Sete Erros

CAPÍTULO 58 - CARRUAGEM EMPACADA

Muito longe daquela busca pelo DNA de Enzo, uma carruagem descia a ladeira da Glória em direção ao cais Pharoux levando Andrês e Roberto, que fazia um pedido à seu irmão:

- Tenho certeza que se chegarmos lá, não seremos barrados.

- Você só pode estar perdendo a sanidade. - Respondeu Andrês - O meu convite é individual, não tenha dúvida que você será barrado.

- Vamos, pelo menos tentar! - Insistiu Roberto. - Por favor!

- Chega, Roberto! - Esbravejou Andrês - Não vou te levar ao baile e pronto. Você vai acompanhar os mais novos na festa que acontecerá no cais.

Não houve resposta da parte de Roberto, o rapaz ficou emburrado e olhou pela janela da carruagem que estava parada mais tempo do que devia fazendo Andrês colocar sua cabeça para fora para verificar o que estava acontecendo.

- Parece a carruagem do Benja. - Disse Andrês antes de abrir a porta de sua própria carruagem e caminhar em direção da outra carruagem e bater no vidro. - Hey, Benja?

O homem colocou o rosto para fora da janela e reconheceu Andrês enquanto o condutor tentava fazer o cavalo se mover a qualquer custo.

- Andrês! Como andam as coisas? - Perguntou Benja.

- Estou bem! Fiquei sabendo da peripécia que aconteceu durante o banquete da Escola Militar da Praia Vermelha. - Comentou Andrês.

- Os jovens, como sempre, se expressam de forma mais espirituosa! - Respondeu Benja.

- E o que aconteceu aí? - Perguntou Andrês ao observar o condutor descendo da boleia e fazendo sinais para o cavalo.

- Acho que o bicho empacou. - Explicou Benja - Pior que o condutor é novo, não sei se é capaz de resolver isso.

- Deixe que o meu ajude. - Disse Andrês ao fazer sinal para seu condutor - Afinal, sem querer ofendê-lo, você está bloqueando o caminho de todos.

O condutor da carruagem de Andrês se aproximou para acalmar o cavalo e delicadamente o puxou fazendo o animal dar pequenos passos. Pouco tempo depois, a carruagem de Benja já não bloqueava mais o caminho de ninguém.

- Muito obrigado Andrês! Você devia aparecer nas reuniões, precisamos do apoio de homens como você! - Disse Benja enquanto a carruagem seguia seu caminho. - Até mais!

- Até! - Respondeu Andrês caminhando de volta para sua carruagem, mas encontrando seu irmão fora dela.

- Eu me lembrei que fiquei de buscar alguns livros na casa do Sr. Machado! - Disse Roberto - Posso ir até lá?

- Estranho esse repentino desejo por leitura. Mas se é isso que quer fazer, vá! - Disse Andrês - Só volte em tempo para levar seus irmãos à festa.

- Combinado! Obrigado! - Respondeu Roberto enquanto caminhava em direção ao bairro do Cosme Velho.- Tchau!

Diante disso, Andrês entrou em sua carruagem e seguiu sua viagem até o cais Pharoux, desacompanhado. Mas em sua mente, havia uma companhia que estava curiosa sobre quem era Benja.

- Que reuniões são essas que esse homem falou? - Perguntou Enzo, deitado em uma cama enquanto Andrês estava usando a mesa de controles.

- Há um grupo articulando um golpe contra o Império. Benja é o líder deles, sempre me convida, mas contra a vontade de seus colegas. - Respondeu o engenheiro.

- São contra por causa da sua cor? - Perguntou Enzo.

- Não. Não sei. - Respondeu Andrês em hesitação - Sinceramente, não levo por esse lado. A verdade é que a corte me vê como um traidor do Império e os republicanos me vêem como um potencial traidor da República.

- Já tô pegando ranço dessa palavra traidor. Não sei quem colocou isso na sua cabeça, mas você não é um traidor por ter apoiado a abolição, nem será, depois que a República for proclamada. - Esbravejou Enzo.

- Serei, se eu contar para o Imperador que há uma conspiração. - Disse Andrês ao se sentar na outra cama - Corre o boato que o Visconde de Bronze Branco já está sabendo disso, mas não contou ao Imperador. Organizou esse baile como forma de mostrar que o Império não está abalado com a ameaça de golpe.

- É meu amigo, que situação difícil. - Comentou Enzo - Se você não contar, pode ser acusado novamente de traição ao império. Se você contar, pode ser que prejudique a proclamação da República.

- Pois é! Mas vamos ver se descubro alguma coisa com o Barão Américo do Sul. Por isso, vim ao cais Pharoux.- Falou Andrês indicando que Enzo olhasse pela luneta. - Ele deve estar por aqui organizando o baile.