Na manhã seguinte, dia 06 de Março de 1817, Elias havia acordado bem cedo e se preparou para ir ao quartel. Em sua mente, observou Enzo ainda dormindo. Se aproxima para enxergar melhor os detalhes do estranho equipamento que ele carregava na cabeça. Porém, se distraiu ao sentir um arrepio subindo pelo seu pescoço. Ele sabia bem do que se tratava e, fora de sua mente, em frente ao Quartel do Regimento de Artilharia, ele se virou para ver o rosto da pessoa que lhe provocou aquela sensação.
Era uma mulher quase da mesma idade que Elias, cerca de 30 anos, mas parecia muito mais nova que o capitão. Era mais retinta que ele, mas não trajava roupas típicas de escravas. Usava um pano envolto em seus ombros para esconder os seios, mas em seu rosto havia maquiagens um tanto, exageradas. A verdade é que seu pai era um homem branco que vivia em São Paulo, mas ao descobrir que sua mãe, uma escrava, estava grávida, a enviou para morar em Salvador, bem longe de sua família oficial. Porém, sua mãe mal tinha como sobreviver, muito menos como criar a menina sozinha. E ao atingir a idade de 19 anos, a garota aceitou a proposta de Luiz Foronda, recém casado, para que ela fosse sua amante em troca de uma mesada. E dessa forma, mudou sua vida e a da sua mãe.
- Catarina! Você está louca? - Disse Elias em um misto de alegria e preocupação ao vê-la - Muitos olhos do governador andam por aqui.
- Eu sei, mas tive que arriscar, pois algo grave está para acontecer! - Explicou Catarina aflita - Vamos a um lugar mais reservado para falar sobre isso.
Seguiram em direção ao lado do quartel e se esconderam atrás de uma árvore.Elias olhou para os lados antes de segurar Catarina em seus braços e tentar beijá-la. Mas a mulher recusa o beijo, deixando-o confuso:
- Que foi?
- Passei a noite com ele. Ainda não me lavei. - Explicou a mulher - Assim que acordei, corri a cidade toda para te avisar que a revolução está ameaçada!
- Do que você está falando? - Perguntou Elias ao soltar Catarina, percebendo que ela não teria se arriscado por nada.
- Ontem, pela noite, fui chamada para me encontrar com o Luiz. Entrei na carruagem, pensando estar sendo levada para o sítio que sempre vamos. Mas, quando os cavalos pararam e olhei pela janela da carruagem, percebi que estava na Casa do Erário. O homem que conduziu a carruagem me entregou uma capa para me disfarçar.
- Isso era tarde da noite? - Pergunta Elias, um tanto impaciente.
- Era um pouco depois da meia-noite quando entrei pelos fundos da casa e fiquei esperando no corredor do escritório de Luiz. - Respondeu Catarina antes de continuar a explicar - Mal havia me sentado na poltrona, que estava ali, e a porta do escritório se abriu. De dentro da sala, saiu o Comandante Castrozza, seguido por um homem que eu não sei quem era.
-Imagino que o Comandante Castrozza e o seu benfeitor façam muitas reuniões. - Disse Elias se afastando e observando o entorno.
- O que me intrigou não foi isso, mas sim o que eu vi na mesa do Luiz, assim que ele me chamou para dentro do escritório. - Explicou Xica ao afastar o pano, que cobria seus seios, e tirando um pedaço de papel. - Ele tentou esconder de mim, só que o Comandante Castrozza bateu na porta do escritório. Luiz abriu a porta e tentou falar baixo, mas não conseguiu. Enquanto isso, peguei o desenho e fiz essa cópia.
- Essa é a bandeira que estamos criando. - Comentou Elias ao dar voltas no mesmo lugar antes de perguntar - E sobre o que ele conversou com o Comandante?
- Não sei bem, mas ele disse que o Governador autorizou a prisão e Luiz respondeu que vai providenciar os documentos. - Explicou Catarina.
- Eles vão prender os líderes da revolução! Temos que avisá-los! - Disse Elias, desesperado.
- Calma! Imaginei isso, e já os avisei. Acredito que já estão escondidos, mas temo que o Leão Dourado ainda não foi avisado. - Explicou Catarina.
- Eu preciso ir. Tome cuidado, os próximos dias podem ser uma loucura! - Aconselhou Elias ao pegar Catarina pelos braços - Eu não ligo que você não se lavou.
Beijou Catarina com tanta paixão que, quando terminou, ela precisou se apoiar na árvore enquanto se despedia de Elias.
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Sete Erros
General FictionSete Erros é uma jornada pela história do Brasil que tem como pano de fundo diversos momentos: - Os dias que antecederam a visita do Santo Ofício - A criação da bandeira de Pernambuco no fim do Brasil Colonial - Um romance impossível às vésperas da...