CAPÍTULO 44 - O ATAQUE AO ERÁRIO

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A reunião no Erário Régio, não tão longe da casa onde Tyler estava hospedado, estava marcada para às nove horas da manhã de sete de Março de 1817. Mas às oito horas da manhã, o Governador já estava lá e aguardava ansioso pelo encontro. Mal se sentou na cadeira de seu escritório, acompanhado de seu advogado, Luiz, quando ouviram batidas na porta. Em seguida, Carvalhinho entrou dizendo:

- Desculpe, Governador. Mas com a perda do comandante Castrozza, eu não soube quem deveria procurar sem comprometer o meu disfarce.

- Pode entrar Carvalhinho! - Convidou o Governador - Com o quartel tomado, estou contando com a proteção, somente da guarda real.

- Seja rápido, pois temos uma reunião com o cônsul inglês daqui a pouco. - Disse Luiz ao indicar que Carvalhinho se sentasse na cadeira desocupada.

- Receio que essa reunião não aconteça. - Avisou Carvalhinho - Parte dos rebeldes atacaram a casa do cônsul de madrugada e, pelo visto, o gringo se escafedeu.

- E você nos avisa somente agora? - Questionou Luiz.

- Governador, tentei vir de madrugada, mas não consegui. De qualquer forma, os rebeldes pretendem atacar o Erário para te forçarem a deixar o poder. - Se justificou, Carvalhinho.

- Então precisamos sair daqui. Carvalhinho, avise a guarda real para nos tirar daqui, em segurança. - Ordenou o Governador, ao mesmo tempo que correu para a janela, acompanhado de Luiz.

Pela janela, do Erário, o Governador e seu advogado, observaram a rua que parecia deserta demais. Olharam para todos os lados, mas não viram uma alma viva sequer. Nem a guarda real estava ali.

- Isso deve ser uma armadilha. Tá tudo muito quieto. - Concluiu Luiz.

Enquanto isso, ali fora do prédio que estavam, o grupo de rebeldes se escondia, pela praça,  para iniciar seu ataque. Já haviam abatido, boa parte dos guardas que estavam ali fora, antes de ocultar seus corpos. Entre os homens escondidos, estavam Leão Dourado e Domingues que discutiam sobre uma peça chave para o sucesso da empreitada.

- Vamos atacá-lo, logo. O elemento surpresa será o suficiente. - Afirmou Domingues.

- Precisamos de Elias e seus homens para cobrirem os fundos. - Respondeu Leão Dourado. - Ele estará lá, às oito e meia, conforme o combinado.

- São, oito e vinte e nove. - Falou Domingues ao olhar para seu relógio de bolso - Pronto! Oito e meia.

Não queria fazer aquilo, como se soubesse que Elias não estaria lá nos fundos, mas Leão Dourado sabia que não tem outra alternativa, senão entrar no Erário. Olhou para dois homens que estavam escondidos perto dele e falou:

- Vocês dois cubram os fundos! Se virem alguma coisa, gritem, que iremos até lá.

Em seguida, Leão Dourado fez um sinal com o braço e, logo, ele e seus homens entraram dentro do Erário. Enquanto os outros dois seguiram pelo caminho ordenado pelo líder e ali aguardam qualquer movimentação.

Os dois rebeldes ouviram a gritaria da invasão, mas conforme orientação, ficaram apenas observando as portas dos fundos, que não demorou a se abrir discretamente, revelando dois guardas reais, seguidos de Luiz e o Governador.

Enquanto os guardas reais lutavam com os dois rebeldes, o Governador e Luiz entraram na carruagem que estava ali perto, mas não tinha ninguém para conduzi-los até o Forte Brum. Porém, dentro dela, havia outra pessoa que teve sua boca tapa pelas mãos de Luiz enquanto o Governador olhou pela janela e viu que a luta entre os homens estava no ápice e não parecia que a guarda real sairia vitoriosa.

- Conduza a carruagem, Luiz! - Ordenou o Governador temendo ser pego pelos rebeldes.

- Eu? Eu não sei... - Respondeu Luiz, mas foi interrompido pelos gritos de alguns homens que vinham da direção da ponte de Recife, liderados pelo Capitão Elias.

Os rebeldes que lutavam com a guarda real, ao perceberem a presença de Elias, logo avisaram que o Governador estava na carruagem. Enquanto o capitão se dirigia em direção a carruagem, dentro dela, Luiz destampou a boca da pessoa que estava ali e desceu da carruagem. Rapidamente, subiu na boleia, assumindo as rédeas de forma que os cavalos, já agitados, disparam na direção do Forte Brum.

Enquanto corria atrás da carruagem, mesmo sabendo que não a alcançaria, Elias ouviu de um de seus homens:

- Você não vai alcançar, deixe pra lá!

Porém, algo o fez recomeçar sua corrida. Da janela da carruagem, a cabeça de uma mulher se lançou para fora e gritava em desespero:

- Elias, me ajude!

A voz da mulher, assim como sua imagem, foram reconhecidas pelo capitão. Era Catarina.  Elias continuou correndo, mas logo a carruagem desapareceu pelas ruas da cidade e ele foi obrigado a desistir de alcançá-la.

Em sua mente, onde o boi sobrevoava a ponte de Recife, Enzo estava preocupado com as palavras do índigena, portanto não observou os últimos acontecimentos pelo canhão de Hermes.

- Parece que ele não queria ou podia falar tudo. Ele também tentou me dizer algo, mas a confusão no quarto do cônsul o impediu. O que será que ele queria dizer?

- Isso não é importante. Tomamos o Erário, mas Catarina foi levada por Luiz para o Forte Brum. - Revelou Elias enquanto socava o beiral da ponte, assustando Enzo.

- Você acha que eles descobriram que ela fazia jogo duplo? - Perguntou Enzo colocando a mão no ombro de Elias demonstrando sentir exatamente a mistura de sentimentos que o homem estava lidando: adrenalina da tomada do Erário, a decepção por ser responsável pelo governador fugir e, por fim, o risco que a vida de Catarina corre.

- Eu não sei, mas como ela gritou por nome, possivelmente sim. - Respondeu Elias.

- Você precisa ir atrás dela! - Aconselhou Enzo.

- Eu sei, mas preciso dos homens de Leão.  Não sei se vão querer ir pra lá, agora. E sozinho, eu não consigo invadir o forte. A essa altura a Guarda Real deve ter reforçado a proteção do perímetro. - Explicou Elias.

- Então convença o Leão Dourado! - Sugeriu Enzo, como se falasse a coisa mais óbvia do mundo.

- Não vai ser tão fácil. Os acontecimentos na casa do cônsul britânico me fizeram chegar atrasado ao Erário. Eu não cobri os fundos da construção e, por isso, o Governador conseguiu fugir. - Disse Elias antes de bufar - O Leão deve estar furioso comigo.

- Eu já te vi fazer tantas coisas que a maioria dos homens também seriam capazes de fazer, mas nenhum deles as fariam em função de um compromisso com seus ideais. - Disse Enzo enquanto dava tapas nas costas - Meu amigo, convencer o Leão não é tão difícil.

- Você devia escrever essas coisas que você fala, sabia? - Disse Elias mudando de postura e parecendo mais confiante - Você que precisava de tempo para pensar no seu propósito de vida, mas fui eu que precisei relembrar o motivo pelo qual eu luto. Só precisamos descobrir um bom argumento para convencer Leão e os outros líderes.

- Mas isso é fácil. Eu tenho uma ideia. - Disse Enzo mais animado com o fato de ter ajudado Elias do que por ter bolado um plano. 

Sete ErrosOnde histórias criam vida. Descubra agora