Enquanto o Governador realiza sua fuga de Recife, muito longe ali, mais do que se imagina, em São Paulo, uma cientista tenta evitar que um colega fuja de suas perguntas. Dentro da Camparty, Dra Macrona havia entrado no escritório de Valdívio tão furiosa que o restante do andar se assustou quando ela bateu a porta.
O escritório de Valdívio possui uma estética diferente do setor de pesquisas , liderado por Dra Macrona. Com um toque minimalista, o escritório é completamente branco e conta com um armário transparente, onde há alguns livros guardados; entre a porta e a mesa do escritório, há uma mesa de centro que carrega um ovo fabergé da cor preta, o qual Dra Macrona, pessoalmente, acha o objeto, uma atrocidade estética..
- Macrona? - Perguntou Valdívio , com as mãos na cabeça de forma relaxada - A que devo a honra de sua presença, no meu humilde setor?
- Corta a conversa fiada, Valdívio. Devolva! - Esbravejou Dra. Macrona que estava parada antes da mesa de centro que carregava o ovo.
- Você tá falando do relatório de desenvolvimento de IA que...? - Debochou Valdívio ao sorrir cinicamente.,
- Não me provoque.- Alertou Dra. Macrona jogando o ovo fabergé ao chão. - Cadê a pulseira que você roubou?
Fora do escritório, Ray e Valencina quase encostaram as orelhas na porta para tentar ouvir o que estava acontecendo, o que lhes causou uma situação constrangedora. Quando o barulho do ovo fabergé se espatifando tomou conta de todo departamento de Novos Negócios, atraiu olhares dos outros funcionários, incluindo a secretária do diretor. A mulher, apenas com o olhar, fez com que se afastassem dali.
Dentro da sala, observou os cacos de seu ovo espalhados pelo chão, mas Valdívio não demonstrou seu sentimento de fúria diante daquilo. Apenas abriu a gaveta de sua mesa antes dizer:
- Roubar é uma palavra muito forte. Essa manhã, este item da empresa foi entregue na recepção. A pessoa alega que a encontrou caída na plataforma do metrô. Se essa é a verdade, ou a pessoa roubou e se arrependeu, eu não sei! Só sei que você não pode me acusar de roubo.
A pulseira foi jogada por Valdívio em cima da mesa, fazendo Dra macrona pular os cacos do ovo quebrado, para se aproximar dali. Ela pegou a pulseira e a analisou para ver se ela havia sofrido algum dano.
- Essa pessoa deve ser uma alma muito evoluída. Ela adivinhou que a pulseira pertencia a Camparty. - Provocou a cientista ao indicar a pulseira - Não há nada que permita identificar isso.
- Você pode ir embora. - Avisou Valdívio fazendo Dra. Macrona dar meia volta e caminhar em direção a porta - Mas se você for, seria uma pena se a mídia soubesse como a matéria exótica foi obtida no início do seu projeto. Não acha?
Novamente, Valdívio abriu sua gaveta. Dessa vez, retirou uma marreta de dentro dela a colocando em cima da mesa. Dra Macrona desistiu de deixar a sala e se virou vendo a ferramenta na mesa.
- Valdívio, você nunca foi do tipo kamikaze, então não esqueça que se eu cair, você cai junto! - Ameaçou Dra. Macrona.
- A sociedade tem uma tendência a me perdoar mais rápido do que perdoarão você.. Em alguns anos, eu me reconstruo, enquanto gente como você, levará muitos anos.- Rebateu Valdívio segurando a marreta para que Dra. Macrona a pegue.
Mesmo depois daquela situação constrangedora, Ray e Valencina continuaram a tentar ouvir a conversa que acontecia dentro do escritório, mesmo com a secretária tentando puxá-los dali. Quando conseguia tirar um, o outro corria até a região da porta.
Não conseguiam identificar sequer uma palavra, mas se mantinham atentos a qualquer barulho. Portanto, dessa vez, mesmo o som sendo mais alto que o ovo fabergé se quebrando, nenhum dos dois analistas se assustaram, mas o constrangimento foi o mesmo. Parte dos funcionários davam risada deles, e parte, se preocupava com o barulho que vinha da sala, a ponto de se levantarem de seus postos de trabalho.
A porta se abriu violentamente, fazendo com que Ray e Valencina disfarçassem, mas o restante dos funcionários não fizeram o mesmo. De dentro do escritório, saiu Dra Macrona de mãos vazias, desapontando seus analistas que preferiram não falar nada ainda. A cientista caminhou pela ante sala até ficar na entrada do grande salão de funcionários.
- Vocês são pagos para trabalhar, não para observar portas. - Repreendeu Dra Macrona antes de olhar pelos ombros - Vocês dois. Me sigam.
Os dois analistas não hesitaram em seguir a chefe pelo corredor de mesas, mas Valencina olhou para trás e viu que dentro da sala de Valdívio, o homem recolhia cacos de vidros do chão e a mesa estava quebrada ao meio. O grupo atravessou o salão sob olhares e cochichos antes de tomarem o elevador para deixar o departamento de Novos Negócios.
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Sete Erros
General FictionSete Erros é uma jornada pela história do Brasil que tem como pano de fundo diversos momentos: - Os dias que antecederam a visita do Santo Ofício - A criação da bandeira de Pernambuco no fim do Brasil Colonial - Um romance impossível às vésperas da...