CAPÍTULO 92 - FARSA DESCOBERTA

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O sol já despontava na divisa dos estados paulista e mineiro quando o conflito cessou. Mesmo com uma capacidade bélica inferior ao dos soldados getulistas, a tropa do Tenente Mário Neves podia se considerar vitoriosa. Embora houvesse tido muitas perdas, não se via pelo campo de batalha, um soldado getulista de pé.

O vento batia no rosto de Clara, que não havia percebido que sua boina havia caído durante o conflito, e fazia os fios de seu cabelo se movimentarem em um dança desconexa. Entretanto, a professora e, agora, soldado, não se incomodou a ponto de arrumar o cabelo e tirá-lo de seu rosto. Ela fechou os olhos e sentiu o vento lhe atravessar, potencializando a sensação de liberdade por ter vencido a batalha.

- Hey! - Chamou Valente, em tom preocupado, ao se aproximar e tentar abraçar Clara que abriu seus olhos e sorriu ao ver o irmão - Graças a Deus!

- Não, não encosta! - Falou Clara, lembrando que suas mentes se uniriam - Nem sei que horas nos separamos. E agora, você ainda acha que trincheira não é lugar de mulher?

- O soldado Valente, eu não sei. Mas eu, definitivamente, acho. - Disse o Tenente Mário, que passava pela trincheira e verificava se os soldados estavam bem - O que eu falei sobre trazerem mulheres? Você é o que, amante de Valente?

- Não senhor...- Tentou explicar Valente, mas foi interrompido.

- Ela tem boca para falar por si mesma. - Esbravejou o Tenente Mário.

- Meu nome...Meu nome é Clara....Sou irmã....Sou irmã de Valente! - Disse Clara - Eu me juntei a vocês pois achava que faria o trabalho melhor que muito soldado por aí. E foi o que eu fiz. Afinal, eu sobrevivi enquanto boa parte está ferida ou foi morta.

- De fato, você sobreviveu. - Disse o Tenente Mário. - O que deve ter sido fácil, já que imagino, que devido a natureza da relação com Valente, ele te protegeu durante o conflito. - Disse o Tenente Mário.

- Na verdade, no meio da noite nos separamos e eu me virei como pude. - Explicou Clara, temendo irritar o homem.

- Que seja! Vamos acabar com essa brincadeira! - Ordenou o tenente - Valente, leve sua irmã para casa, em segurança!

- Senhor, me desculpe. - Insistiu Valente. - Mas não seria o caso de pensar um pouco melhor, querendo ou não, ela provou sua capacidade para estar aqui.

- Senhor, eu ouvi falar que na Legião Negra, eles aceitaram uma mulher como soldado sob o argumento de que qualquer ajuda é bem vinda. - Disse um soldado que estava caído, com um ferimento na perna.

- Esses negros não sabem de nada. - Disse o Tenente Mário - Mas de qualquer forma, não quero ser injusto. Levarei a questão para o Capitão Romão, que está em Águas da Prata. Não posso prometer nada, mas, por enquanto, a mulher fica conosco.

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