CAPÍTULO 56 - COPO DE CERÂMICA E O LENÇOL DA POLTRONA

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A moradia da família Aragão se tornou uma confusão depois que André desmaiou. Roberto logo pulou em cima do irmão e o chacoalhou tentando acordá-lo. Ao mesmo tempo pedia para que Fabiana e Pedro fizessem alguma coisa, mas ambos não se moveram. Apenas gritaram para que seus escravos de ganho viessem ajudar, mas acabaram também chamando atenção de suas filhas que logo apareceram na sala, pensando que poderia ter acontecido alguma desgraça.

A mais nova delas era Judite, uma jovem da idade de Roberto que possui lindos olhos verdes e um cabelo loiro e cacheado. Como se diferenciava de suas irmãs, havia boatos de que não era filha de Pedro, que tinha o cabelo bem liso. Quando entrou na sala e se deu conta do que estava acontecendo, foi ajudar Roberto a acudir Andrês enquanto suas irmãs ficaram paradas, assim como os pais. Em seguida, os escravos de ganho trouxeram um copo de água, mas antes que fosse necessário jogá-la no homem, Andrês despertou de seu desmaio fazendo Roberto ficar aliviado.

- Finalmente! Você está bem? - Perguntou Roberto ajeitando Andrês na poltrona.

- Estou. - Respondeu o engenheiro enquanto recebia o copo de água de uma das escravas de ganho - Obrigado.

A água estava gelada, mas André reparou que o copo era feito de cerâmica, típico dos que eram usados pelos escravos, enquanto a família Aragão era conhecida pelos diversos jogos de porcelanas.

- Certo. Agora, que o senhor está bem, eu vou pedir que todos saiam, pois terminarei minha conversa com nosso convidado. - Disse Pedro antes de olhar para Roberto- Você, espere lá fora.

As quatro filhas de Pedro e Fabiana foram levadas para seus aposentos, pela matriarca, enquanto os escravos de ganho se recolheram na cozinha e Roberto caminhou para a saída da casa. Andrês terminou de beber a água e percebeu que havia sido colocado lençóis nas poltronas que ele e Roberto ocuparam e isso lhe deixou tão furioso que pensou em gritar. Mas, apenas, respirou fundo e disse:

- Muito obrigado por me receber Senhor Pedro Aragão. Mas receio que não poderei levar sua filha ao baile.  Disse Andrês ao se levantar - Não creio que faça sentido eu pagar um dote, apenas para acompanhá-la por uma noite. Passar bem.

- Creio que me expressei mal, não precisa ser todos os vestidos encomendados, mas apenas o de Joana. - Falou Pedro ao tentar mudar a proposta.

- Mesmo assim, acho que não sou esse tipo de homem. - Disse Andrês ao se dirigir à saída da casa. -Também acho que o senhor não deveria ser esse tipo de homem que vende a filha por uma noite.

- Roberto? - Perguntou Andrês ao passar pela porta da casa e não ver o irmão o esperando por ali. Deu algumas voltas pela grande fachada do local enquanto, em sua mente, Enzo lhe faz uma revelação.

- Tem mais uma coisa que esqueci de te falar. Eu sou capaz de sentir o que você sente, seja fisicamente, seja emocionalmente. - Disse Enzo ao tirar a cabeça da luneta - Então, eu senti a raiva que você sentiu ao ver aquele lençol e o copo.

- Não é bem dele que tenho raiva. É de toda essa situação que acontece. Eu dediquei o início de minha vida à carreira militar, tanto que financiaram minha formação como Engenheiro na França e Inglaterra; desenvolvi diversos projetos visando contribuir na construção de melhorias para diversas cidades do país; me tornei amigo pessoal da família imperial. Mas nada disso é o suficiente para vocês. - Lamentou André. 

- Nós? - Perguntou Enzo confuso - Eu nem sabia que você tinha feito tudo isso. Mesmo que não tivesse feito, não concordo com esses comportamentos. 

- Eu quis dizer, vocês, os brancos. - Explicou Andrês - Nenhum homem, que vai ao baile, receberia uma proposta dessas de Pedro. Talvez seja melhor eu não ir ao baile.

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