Inúmeros pares de convidados se divertiam dançando ao som da banda, que estava no salão de recepção, quando D. Petrus II e seu amigo, Andrês retornaram para lá. Do meio da pista de dança, surge a Princesa Elizabeth, animada, puxando o Conde D'Itu que parecia exausto após arriscar alguns passos.
- Papai, essa banda que você contratou sabe mesmo como animar uma festa! - Disse a Princesa Elizabeth - Queria dançar um pouco mais!
- Impossível. - Respondeu o Conde D'Itu provocando a risada de todos. - Se eu fizer mais um passo, é capaz de eu desmaiar!
- Sendo assim, por que o Andrês não a tira para dançar? - Sugeriu D. Petrus II fazendo Andrês ficar com o coração disparado - Creio que o Conde não se importará.
- Ótima ideia, papai! - Respondeu a princesa ao estender sua mão, protegida por uma luva. - Vamos?
O engenheiro hesitou, mas colocou sua mão debaixo da mão da princesa e a conduziu de volta para o meio do salão. Quando chegaram ao centro do local, a Princesa tirou suas luvas antes de voltar a dançar.
-Estou com as mãos queimando de tanto calor! - Disse a Princesa ao jogar suas luvas longe.
Finalmente, as mãos da princesa e as mãos de Andrês se tocariam, ali, na frente de todos os convidados. O engenheiro havia sonhado com aquilo por muito tempo e, mais cedo, esteve tão perto de conseguir, mas não obteve êxito. Sabia que seria um momento mágico e único, mas não tinha ideia de que seria tão diferente do que imaginava.
Quando os dedos caucasianos se entrelaçaram com os dedos negros, instantaneamente, as mentes de Andrês e da Princesa Elizabeth se misturavam eu um único lugar, onde metade continuava sendo o quarto onde o engenheiro viveu na Europa e, a outra metade se tornou o palco do Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa onde, perto das coxias, estava a Princesa Elizabeth, atrás do indígena que Enzo já conhecia.
- Andrês? - Chamou a princesa ao correr na direção do engenheiro.
- Elizabeth. - Respondeu Andrês correndo, também, na direção da princesa, mas não se abraçam, apenas se olham.
- O que está acontecendo, Acreano? - Perguntou Elizabeth.
- A mente de vocês foram unidas em uma só. Enquanto eu e ele estivermos por aqui, isso pode acontecer. - Respondeu o homem indígena - Mas você e o engenheiro não podem conversar, aqui.
- Mas por quê? - Perguntou o engenheiro.
- São as regras. - Avisou Acreano. - Não posso especificar o motivo.
- Você andou me escondendo coisas, Enzo? - Perguntou Andrês.
- Não, Andrês, eu juro que não tenho ideia do que ele está falando. - Explicou Enzo antes de se aproximar de Acreano. - Então seu nome é Acreano.
- Na verdade é um codinome. - Respondeu Acreano - Se você fizesse parte da equipe teria um também.
- Meu nome é Enzo. - Apresentou-se Enzo estendendo a mão.
- Não me interessa quem é você. Só sei que você é um risco para o projeto. - Revelou Acreano - Assim como aquele troglodita que encontramos em 1817.
- Você descobriu quem ele é? - Perguntou Enzo, curioso.
- Não, mas ele está aqui em 1889 e outros membros da equipe relataram que vem sendo perseguidos por ele. - Explicou Acreano - Até pensei em convencer Elizabeth a não ir ao baile, mas isso não é permitido pelas regras.
- Que regras são essas, que você tanto fala?- Perguntou Enzo, incomodado com tantas limitações.
- Não posso falar na frente deles sobre isso. Mas, vem cá, como você veio parar aqui? - Perguntou Acreano curioso. - Digo, como você conseguiu esse óculos?
- Eu meio que mexi em uma caixa esquecida na minha casa pela Valencina, uma amiga minha. - Explicou Enzo olhando para Andrês, esperando que ele não o corrija sobre Valencina - Pensei que era um óculos de realidade virtual.
- Você pode acabar com tudo, mas pelo menos, por enquanto, não parece ter tido má intenção. - Respondeu Acreano - Entretanto, não posso te explicar detalhes na frente deles.
- E como podemos nos comunicar ou localizar? - Perguntou Acreano.
- Seu óculos está configurado para o uso de Valencina, você não conseguirá usar....Então, o ideal é que os dois anfitriões durmam conectados e durante o sono, conversamos...No pior dos cenários, se desconfiarem de algo, alegamos que fez parte do sonho deles....- Disse Acreano antes de observar Elizabeth e Andrês. - Beth! O que vocês estão fazendo?
Os dois forasteiros flagram a princesa e o engenheiro trocando um beijo apaixonado e, mesmo como a repreensão de Acreano, os dois não interromperam o momento.
- Quer fazer alguma coisa útil? Me ajude a separá-los. - Pediu Acreano para Enzo antes de cada um deles puxar seu respectivo anfitrião. - As regras Elizabeth! Por favor, se soltem.
Quando conseguiram fazer os lábios de Elizabeth e Andrês se desgrudarem, Acreano foi alvo de um olhar furioso vindo do engenheiro que não soltou a mão de Elizabeth.
- Você falou que não podíamos conversar. - Explicou a princesa - Mas não falou nada sobre trocar um beijo.
- Por favor, Elizabeth, você está agindo como uma adolescente! - Repreendeu Acreano.
- Isso mesmo, somos adolescentes diante da chama da paixão. É hora de ser irresponsável. - Sugeriu Andrês ao olhar para Enzo e, depois, para Elizabeth - Eu estive pensando em enviar meus irmãos para Argentina. Alguns dias depois, ao invés de você fugir com sua família para Portugal, você fugirá comigo para encontrar meus irmãos.
- Andrês, essa não é uma boa ideia. - Avisou Enzo se entreolhando com Acreano. - Vão viver como fugitivos a vida toda.
- Você mesmo disse que eu deveria me declarar e deixá-la decidir se me quer ou não. - Respondeu Andrês de forma ríspida deixando Enzo constrangido frente a Acreano.
- Tudo bem, mas Andrês as coisas mudaram. Eu descobri informações sobre o que se trata a minha presença em sua mente. - Explicou Enzo olhando para Acreano que confirmava com a cabeça que o discurso estava certo - Existem regras que impedem que você faça isso.
- Regras! Eu sigo as regras desde que me conheço por gente.- Esbravejou Andrês. Quebrá-las, uma vez na vida, não será um fim do mundo.
- Na verdade, será. Mas não posso dar mais detalhes sobre isso. - Disse Acreano antes de se dirigir para a princesa - Beth, você sabe que as regras existem.
- Eu sei, mas eu não posso lutar contra o que eu sinto. - Respondeu Elizabeth - Além do mais, a regra que não podemos conversar, já foi quebrada. Mais uma, não fará diferença.
- O que vamos fazer agora? - Perguntou Enzo.
- Eu não sei, acho que isso pode mudar tudo....- Porém, Acreano desaparece magicamente sem terminar de falar.
- Acre...? - Disse Enzo ao tentar chamar, mas desaparecendo da mesma forma fazendo com que instantaneamente as mentes de Elizabeth e Andrês se separassem. Fora delas, o casal, que dançava belamente diante dos convidados, tropeçou. Andrês consegue se equilibrar e evitar que a princesa fosse ao chão.
- Acho que já dançamos demais por hoje! - Disse Andrês sorrindo antes de conduzir a princesa até a família imperial que, pouco antes da meia noite, deixou a Ilha Fiscal.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sete Erros
General FictionSete Erros é uma jornada pela história do Brasil que tem como pano de fundo diversos momentos: - Os dias que antecederam a visita do Santo Ofício - A criação da bandeira de Pernambuco no fim do Brasil Colonial - Um romance impossível às vésperas da...