Quando parte dos convidados entrou no salão de recepção, os guardas, rapidamente, bloquearam as entradas para que o restante não entrasse também. Entretanto, não fizeram nada com quem já tinha entrado, visto que uma delas era a Princesa Elizabeth, acompanhada de Andrês. No centro do salão, uma tragédia shakespeariana parecia se desenrolar diante dos olhos de todos.
- Princesa, chame o Imperador! - Dizia Pedro Aragão apontando para baixo - Ele precisa ordenar a execução desse insolente que ousou atacar minha filha!
Os convidados olharam para a direção que o homem apontava. A princesa e Andrês fizeram o mesmo, percebendo que Pedro pisva na cabeça de jovem copeiro negro, amarrado, sem chance de se defender. O copeiro era o mesmo que havia sido designado para servir Andrês, mas recuou durante o banquete.
- Senhor Aragão, o que aconteceu? - Perguntou a Princesa Elizabeth.
- Os Guardas pegaram esse infeliz forçando minha doce Judite ... Vocês sabem... o que.... - Disse Pedro.
- Ele, apenas, pegou na minha mão! - Gritou Judite, sem perceber que aquilo também seria reprovado pelo pai. Princesa Elizabeth e Andrês se entreolharam enquanto Fabiana abraçava a filha que resistia ao afeto. .
- Viu? Minha filha está desesperada! - Exclamou Pedro enquanto olhava para baixo e colocava força no pé- Olha o que você fez, seu maldito!
- Certo. Não seria prudente que um banho de sangue marcasse essa noite magnífica. Entretanto, diante da possibilidade de um crime ter sido cometido, ordeno que o caso seja investigado. - Disse a Princesa - Pra começar, Pedro, tire os pés de cima dele.
Os pés de Pedro se descolaram da face do homem que pode girar seu rosto para olhar na direção da princesa, mas mal teve tempo de observá-la pois percebeu a presença de uma pessoa muito familiar.
- Andrês! - Gritou o rapaz, se revelando e sendo reconhecido pelo engenheiro.
- Roberto? - Perguntou Andrês arregalando os olhos e se aproximando do rapaz e o desamarrando.
- Deixem os dois! -Ordenou a princesa.
- O que aconteceu? - Perguntou Andrês.
- Estávamos conversando ali na entrada do castelo e eu pedi para que ela me desse a mão, para ajudá-la a passar pelos pedregulhos...- Explicou Roberto.
- Mentira! - Gritou Pedro Aragão - Seja homem, seu moleque, assuma o que você fez!
- Admito que não soltei a mão dela, depois que ela passou pelos pedregulhos....- Continuou Roberto, sendo interrompido novamente.
- Viram? Ele não tem nem vergonha na cara de dizer que se aproveitou dela nessa situação. - Disse Pedro olhando para todos que estavam presente.
- Mas, sua filha também não pediu que eu soltasse. - Concluiu Roberto.
- E precisava pedir? Gente como você não deveria tocar em gente como nós! - Afirmou Fabiana.
- A menos que pagassem um dote, certo? - Respondeu Andrês, furioso.
- É claro que o traidor do Império vai querer defendê-lo! Eles são todos iguais e estão se infiltrando nos espaços que nos pertencem. - Falou Pedro.
- Eu defendo todos meus irmãos negros, mas especificamente, Roberto, meu irmão de sangue, eu defendo com unhas e dentes! - Respondeu Andrês - Você é tão podre que sequer reconheceu o garoto que esteve na sua casa pela manhã!
O constrangimento ficou estampado no rosto de Pedro e Fabiana, mas os dois não responderam as palavras de Andrês.
- Meus caros, vamos conversar em um lugar mais reservado? - Sugeriu a princesa ao dispensar os guardas - Abram o salão para os outros convidados! Música?
A banda recomeçou a tocar uma música alegre para recuperar o clima de festa enquanto a Princesa foi seguida pelos irmãos Relousas e parte da família Aragão. Depois de atravessarem um longo corredor, chegaram a duas portas.
- Andrês e Roberto podem conversar ali no escritório. Como estamos em quatro, nós vamos para a biblioteca. - Avisou a Princesa Elizabeth.
Assim que entraram no escritório, Roberto se sentou na primeira poltrona que viu enquanto Andrês começava lhe dar um sermão:
- Você desapareceu desde àquela hora da manhã e me aparece aqui, nessa situação? E se eu tivesse ido embora? Não ia ter nenhuma pessoa que pudesse te defender.
- Desculpa, Andrês. Mas é que...- Tentou explicar Roberto, mas foi interrompido por Andrês.
- Eu já expliquei diversas vezes que temos que viver atentos. Você não é um filho de branco para fazer as coisas sem medo das consequências. Não sei nem o que a Princesa fará com você! - Esbravejou Andrês enquanto, na biblioteca, a Princesa Elizabeth conversava com a família Aragão
- ...Não sei se eles chegaram a se encontrar, mas pode ser que ele tenha visto o quadro da família e tenha ficado obcecado por ela... - Disse Fabiana.
- Eles se encontraram, brevemente, mas se viram. Andrês desmaiou e, com a confusão, minhas filhas entraram na sala para ver o que acontecia. - Lembrou Pedro.
- Certo. Eu posso conversar com Judite, a sós? - Perguntou às princesas fazendo os pais deixarem a sala - Você quer me contar o que aconteceu?
- Bem. Eu não sei. - Respondeu Judite.
- Pode contar, eu resolverei essa questão, da melhor forma possível. - Explicou a princesa ao segurar a mão da garota.
- Quando o engenheiro Andrês passou mal, reparei em Roberto, mas não trocamos palavras. Mais tarde, meu pai pediu que Roberto esperasse fora da casa enquanto terminava de conversar com o irmão dele. Então, Roberto deu algumas voltas pela propriedade e eu o vi pela janela. Acenei e ele se aproximou, dizendo que eu parecia um anjo ao cumprimentá-lo. Dei uma doce risada antes de presumir que se Andrês foi convidado ao baile, Roberto também teria sido. Então prometi que se ele fosse ao baile, eu dançaria uma valsa com ele, mesmo que ficasse de castigo por um ano. Só não imaginei que ele se passaria por um copeiro para conseguir entrar no baile. - Revelou enquanto lágrimas escorriam de seus olhos.
- Então você se interessou por Roberto? Fico aliviada que, pelo menos, se trata de um namoro adolescente. - Admite Princesa Elizabeth - Mas e a situação que os guardas presenciaram?
- Foi exatamente como ele contou. - Confirmou Judite - Só faltou um detalhe.
- Qual, querida? - Perguntou a Princesa Elizabeth.
- Quando ele não soltou minha mão, foi porque eu a apertei bem forte. - Respondeu Judite.
- Não teme pela vida de Roberto? - Perguntou a Princesa.
- Eu temo, essa seria a única coisa que me faria eu me arrepender de ter feito tudo isso. De resto, por mais difícil que seja enfrentar as consequências, eu tenho certeza que valeu a pena. - Explicou Judite fazendo a Princesa ficar calada por um momento.
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Sete Erros
Ficción GeneralSete Erros é uma jornada pela história do Brasil que tem como pano de fundo diversos momentos: - Os dias que antecederam a visita do Santo Ofício - A criação da bandeira de Pernambuco no fim do Brasil Colonial - Um romance impossível às vésperas da...