CAPÍTULO 91 - FÉRIAS E COPO-DE-LEITE

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O carro de Dra. Macrona estacionou na frente da Camparty e a cientista entregou as chaves ao manobrista, mas não reparou que, ali perto, estava parada uma viatura da polícia. A Dra. Macrona entrou no prédio e se dirigiu até a catraca, onde Valdívio conversava com uma mulher loira, com longos fios de cabelo e, em seu rosto, um óculos de sol, estilo aviador, que atribuía à sua aparência um ar de estrela de cinema. Ela estava parada antes da catraca enquanto Valdívio estava depois da catraca.

-...Certamente. Entretanto, receio que não podemos te ajudar, Delegada Camacho. - Disse Valdívio - Ela está de férias.

- E você tem ideia do que ela planejou para essas férias? - Perguntou a mulher.

- Mesmo que eu tivesse alguma ideia, por orientação da área jurídica, nós não somos autorizados a comentar a vida pessoal dos funcionários. Mas se você quiser ouvir os feitos de Valencina...- Disse Valdívio ao fazer um sinal para Dra. Macrona. - Macrona?

- Bom dia! O que está acontecendo aqui? - Perguntou Dra. Macrona sorrindo tanto para Valdívio quanto para a delegada Camacho.

- Essa é a delegada Camacho, está procurando informações sobre Valencina! Macrona é a chefe dela. - Explicou Valdívio com um sorriso sacana nos lábios e vendo a expressão de desespero de Dra. Macrona - Acabo de avisar que Valencina saiu de férias, portanto não sabemos dela.

- Se me permite, Dra. Macrona, quando foi a última vez que você viu Valencina? - Perguntou a delegada.

- Bem...- Hesitou Dra. Macrona - Eu tive muitas reuniões essa semana, mas acho que foi há três dias...

- Exatamente um dia antes dela sair de férias! - Complementou Valdívio.

- Tem algum documento que comprove isso? Um aviso de férias ou algo do tipo? - Pediu a delegada Camacho.

- Sem dúvidas, mas receio que não possamos mostrar esses documentos assim. - Explicou Valdívio - Seria contra a lei.

- Entendi. Vou pedir um mandato, agora.- Avisou a delegada, um tanto contrariada - Pela tarde, devo estar de volta.

A mulher ajeitou seu óculos aviador e deixou o prédio, onde encontrou outro policial, que aguardava na parte externa da Camparty. Ambos seguiram em direção a viatura enquanto a Dra. Macrona e Valdívio aguardavam o elevador chegar. Quando a porta se abriu, os dois entraram e se posicionaram paralelamente, mas não trocaram palavras antes que a porta se fechasse.

- Você tem ideia de onde ela pode estar? - Perguntou Valdívio se olhar para a colega.

- Mesmo se eu soubesse, eu não te falaria. - respondeu a Dra. Macrona - O que essa delegada está procurando?

- Fique tranquila! Não tem nada a ver com o projeto Taquion e nem com a Camparty. - Explicou Valdívio - Ela está investigando o paradeiro do filho daquele político, o Werner Ludwig Ritter.

- E as férias, quem colocou no sistema? - Perguntou Dra. Macrona, intrigada.

- Ninguém. - Respondeu Valdívio provocando uma expressão de reprovação de Dra. Macrona - Se a polícia está procurando Valencina, que eles conversem com ela fora da Camparty, não aqui. Não posso deixar que a imagem da empresa seja contaminada por uma investigação dessas.

A campainha do elevador tocou, indicando que ele pararia naquele andar. Valdívio não trocou mais nenhuma palavra com Dra. Macrona antes de descer no andar de Novos Negócios. Sozinha, dentro do elevador, pegou seu celular e ligou para alguém.

- Alô!...Oi! É a Dra. Macrona...Escuta como é o procedimento para solicitar as férias de uma funcionária?.... - Disse Dra. Macrona enquanto o elevador apita mais uma vez, indicando que ela chegou ao andar desejado, e portanto, a porta se abriu. - Entendi, ela tem que assinar e aí sobe no sistema... E o banco de horas, é só eu solicitar no sistema?....

Enquanto Dra. Macrona providenciava as férias de Valencina e, também, a justificativa de sua ausência nos dias que já passaram, quase há seiscentos quilômetros de distância dali, Ray e Lully, após desembarcarem na cidade de Pomerode, em Santa Catarina, se aproximavam de uma bela chácara que parecia ser o esconderijo das pulseiras roubadas. Na entrada do local, uma placa pendurada mostrava o desenho de uma flor copo-de-leite, fez com que Ray se perguntasse o que ela significava. O local parecia estar abandonado, visto por fora, mas Ray e Lully caminhavam como se estivesse de passagem para não despertar suspeitas, afinal não saberiam quem encontrariam por lá.

- Estranho! Parece que elas estão ali, naquela pedra. - Indicou Ray, ao apontar para direção da piscina ao mesmo tempo que olhava para celular, conferindo o rastreamento dos itens. A dupla deu a volta na fazenda até chegarem em um grupo de árvores onde poderiam descansar um pouco, sob a sombra,

- Foi tudo tão rápido que não pudemos nem pensar em trazer algo para nos protegermos. - Disse Ray conferindo sua mochila - Aqui, só tenho essa garrafa de água, um caderno e um panfleto. E você?

- Eu tenho um monte de materiais de moda. Estava trabalhando em um novo modelo... - Disse Lully ao mesmo tempo que abria sua bolsa e conferia se não estava enganado - Tecidos, corda, linhas, lantejoulas, mas nada que sirva como uma arma.

- E esse galho aqui? Parece firme. - Disse Ray ao pegar um galho grosso do chão e bater no chão para verificar sua resistência, mas foi surpreendido por Lully que se jogou em cima dele. - Que porra é essa.

O corpo de Lully ficou em cima de Ray de forma que os dois quase se beijam. Os dois olharam um no olho do outro, por alguns segundos, mas Lully, rapidamente, lembrou o que o motivou a agir assim e colocou as mãos na boca do rapaz.

- O chão perto da pedra se abriu. - Sussurrou Lully ao sair de cima de Ray e, agachado, observar a região entre a grande pedra e a piscina que mostrava um alçapão aberto. Ray imitou Lully e conseguiu ver que, perto dali, um homem estava fumando um cigarro enquanto observava a paisagem.

- Tem alguma coisa muito creep nesse cara! - Comentou Lully - Essa calça cargo preta, camiseta branca com esse modelo de jaqueta...Hmm...Não estou gostando disso, não!

- Sem dúvida. E essas luvas e máscara? Não parece disposto a conversar. - Conclui Ray enquanto o homem jogava o cigarro fora na direção que os dois estavam. Ray e Lully se encolheram e o homem voltou para dentro do bunker.

A dupla se levantou e se aproximou da cerca que envolvia a propriedade e quando Lully colocou a mão nela, sentiu que havia detalhes entalhados na cerca. Resolveu observar o que estava desenhado ali.

- Que merda. - Disse Lully ao apontar para os desenhos - Um copo-de-leite. Vamos embora, agora!

- Não, não podemos! - Disse Ray apertando seus olhos - Eu tinha reparado no copo-de-leite da placa de entrada. Mas escuta, a Dra. Macrona vai me matar se eu te contar! Mas se não fizer, você não vai entender o que está em risco.

- Mesmo que o futuro da humanidade esteja comprometido, não, não estou interessado em me arriscar. - Brincou Lully, mas ao ver a expressão de preocupação de Ray percebeu que era sobre isso que se tratava. - Ah! Não exagera. Tudo bem que esses infelizes causam muitos problemas, mas não são capazes de acabar com a humanidade de uma vez.

- Não eram, até a Camparty inventar a viagem no tempo. - Explicou Ray.

- Viagem no tempo? - Perguntou Lully, incrédulo que estava vivenciando aquilo. - Você tá falando sério?

- Eu sei que é meio difícil de acreditar. Mas a pulseira é parte do equipamento de viagem no tempo. Os modelos foram roubados e, como pudemos ver - Apontou para o desenho da cerca - se cair em mãos erradas, pode alterar a linha do tempo de forma irreversível.

- Tipo "Efeito Borboleta"? - Perguntou Lully, ainda chocado.

- Mais ou menos. - Respondeu Ray.

- Tudo bem. Eu ajudo você, mas quero que me conte tudo, antes de irmos lá. - Pediu Lully.

E antes que decidissem como recuperariam as pulseiras, Ray contou para Lully sobre o desaparecimento de Enzo e também sobre a profecia que envolvia o Homem do Amanhã. 

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