CAPÍTULO 95 - NEGÓCIO FECHADO COM AMERICANOS

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Depois de entrar no bunker, Ray, com o máximo de naturalidade, caminhou pelo corredor estreito que ao final se dividia em dois caminhos. Para não perder tempo, seguiu pelo caminho esquerdo, mas sentiu um forte cheiro de urina misturado com cheiro de pipoca e quanto mais andava, mais ouvia o murmúrio de dois homens falando. Quando ouviu um ruído de água forte e súbita, acompanhado por um som de pressão, concluiu que ali deveria ser o banheiro. Teve certeza que as pulseiras não estariam ali quando ouviu a porta, que imaginou ser a do banheiro, se abrir. Em seguida, ouviu um homem de voz grave dizer:

- Esse banheiro tá nojento!

- Para de ser fresco. - Respondeu outra voz, também grave - Quer um pouco de pipoca?

Nunca soube o desfecho da conversa pois, rapidamente, Ray deu meia- volta e seguiu pelo caminho da direita. Diferente do outro caminho, o cheiro ali parecia ser de umidade com um leve toque de mofo. Entrou na câmara fazendo o homem, que falava ao telefone, olhar para ele. Ray evitou o contato e não viu que o homem lhe fez um sinal, usando uma das mãos, onde gruda os dedos indicador e polegar enquanto mantinha os outros dedos para cima. Com a outra mão segurava um celular no ouvido.

- ...Pera aí... - Disse o homem ao tirar o aparelho da orelha - Que demora pra fumar um cigarro! Empacota logo essas pulseiras.

O homem apontou para a mesa que possuía vinte e seis pulseiras em um canto. Perto delas, ainda tinham cinco abacaxis abertos de forma que seu interior tinha sido escavado criando uma fruta oca. Em silêncio e evitando olhar para o homem ao telefone, Ray pegou um pequeno saco ziplock e colocou a primeira pulseira dentro dele. Repetiu o mesmo processo com o restante da pulseira enquanto ouvia desinteressado o que o homem falava ao telefone. Entretanto, algo lhe chamou a atenção.

- Fechou com quem?....Ufa! Não ia suportar entregar essa tecnologia para algum comunista...Os americanos são menos piores... - Dizia o homem soltando seu corpo de alívio.

Enquanto empacotava as pulseiras, Ray pensou na velocidade que uma invenção é politizada antes de perceber que as pulseiras seriam vendidas, ilegalmente, para os americanos.

- Mas Valdívio, como vamos fazer a entrega?... - Perguntou o homem, chocado, ao telefone - Em São Paulo? Para quê trouxemos para cá?... Entendi, então quando eles estiverem no Brasil, eu mesmo levo para São Paulo...

Quando ouviu o nome de Valdívio, não teve dúvidas que era ele que estava por trás do ataque aos viajantes do tempo. Havia terminado de colocar no ziplock todas as pulseiras, então começou colocá-las dentro dos abacaxis, que haviam sido escavados internamente. Entretanto Ray percebeu que não conseguiria sair dali com os abacaxis, então decidiu levar apenas uma pulseira que colocou discretamente em seu bolso enquanto o homem gargalhava ao telefone.

- ...Pior que é assim mesmo! É pior que sogra reclamando... - Dizia o homem ao se divertir com o que ouvia. Ray pensou ser um bom momento para deixar o local, mas quando se afastou da mesa, o homem tirou o telefone da orelha - Pera aí...Onde você vai?

- Eu...Eu..preciso ir no banheiro. - Disse Ray antes de olhar para os abacaxis abertos sobre a mesa - Já tô quase acabando.

- Então termina antes de ir. - Disse o homem.

- Senhor, é que eu tô com gases. Não sei se é legal eu ficar assim, em um lugar fechado. - Explicou Ray enquanto o homem o encarava e tentava reconhecer sua voz.

- Vai logo! - Disse o homem contrariado e colocando de volta o telefone no ouvido - Desculpa Valdívio, é que...

Mais uma vez Ray não ouviu o desfecho da conversa pois deixou a câmara de forma veloz, despertando a atenção do homem, que mesmo ao telefone, se levantou para acompanhar o destino do rapaz torcendo para que ele defecasse em si mesmo. Mas quando Ray seguiu pela direção da saída do bunker, passando direto pelo caminho que levava ao banheiro, o homem percebeu que havia algo errado e tirou o telefone, mais uma vez, do ouvido.

- Hey! O banheiro é por ali.

Até pensou em mudar sua rota, mas temeu ser encurralado, então Ray assumiu o risco e saiu correndo pelo estreito corredor até alcançar a escada que leva até o alçapão do bunker. Se arrependeu da decisão quando ouviu o barulho de balas ricocheteando nas paredes, mas seguiu em frente. Rapidamente, subiu as escadas, abriu o alçapão e deixou o bunker. Correu na direção da cerca, perto de onde Lully o esperava vigiando o homem que derrubaram mais cedo.

- Corre! Corre! - Gritava Ray, mas Lully se assustou e não soube o que fazer até que o rapaz se aproximasse e o puxasse pelo braço - Vamos!

Os dois correram pela estrada enquanto, de dentro do bunker, saíram quatro homens, encapuzados e armados, que os perseguiriam. Como era uma estrada de terra, por estratégia, optaram adentrar dentro de uma mata baixa, formada por árvores e arbustos. O som das balas acertando as madeiras dos troncos faziam com que nem Ray, nem Lully olhassem para trás, apenas correram o mais rápido que podiam sem soltar suas mãos. 

Sete ErrosOnde histórias criam vida. Descubra agora