CAPÍTULO 61 - DE FRANZINO A AMIGO DO IMPÉRIO

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A porta daquele pequeno quarto, que consistia na mente de Andrês, foi aberta por Enzo que ao entrar ali, se frustrou pois não esperava que se tratasse de um armário comum com prateleiras que carregavam lençóis dobrados. Em algumas prateleiras tem dois lençóis, em outras, apenas um.

A chama da lamparina se acendeu sozinha iluminando as prateleiras de forma que Enzo percebeu que havia numerações em cada uma delas. Os números iam de 1838 à 1888, sendo que a partir de 1886, apenas um lençol estava nas prateleiras.

- Vou começar a chamar esse lugar de santuário da mente - Disse Enzo antes de tocar em um dos lençóis - Bom, deve ser igual ao de Xica e de Elias.

Assim que a ponta dos dedos de Enzo tocaram no tecido do lençol, o rapaz sentiu a mesma sensação das outras vezes e, mais uma vez, acessou informações sobre a vida de seu anfitrião.

As imagens do passado de Andrês passavam pela mente de Enzo rapidamente, mas a primeira que ficou fixa, permitindo ver detalhes do que aconteceu, foi em 1842, onde um homem carregava uma criança bem franzina e, ao seu lado, uma mulher carregava um menino saudável. Em volta deles, um grupo de jornalistas faziam perguntas:

- Deputado Relousas, você pretende voltar, um dia, para cá? - Perguntou um dos jornalistas.

- Não sei se fixamente, mas pode ter certeza que voltarei sempre que eu puder. E trarei minha família também! - Disse João Relousas antes de apontar para criança em seu colo - Além de facilitar meus compromissos, viver no Rio de Janeiro, vai ser bom para a saúde de Andrês.

A lembrança desse momento, rapidamente, se desfez dando lugar a memória de 1854, onde Andrês, aos dezesseis anos, e Marcelo, seu irmão mais velho de dezessete anos, correm para conferir a lista de aprovação da Escola Militar. Depois de rapidamente correr os olhos pelo jornal, Marcelo gritou:

- Passamos! Eu em primeiro, você, em segundo!

- Falei! Seremos os primeiros negros a se formar na Escola Militar! - Respondeu Andrês antes de abraçar o irmão fazendo a imagem se desfazer e avançar até 1858.

Aos vinte anos, Andrês e seu irmão embarcavam em um navio que viajaria até a Europa. Ambos irmãos carregavam na sua mão o diploma da Escola Militar, mas somente Marcelo cantava enquanto subiam a rampa.

- Vamos para a Europa! Vamos para Europa!

Vendo a alegria dos dois homens negros, um oficial se aproximou deles com desconfiança.

- Mostrem as passagens. - Ordenou o oficial fazendo com que Andrês procurasse seu documento em seu bolso, rapidamente, enquanto Marcelo fazia isso com a maior calma do mundo.

- Está aqui! - Disse Andrês mostrando o documento ao homem.

- O meu, aqui. - Falou Marcelo ao mostrar o documento para o oficial.

- Estão indo fazer o que na Europa? - Perguntou o homem.

- Não é de seu interesse. - Respondeu Marcelo, fazendo Andrês congelar de temor com a reação do oficial.

- Não banque o corajoso que eu te levo preso. - Ameaçou o oficial.

- Depois teria que se explicar por que impediu um engenheiro, formado pela Escola Militar, de embarcar. - Respondeu Marcelo ao mostrar o diploma e  fazendo o homem ficar sem palavras ao permitir que o irmãos Relousas terminassem de embarcar. 

Mais uma vez, a imagem se desfez e transformou-se em uma memória, de 1865, que mostra Andrês, depois que voltou ao Brasil e aos vinte e sete anos, se apresentando a D. Petrus II para lhe oferecer seus serviços.

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