Os rebeldes na trincheira estavam impacientes com a demora no retorno de Luiz à praça do Forte Brum. Alguns deles cogitaram que o Governador estava se organizando para atacá-los, mas Leão Dourado garantia que estavam seguros ali:
- Embora a revolução tenha sido deflagrada em condições diferentes da planejada, na semana passada, eu dei um jeito de esvaziar os estoques de munição do forte...- Explicava Leão Dourado quando viu Luiz saindo de dentro do forte - Vamos lá, Domingues.
Os dois líderes da revolução se aproximaram do advogado do Governador que estava acompanhado de alguns guardas reais, sendo que dois deles carregavam uma mulher. Ali, também estava um dos homens de Leão que cuidava para que Carvalhinho não fugisse.
- Fico feliz que tenham aceitado a proposta. - Disse Leão Dourado estendendo a mão para Luiz que apenas fez sinal para que levassem Catarina até perto deles. Leão fez o mesmo em relação a Carvalhinho.
- O Governador pediu que eu fizesse uma contraproposta sobre a situação dos traidores. - Comunicou Luiz.
- Não aceitamos. - Respondeu Elias que apareceu subitamente, assustando Luiz, Leão Dourado e Domingues.
- Elias? O que faz aqui? - Perguntou Leão Dourado - Deixe pra lá. De qualquer forma, sou eu quem fala em nome da revolução. Fale a proposta do Governador, por favor.
- Ele alega que ambos cometeram crimes de traição, tanto contra a coroa quanto a nova república. Portanto, o mais justo, é que ambos sejam executados. - Explicou Luiz ao retirar uma faca do bolso que alternava entre os pescoços de Catarina e Carvalhinho. - Resta saber quem executa quem.
- Espere um momento. Não precisamos derramar o sangue deles para concretizar nosso acordo. - Negociou Leão.
- O acordo assinado pelo Governador não é impactado pelo destino dos triadores. Mas como se trata de uma negociação extra oficial, qualquer contraproposta será necessário que eu fale com o Governador novamente. - Respondeu Luiz.
- Certo. Espere um momento. - Pediu Leão ao fazer sinais para que Elias e Domingues o acompanhassem até alguns metros dali.
- Não vou deixar isso acontecer! - Avisou Elias.
- Não era para dar exemplo aos desertores e covardes? - Questionou Domingues.
- Não vou discutir com você, pois o seu destino também deveria ser o mesmo de Carvalhinho. - Respondeu Elias.
- O que você quer dizer com isso? - Perguntou Domingues.
- Senhores! Estamos em frente ao inimigo. - Repreendeu o Leão Dourado - O que vocês sugerem? O acordo não parece estar em risco, apenas a mulher.
Enquanto Domingues afirmava que deveriam aceitar a proposta do Governador e acabar logo com aquilo, dentro da mente de Elias, Enzo tentava ajudar na resolução daquele problema.
- Pressione Leão e Domingues! Fale sobre o que descobriu que o documento ignora a abolição. - Sugeriu Enzo depois de tirar o rosto da boca do canhão pertencente à estátua de Hermes.
- Não é o momento. Eles podem usar Catarina para me manipular. Preciso fazer com que eles negociem pelo menos que Luiz execute Carvalhinho. - Disse Elias de forma reflexiva. - Depois, só preciso pensar em como tirar Catarina dali, em segurança.
- Nesse caso, você precisa falar que o Governador deixou o destino dela nas mãos de Luiz! - Disse Enzo - Só assim, tentarão negociar com Luiz sem temer arriscar a revolução.
- Luiz não pode saber que descobrimos isso, poderia fazer ele endurecer na negociação. - Explicou Elias que usava a mesa de controles, que curiosamente durante todo tempo que Enzo esteve ali, nunca deixou de ser vermelha.
- Peça ao Leão que não comente isso. Que use estrategicamente a informação! - Sugeriu Enzo.
Dessa forma, fora da mente de Elias, o capitão apresentou seus argumentos a Leão Dourado:
- Leão, o Governador já fugiu. Se ele fizermos uma contraproposta, Luiz não conseguirá negociar mais nada com ele. Portanto, o único jeito de salvar Catarina, é escolhermos executá-la e pedirmos que Luiz execute Carvalhinho antes.
- Elias, já está mais que na hora de você agir como homem e colocar a revolução a frente de seu relacionamento. - Disse Domingues que ao ver Elias tentar responder, já emendou - E nem fale de Theodora, ela não é do tipo que se deita com os dois lados.
- Elias, não deixe que isso estrague a revolução. - Disse o comandante Leão Dourado ao segurar Elias pelo braço, impedindo que ele atacasse Domingues.
Priorizando salvar Catarina, Elias decidiu deixar o comentário de Domingues de lado, esperando que Leão comunicasse qual era sua decisão. O comandante ficou em silêncio por alguns momentos, mas, finalmente e sem deixar clara a sua posição, disse:
- Vamos voltar lá.
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Sete Erros
General FictionSete Erros é uma jornada pela história do Brasil que tem como pano de fundo diversos momentos: - Os dias que antecederam a visita do Santo Ofício - A criação da bandeira de Pernambuco no fim do Brasil Colonial - Um romance impossível às vésperas da...