CAPÍTULO 59 - O ALMIRANTE DUNDONALD

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O Barão Américo do Sul e Comendador Hellman eram funcionários do ministério do Visconde de Bronze Branco e foram designados para realizar um baile em homenagem ao navio chileno Almirante Dundonald que havia desembarcado na cidade carioca havia alguns dias.

Portanto, na manhã do baile, ambos estavam atarefados com a preparação da Ilha Fiscal e também, a preparação do cais Pharoux. Decidiram se dividir e, por uma questão hierárquica, o Barão Américo do Sul ficou responsável por acompanhar os últimos detalhes da festa oferecida aos convidados do Império. Já o Comendador, ficou responsável por organizar a praça do cais para que o povo possa assistir o baile, de longe.

Entre tecidos vermelhos, azuis e brancos, o Comendador supervisionava alguns homens que penduravam os panos por toda a praça e já havia recebido uma quantidade enorme de flores chilenas chamadas de Flor Del Gallo.

- Não, não. Aí vão as bandeirinhas! - Disse o Comendador Hellman - Uma fileira para as do Brasil e outra, para as do Chile.

Dois homens desamarraram os tecidos enquanto outro foi buscar, em uma carroça, uma caixa cheia de bandeiras, de ambos os países, citados pelo Comendador. A demora para voltar com as bandeiras, fez o Comendador se virar para procurar o homem pela praça.

- Onde é que...? - Disse o Comendador Hellman, mas percebeu que seu funcionário apertava a mão um homem que logo se aproximou - Andrês! O que faz aqui?

- Boa tarde, Comendador! Eu estava na região e vim ver como está a preparação para a festa! - Disse Andrês olhando em volta - Tá ficando magnífico!

Enquanto os homens começavam a prender a primeira fileira de bandeiras, André se aproximou e apertou as mãos de cada um que trabalhava ali. Entretanto, isso incomodou o Comendador Hellman que disse:

- Pare de atrapalhar meus homens. Você está precisando de alguma coisa?

- Nada muito urgente, mas tinha esperança de encontrar o Barão por aqui. - Respondeu Andrês.

- Ele já está lá na ilha. - Explicou o Comendador enquanto supervisionava seus homens - Amarra isso ai direito, tô vendo daqui que tá frouxo!

- O Barão e o Visconde devem ter muitas decisões a tomar por lá. - Comentou Andrês.

- Na verdade, o Visconde foi chamado para uma reunião de emergência. Então o Barão está sozinho. - Respondeu o Comendador Hellman.

- Que reunião? - Perguntou Andrês.

- Eu já falei demais. - Disse o Comendador percebendo que estava falando o que não devia - Agora se me der licença....

- O Almirante Dundonald! - Gritou um dos homens do Comendador ao ver o grande navio que deslizava, pelo mar, em direção ao espaço entre a ilha e o cais. A atração era tão interessante que o Comendador não se incomodou com o fato de seus homens largarem o trabalho. O homem se juntou a eles para observar o navio da nação convidada.

Como um gesto de camaradagem, o Comendador pegou as bandeirinhas chilenas e, com a ajuda de Andrês, acenou para os tripulantes da embarcação. Na mente do engenheiro, naquele pequeno apartamento,Enzo observava através da luneta, o Almirante Dundonald se aproximando.

- É uma fragata blindada da Armada Chilena, batizado em homenagem ao Almirante Thomas Dundonald que comandou o movimento de independência do Chile. - Explicou Andrês percebendo que Enzo também estava encantado.

- Eu sempre gostei de todo tipo de embarcação! - Respondeu Enzo sem tirar a luneta do rosto - Quendo eu era criança, meu pai sempre me levava para passear pelo mar, seja em um cruzeiro, ou até mesmo de jetski.

- Cruzeiro? Jetski? - Perguntou Andrês.

- Ah não! Deixa para lá, eu confundi. - Respondeu Enzo, tentando disfarçar.

- Não, eu já ouvi esse termo em relação à navegação ... - Disse Andrês enquanto parecia fazer até força física ao buscar pela informação. - Já sei.  Albert Ballin, um alemão que teve a ideia de levar um grupo de pessoas em uma viagem a terras de climas ensolarados.

- Deve ser isso mesmo. - Respondeu Enzo, sem ter ideia do que Andrês falava - Mas vamos deixar isso para lá. Você apertou a mão de todos esses homens e nenhum deles é quem eu procuro.

- Todos, menos um. O Comendador. - Apontou Andrês - Mas ele nunca me cumprimenta, sempre me deixa com a mão estendida.

- Mas você tem que tentar de algum jeito. - Insistiu Enzo, tirando o olho da luneta - Talvez se você ajudar com a decoração, ele se sinta agradecido e obrigado a apertar sua mão.

- De fato, aquelas bandeirinhas estão amarradas de um jeito que simbolicamente é negativo. - Disse Andrês - Posso sugerir essa mudança.

O Almirante Dundonald ancorou em frente ao cais e, logo, a animação de sua chegada se acabou. Fora da mente de Andrês, os homens do Comendador, voltaram ao trabalho de prender as bandeirinhas e o engenheiro, não hesitou em se aproximar apresentando sua sugestão:

- Se o comendador, me permite, não seria melhor prender a faixa de bandeirinhas de cada país de forma cruzada, simbolizando assim, a união das duas nações? - Sugeriu Andrês.

Os homens não falaram nada, mas suas expressões pareciam concordar com Andrês. O Comendador ao perceber isso, não perdeu tempo e já limou a ideia do engenheiro:

- Que certeza eu posso ter que, justo você, fez uma sugestão em favor dos interesses do Império?

- Foi apenas uma sugestão.- Respondeu Andrês.

- Não preciso da sugestão de um... - Disse o Comendador sem completar a frase.

Dentro da mente de Andrês, Enzo percebeu que aquela frase incompleta dita pelo Comendador ativou um gatilho no engenheiro que apenas se sentou em uma das camas em estado de choque.

- Andrês? - Perguntou Enzo enquanto chacoalhava ele - Andrês? Fala alguma coisa. Eu não te entendo completamente, mas você sabe que eu consigo sentir essa sensação de impotência! Fala comigo!

Mesmo com diversos chacoalhões, o homem parecia congelado e não emitiu nenhuma reação aos pedidos de Enzo. Entretanto, o forasteiro percebeu que os controles haviam mudado de cor e estavam verdes, agora. Enzo hesitou, mas vendo a situação de Andrês, decidiu assumir o controle.

- Melhor pedir desculpas por ter tentado fazer alguma coisa, do que por ter deixado ele assim. - Disse Enzo ao apertar um botão qualquer fazendo com que, fora da mente de Andrês, o engenheiro reagisse aquela situação.

- Acho melhor você ir embora, Andrês! - Disse o Comendador - Não quero perder a cabeça com você.

- Você está certo, é melhor eu ir mesmo. - Disse Andrês estendo a mão para o Comendador que apenas olhou com desprezo, mas o engenheiro não recuou. - Vejo você no baile!

Mesmo contra a vontade do Comendador, Andrês usou sua outra mão para buscar o braço do homem e forçá-lo a apertar sua mão. Dentro da mente do engenheiro, Enzo sabia que aquilo já era o suficiente para o que tinha como objetivo pessoal:

- Só de tocar o braço dele, já sei que não tem ninguém dentro da mente do Comendador. Mas vai ser um prazer provocar esse constrangimento, mesmo assim!

Então, ali no cais Pharoux, o Comendador Hellman foi obrigado a apertar a mão de Andrês. O engenheiro, em sua mente, ao perceber que a expressão do Comendador, sentiu uma mistura de prazer e satisfação. Saiu daquele estado de choque, fazendo os controles ficarem vermelhos, recuperando assim, sua consciência. 

- Você é ousado, mas muito obrigado! - Agradeceu Andrês, antes de, fora de sua mente, deixar a praça em direção a sua carruagem.

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