CAPÍTULO 45 - MOEDA DE TROCA

0 0 0
                                    

Quando abriu a porta do escritório que o Governador ocupava ali ,no Erário, o Capitão Elias se surpreendeu ao ver Leão Dourado sentado, na poltrona do governante, acompanhado de Domingues e Cabugo que estavam de pé ao lado dele. Sentado, à frente deles, estava Carvalhinho com uma aparência preocupada, enquanto Elias  decidiu se posicionar ali perto da porta mesmo.

- Eu lhe chamei aqui pois seu desempenho foi crucial para a revolução! - Disse Leão Dourado.

- Obrigado pelo reconhecimento! Eu... -Carvalhinho tentou responder, mas foi interrompido.

- Se não fosse você, nós não deflagraríamos a revolução. Sabia disso? - Perguntou Leão Dourado enquanto Carvalhinho balançava a cabeça negativamente - Deixe-me explicar! Se o Governador não fosse avisado sobre a conspiração, não teria ordenado nossa prisão e eu não seria obrigado a matar o Castrozza.

- Desculpe, eu não estou entendendo. Qual é o meu papel nisso? - Perguntou Carvalhinho.

- Não se faça de tonto. Seja um homem de verdade e assuma suas ações! - Esbravejou Leão Dourado. - A punição é inevitável.

Os olhos de Carvalhinho rapidamente correram pelos rostos de Domingues e Cabugo antes de alcançar, novamente, o do Leão Dourado. Carvalhinho hesitou, mas decidiu tentar fugir dali, entretanto ao se levantar e virar para a porta do escritório, recuou ao ver Elias que, mesmo confuso com a situação, não o deixaria sair dali.

- Certo. Eu avisei mesmo o Governador e esperava que todos vocês fossem executados! Querem transformar Pernambuco em um terra de degenerados! - Gritou Carvalhinho.

- Finalmente! O rato virou homem e começou assumir o que fez! - Disse Leão Dourado - Mas não venha com essa prosa de "terra de degenerados". Isso é só falácia. O que o Governador lhe ofereceu?

O silêncio se instalou no ambiente enquanto todos olhavam para Carvalhinho que estava decidido a não falar mais nada. Então Leão Dourado se levantou e, se aproximou do agente duplo para olhá-lo de cima a baixo. Em seguida acertou um soco em Carvalhinho que caiu ao chão.

- Anda, fale agora! - Ordenou Leão Dourado antes de pisar na cabeça de Carvalhinho.- Eu peso quase cem quilos. Será que você aguenta?

- Ele...Ele me daria isenção de impostos por um ano. - Respondeu Carvalhinho quase chorando de desespero, mas fazendo Leão Dourado tirar o pé de sua cabeça.

- O que? Você vendeu por um ano de impostos? Você é um esterco, mesmo! - Disse Domingues.

- Domingues! - Repreendeu Leão Dourado fazendo Domingues se silenciar - A decisão será minha. Mas vou perguntar aos meus colegas: Todos a favor da execução de Carvalhinho?

- Traição se paga com morte! - Respondeu Domingues e Cabugo.

- E você, Elias? - Perguntou Leão Dourado.

- Eu? Eu tenho uma pergunta para ele, posso? - Pediu Elias recebendo um sinal de confirmação vindo de Leão Dourado. - A segurança do Forte Brum foi reforçada depois que o Governador foi para lá?

- É possível que sim. - Respondeu Carvalhinho - Se eu revelasse uma informação importante que eu tenho, poderiam poupar minha vida, não?

- Não brinque com a sorte. - Esbravejou Leão Dourado dando um peteleco em Carvalhinho.

- Podemos poupar sua vida, sim. - Disse Elias fazendo os líderes da revolução se assustarem - Pelo menos por algumas horas.

- Na manhã da prisão de vocês, o Governador recebeu uma tropa da Guarda Real que ocupou o Forte Brum. Mas o mais importante, é que eles disseram que, hoje, chegaria uma embarcação para levá-los até o Rio de Janeiro em segurança. - Explicou Carvalhinho.

- Temos que atacar o Forte Brum, agora! - Ordenou Leão Dourado - Mas antes, vamos executar você!

- Leão, me desculpe! Eu sei que estou em dívida com você, mas podemos usá-lo como moeda de troca com o Governador. - Sugeriu Elias indicando Carvalhinho.

- Moeda de troca? - Disse Leão Dourado, confuso. - Ninguém, dos nossos, foi pego pelo Governador.

- Ele está com Catarina. Foi ela que nos avisou que o Governador sabia do plano. É certo que isso não foi relevante dentro do seu plano de usar o Carvalhinho, mas de qualquer forma ela se arriscou. - Disse Elias tentando convencer, não só Leão, mas a todos. - A essa altura, já pode ter sido descoberta e sabe-se lá o que vão fazer com ela.

- Leão, devemos executar Carvalhinho para servir de exemplo. Assim como quando Elias ordenou a execução dos desertores. - Aconselhou Domingues.

- Naquele caso, eles não tinham serventia alguma. Além do mais, assim que fizermos a troca, é capaz deles deixarem ele no campo de batalha sem nenhum respaldo. - Argumentou Elias tentando ignorar que era uma opinião vinda de Domingues.

- Mas mais uma vez, você apresentando argumentos convincentes, mas nunca revelando a suas reais intenções. - Provocou Domingues.

- Não é diferente de você. Se envolveu nisso, só para se casar e aparecer no jornal. - Rebateu Elias.

- Chega! Será toda reunião esse embate? - Ordenou Leão, e depois de uma longa pausa continuou - Levem Carvalhinho para fora. Acorrentem ele e se preparem para invadirmos o Forte Brum.

Sete ErrosOnde histórias criam vida. Descubra agora