CAPÍTULO 86 - BELEZA CONSTRANGIDA

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Enquanto Lully usava o lavabo da residência da Dra. Macrona, na sala de jantar, Ray mostrava para Valencina a tela de seu notebook.

- Agora que a Dra. Macrona foi para a Camparty, esse programa vai descriptografar aquele arquivo. - Explicou Ray antes de indicar com o mouse - Quando terminar, é só, você, clicar aqui!

- Tá bem! Espero que aí tenha alguma explicação para aqueles tonéis de matéria exótica que vi no laboratório Rupônei! - Desejou Valencina.

- Então, eu já vou indo.... - Disse Ray ao terminar de juntar suas coisas, abrir os braços para abraçar Valencina, mas a garota não tirava os olhos da tela. Ele abaixa os braços sem graça. - Não vai se despedir?

- Ah! Claro! - Respondeu Valencina ao se levantar rapidamente. Os dois se observam, mas ambos não sabem bem o que fazer. Enquanto Ray ensaiou, novamente, um abraço, Valencina virou seu rosto para beijá-lo. Os dois perceberam a intenção do outro e tentaram corrigir seus movimentos, mas não se encaixavam. Deram uma espécie de abraço que lhe fizeram ficar com seus rostos bem próximos. Os olhos de Valencina percorreram o rosto do rapaz antes de encontrar os olhos dele que brilhavam mais que o normal.

Não tinha certeza se deveria ter a iniciativa, portanto, Ray não se curvou para beijar Valencina. Ela, por sua vez, não sabia se era cedo demais para beijar outra pessoa. Como se fossem imãs seus lábios procuraram uns aos outros até quase se tocarem.

- Pronto! Vamos, Ray? - Perguntou Lully ao entrar na sala de jantar, percebendo que interrompeu algo. Não comentou nada, mas ele visivelmente ficou incomodado com a cena que quase presenciou enquanto Ray e Valencina tentaram disfarçar, em vão.

- Vamos! - Respondeu Ray - Nosso voo deve sair em duas horas!

- Tchau, Valen! - Disse Lully sem abraçar a amiga e com um tom seco na voz.

- Tchau? - Respondeu Valencina - Tomem cuidado.

Assim que ficou sozinha na residência da Dra. Macrona, Valencina lembrou que, lá fora, há uma caçada, realizada por jornalistas, em busca dela. Se perguntou se teria forças para suportar o que tinha por vir, visto que já sabia a sensação de ser julgada publicamente. Foi inevitável que se lembrasse do passado, mais especificamente alguns anos antes quando tinha apenas dezenove anos. Nesse dia, estava ansiosa com a entrevista final do programa de Trainee da Camparty 2019 e, depois de Lully aconselhá-la, decidiu ir ao cabeleireiro para que pudesse estar perfeita para a entrevista.

Ao chegar ao salão de beleza, indicado por uma colega da faculdade, Valencina reparou que tanto os funcionários como as clientes eram pessoas brancas. Por um momento, agradeceu que pelo menos todos eram mulheres ou homens gays. Ela cogitou voltar para casa, pois temia se sentir deslocada naquele lugar, mas lembrou de Lully que disse que ela tem o direito de estar em qualquer lugar que ela quiser. Senti todos os olhares voltados para ela, com exceção da recepcionista que parecia ignorá-la propositalmente.

- Com licença! Eu sou a Valencina Silva... - Disse Valencina colocando a mão na frente da recepcionista que levantou os olhos demonstrando a má vontade.

- Se você quer conversar com alguém da equipe de limpeza, vai ter que aguardar lá fora até o horário da pessoa... - Disse a recepcionista.

- Deixa eu falar. - Disse Valencina com um tom um pouco agressivo - Bem. Eu tenho horário.

- Ah! Você é a Valencina, a da vaquinha online. - Respondeu a recepcionista. - Pode ir para lá, que já vão te atender.

Até refletiu, rapidamente, sobre como a recepcionista sabia de um detalhe tão específico de sua vida, mas enquanto Valencina se dirigia para uma espécie de sala de espera, a recepcionista indicava, com olhar, a garota para que clientes e funcionários rissem dela. Ninguém sequer se esforçava para disfarçar.

Sete ErrosOnde histórias criam vida. Descubra agora