍSCA SE ACENDE

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Alguns meses atrás, pouco depois de conhecer Enzo, Valencina ainda estava agindo como uma mulher solteira, já que o que tinham não era sério, naquele momento. Dessa forma, Valencina foi até um happy hour com seus colegas da Camparty e trocou flertes com Ray. Porém, em um dado momento da noite, Ray passou a evitá-la, mas Valencina nunca soube o motivo para tal comportamento. 

Enquanto Dra Macrona trabalhava em localizar a pulseira, Valencina e Ray entraram no bistrô francês e se sentaram em uma mesa perto da janela que mostrava o movimento da cidade paulistana. Carros e bicicletas se moviam em uma dança quase perfeita onde não se esbarravam. Uma mulher briga com o filho após ele deixar o sorvete cair ao chão. Um executivo tem seu celular roubado ao fechar um negócio. Outros transeuntes passam pelo local apressadamente. Mas nem Ray, nem Valencina prestaram atenção nesses detalhes.

Depois que se sentaram, o garçom logo veio colher o pedido de cada um deles. Valencina aproveitou para atualizar Ray sobre a profecia e a possibilidade de Enzo ser o homem citado nela.

- Não me surpreende. Esse cara é um... Me desculpe, mas ele é um babaca! - Disse Ray após ouvir o que a colega dizia.

- Eu sei. Eu concordo, mas queria saber o motivo de você não gostar dele. Parece algo pessoal. - Sondou Valencina. 

- E é. Desde aquela noite do happy hour, você deve ter percebido que eu passei a te evitar. Percebeu? - Perguntou Ray,

- Eu percebi, mas nunca entendi o que aconteceu. - Respondeu Valencina - Vai dizer que isso tem a ver com o Enzo?

Balançou a cabeça em sinal afirmativo, mas não pode dar continuidade ao assunto já que o garçom se aproximou para trazer o aperitivo. O homem serviu duas águas com gás, mas entregou limão espremido, apenas, para Valencina. A analista colocou um pouco de água com gás no copo com limão enquanto questionava:

- Descobri cada coisa cabeluda, recentemente, que até tenho medo de saber. Mas...O que ele fez?

- Lembra aquele dia do happy hour? Que eu fui pegar duas caipirinhas e quando voltei, saí para fumar? - Perguntou Ray

- Como uma boa parte dos homens, você saiu para fumar e nunca mais voltou. Quer dizer, não foi embora porque te via na Camparty, mas você entendeu. - Respondeu Valencina.

- Então, enquanto eu estava fumando, um carro de cor vermelha vibrante parou em frente ao bar. O vidro desceu revelando que o motorista era o Enzo me ordenando a entrar no carro. Como eu reconheci ele dos jornais, entrei sem pensar muito. - Explicou Ray fazendo uma pausa como se tivesse decidindo se continuaria ou não - Demos uma volta no quarteirão o que não deve ter levado dez minutos. Tempo suficiente para ele me dizer que se eu não me afastasse de você, ele iria destruir o quiosque de bolo da minha mãe.

- Desde o começo ele controlou minha vida. Como se eu fosse um avatar de um jogo de videogame. - Falou Valencia com os olhos cheios de lágrimas.

- Eu não sei se vocês ainda estão juntos, mas quero pedir desculpas por ter cedido às ameaças. - Explicou Ray ao segurar a mão de Valencina.

- Não, eu que peço desculpas. Não que seja minha culpa, mas me sinto mal de ter te envolvido nisso. - Respondeu Valencina apertando a mão de Ray mais forte.

- Você não me deve desculpas também. A culpa disso é do Enzo...No máximo dos pais dele por terem criado ele assim. - Concluiu Ray colocando a outra mão em cima da mão de Valencina.

- Mas chega de falar do Enzo. Vamos falar sobre algo que valha à pena. - Disse Valencina enxugando a lágrima do rosto com a mão que estava livre.

- Como que tá o projeto Física no Samba? - Perguntou Ray ao sorrir para Valencina.

- Até isso, eu me afastei! Consegui substitutos para ficarem no meu lugar, mas agora, que eu terminei com o Enzo de vez, vou voltar a dar aulas. E seus irmãos, como estão?

Antes que pudesse responder, o garçom se aproximou carregando dois pratos na mão. Serviu o primeiro prato para Valencina, um Hachis Parmentier, em seguida, serviu, para o rapaz, um Steak Tartare. Enquanto degustavam o sabor das iguarias francesas, Ray respondeu a pergunta sobre seus irmãos revelando que ajudou sua irmã a estudar para prova de física.

A conversa dos dois analistas da Dra. Macrona fluía tão naturalmente que não perceberam que havia um mendigo, parado na janela do restaurante, observando seus pratos. Assim como não perceberam um carro, do tipo utilitário, estava parada do outro lado da rua. 

Sete ErrosOnde histórias criam vida. Descubra agora