CAPÍTULO 93 - #GOLPISTADOANO

0 0 0
                                    

Bateu duas vezes antes de Ray se esconder para esperar que a porta do Bunker se abrisse. Ele segurava aquele pedaço de madeira que havia pegado mais cedo. Ao mesmo tempo, Lully estava, fora da cerca, parado de forma que se alguém saísse do Bunker, dificilmente, não o veria.

O quadrado de metal, depois de alguns minutos se abriu, revelando o mesmo homem que mais cedo fumava um cigarro. Ele mal tinha colocado seu corpo para fora do alçapão e visualizou a figura de Lully que acenava de fora da cerca.

- Você não deveria estar aqui! - Disse o homem, terminando de sair do alçapão ao mesmo tempo que colocava a mão na cintura para pegar a pistola que estava presa ali.

Enquanto o homem se preparava para atirar em Lully, Ray saiu de trás da grande pedra e se aproximou, sorrateiramente, e lhe acertou um golpe na cabeça. Com isso, o homem desfaleceu ao mesmo tempo que soltou a arma no chão. Ray pisou na pistola enquanto acertou mais um golpe fazendo o homem desmaiar.

- Rápido! Fecha o alçapão enquanto eu arrumo ele. - Disse Ray fazendo Lully correr até o alçapão para cumprir a ordem ao mesmo tempo que o Ray girava o homem desmaiado.

Em seguida, os dois rapazes carregaram o corpo para fora da propriedade, mais especificamente, no mesmo local que Ray convenceu Lully a invadir o local. Ali, despiram o homem lhe retirando jaqueta, calça, luvas e máscara que foram vestidas por Ray enquanto Lully usava a corda, que estava em sua bolsa, para amarrar o homem em uma das árvores.

- Pronto! Acho que ele não vai escapar! - Disse Lully ao testar a força do nó que deu na corda. - Só precisa de alguma coisa para ele não gritar.

- Será que eles vão perceber a diferença? - Disse Ray ao colocar a máscara e entregando uma de suas meias para que Lully coloque na boca do homem.

- Dá pra passar batido, mas se olharem em seus olhos podem perceber, pela cor da pele, que vocês não são a mesma pessoa. Esse aqui é tão pálido que parece até que tá doente. - Disse Lully antes de colocar a meia na boca do homem - E para gente doente, nada melhor que uma meia fedida!

- O gosto disso deve ser horrível. - Disse Ray que considerava o chulé seu único defeito. - Bom, vou voltar lá!

- Cuidado! Evite olhar nos olhos deles, foque nas pulseiras. - Aconselhou Lully antes de Ray se dirigir para o alçapão do bunker.

O rapaz abriu a porta e observou a longa escadaria que levava a um lugar muito fundo que não era iluminado pela luz que entrava. Ray respirou fundo e entrou no bunker, temendo pelo que encontraria ali embaixo.

Bem longe dali, na casa da Dra. Macrona, depois que se lembrou dos desenhos que Wagnão mostrou, no passado, Valencina pesquisou sobre o Pequeno Louco. Descobriu que, segundo a lenda ratanabiana, ele faz parte de uma das sete civilizações subterrâneas que viviam na Terra há trezentos e cinquenta milhões de anos. Além disso, descobriu que ele foi o Rei de Ratanabá, a cidade principal, entre as sete civilizações. Entretanto, depois de sonhar com uma profecia que visava a destruição do universo, Pequeno Louco partiu em uma viagem para o desconhecido através de um dos túneis proibidos.

- Se eu apresentar essa teoria, Dra. Macrona vai me internar, achando que eu enlouqueci de vez! - Disse Valencina em voz alta, mas certa de que não tinha outra teoria em sua mente que fizesse tanto sentido quanto aquela. Porém não conseguiu refletir mais sobre o assunto, pois seu celular começou a apitar, seguidamente, indicando uma quantidade de notificações acima do normal.

Ao pegar seu celular, Valencina já sabia o que poderia ser, mas mesmo assim desejou não fazer aquilo. Ao conferir as notificações, viu que, em todas as suas redes sociais, seu nome estava em alta com a #GolpistaDoAno. Enquanto o celular não parava de vibrar, uma ligação entrou, indicando que sua origem era de um número desconhecido, o que fez Valencina hesitar em atender.

- Alô!

- Sua macaca crioula, se o Enzo não aparecer vivo, nós vamos amassar você! Eu e meus amigos vamos te dar um trato. E quando todo mundo tiver satisfeito, vamos raspar sua cabeça antes de arrancar suas tripas fora! - Disse a voz no telefone antes de desligar.

Deixou o celular na mesa da sala de jantar, mas ele, novamente, tocou e, mais uma vez, era um número desconhecido. Valencina não atendeu, estava passada demais para conseguir atender. Não acreditava que tudo começaria de novo e um pensamento piorou sua ansiedade. O cancelamento que sofreria, agora, seria em uma escala maior e não sabe se terá forças para passar por isso.

Valencina se encolheu no chão do canto da sala de jantar, em um desejo que o local se abrisse e a sugasse para um lugar onde não teria que lidar com a exposição de seu relacionamento na mídia. Uma memória tomou conta de seu pensamento, lhe deixando aterrorizada.

Há alguns anos, em 2019, alguns dias depois daquela situação constrangedora no salão de beleza, Valencina lidava com a exposição do caso, feito pela recepcionista do salão de beleza. Havia faltado esses dias na faculdade, mas decidiu retornar às aulas. Ao passar pela catraca, ouviu alguns cochichos que poderia jurar que eram palavrões como "Vagabunda", "Piranha", "Vestido de Puta". Valencina se perguntou se estava com uma roupa muito vulgar. Olhou para si mesma e viu que seu vestido estava um pouco acima da coxa, da mesma forma que a maioria das outras universitárias. Entre elas, o de uma garota abraçada à um rapaz musculoso que não hesitou em gritar ao ver Valencina:

- Macaca Golpista!

Os outros jovens que estavam por ali, poderiam até não concordar com a atitude do rapaz, entretanto, não concordavam com o que Valencina fez, portanto, ninguém interviu. Pelo contrário, alguns começaram a gritar outras ofensas, e como um vírus contagiante, o ódio se espalhou e , logo, uma multidão gritava:

- Puta golpista! Puta golpista! Puta golpista!

De volta ao presente, na casa da Dra. Macrona, Valencina estava em lágrimas quando ouviu um apito vindo do computador de Ray. Ela enxugou o choro e se aproximou do equipamento. Sentou-se na cadeira e encarou a tela que indicava que o material encontrado no laboratório Rupônei havia sido descriptografado.

- Vou me ocupar com isso. - - Disse Valencina, em voz alta, tentando convencer a si mesma que tudo ficará bem ao mesmo tempo que clicava com o mouse no arquivo descriptografado. - A hora que a Dra. Macrona voltar, ela deve ter alguma solução para isso tudo.

Desligou seu celular e Valencina enviou um email para Dra. Macrona explicando que só poderiam falar pelo email da empresa. Em seguida, abriu o misterioso arquivo descriptografado e analisou seu conteúdo.

Sete ErrosOnde histórias criam vida. Descubra agora