CAPÍTULO 94 - A LENDA DA MULHER NA TRINCHEIRA

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No salão do trono em que consistia a mente de Clara, Enzo, ainda amarrado, estava animado com o desfecho do confronto, mesmo que a professora tenha sido descoberta pelo Tenente Mário. Mas como Acreano já havia lhe contado sobre o futuro de Clara, então ele parecia não se preocupar com o encontro dela com o Capitão Romão.

- Vai ter mulher na trincheira sim! - Comemorava Enzo com o movimento limitado por conta das correntes.

- Não sei o que virá agora, mas pelo menos, provei ao meu irmão que valho tanto quanto qualquer homem. - Respondeu Clara ao se aproximar da grande mesa e estender sua mão para Enzo. - Não posso deixar de agradecer você! Sua ajuda ao identificar, pela câmera, de onde os inimigos vinham, foi essencial.

- Imagina! Eu acho que só te avisei sobre um ou dois! O restante foi identificado por você, mesma! - Esclareceu Enzo ao sentir que não era correto deixá-la falar como se ele tivesse feito todo o trabalho duro - E teve aquela hora que você salvou o Valente, o que foi aquilo?

- Foi surreal, nem pensei direito, só agi! - Respondeu Clara com um sorriso de satisfação ao se lembrar do momento - Mas ainda receio a decisão do Capitão Romão. E se ele for contra eu me juntar a tropa?

- Ele vai ser eternizado na história como Capitão mais burro da história do Brasil! - Disse Enzo tentando acalmá-la.

- Se você fosse ele, o que faria? - Perguntou Clara fazendo Enzo se silenciar por um momento.

- Vou ser bem sincero com você. Antes de conhecer você, se eu fosse ele, sem dúvida concordaria com o Tenente, pois de onde eu venho, mesmo as mulheres podendo se tornarem soldados, ainda sim, duvidamos da capacidade de vocês. - Explicou Enzo fazendo Clara se entristecer por um momento - Entretanto, depois de vivenciar tudo isso com você, se eu soubesse de toda sua história, não só permitiria que fizesse parte da tropa, como seria minha pupila.

- Então se você, sabendo o que aconteceu nos últimos dias, mudou de opinião, quem sabe se eu contar tudo para o Capitão, ele também não se convence? - Perguntou Clara - Isso! Obrigado por isso! Vou até te soltar daí.

Ao mesmo tempo que Clara retirava as correntes de Enzo, fora de sua mente, ela atravessava o hall do Hotel São Paulo, na cidade de Águas da Prata. Se aproximou do balcão e informou seu nome ao atendente. O atendente parecia desinteressado e entediado, mas ao ouvir o nome de Clara, não conseguiu evitar de falar:

- Não sabia que era tão bonita!

- Você sabe quem eu sou? - Perguntou Clara, estranhando o comentário - Ah, obrigado pelo elogio!

- Claro, você está se tornando uma lenda. Todos estão falando sobre a mulher na trincheira. - Explicou o atendente, com uma voz afeminada, enquanto Clara percebia que outros funcionários e clientes do hotel tinham se dirigido ao hall para vê-la. - O Capitão Romão a aguarda na sala de reunião! Boa sorte!

Entre os olhares curiosos, Clara atravessou o hall e seguiu pelo corredor até chegar à sala de reunião onde seu destino seria decidido. Embora, ele soubesse que poderia voltar a ser professora, ou seja, não seria o fim do mundo não poder se juntar a tropa, mas mesmo assim, Clara sentiu como se fosse uma condenada caminhando para a forca. Abriu a porta e colocou sua cabeça para dentro:

- Com licença! - Disse Clara - Sr. Capitão Romão?

- Sou eu. E você, é Clara, certo? - Perguntou um homem de cavanhaque branco que revelava sua idade mais avançada, comparado aos outros homens na sala, entre eles o Tenente Mário. - Sente, fique à vontade!

Dessa forma, Clara entrou e se sentou na única cadeira disponível enquanto os cinco homens que estavam ali a observavam com tanta curiosidade quanto as pessoas do hall. Mas dessa vez, Clara se sentiu como se fosse um extraterrestre que acabara de chegar na Terra.

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