Muito longe do metrô paulistano, em um salão cheio de cadeiras de palha, que parecia ter sido improvisado em um porão de uma residência na cidade Recife, um grupo de pessoas ouve um discurso inspirador:
- Meus caros, passamos o último ano lutando contra a seca que trouxe fome e morte para nossa capitania! Ainda assim, nosso "estimado" Governador, insistiu no aumento de impostos que, segundo ele, seriam destinados para resolver os problemas causados pela seca. Mas até o momento não o vimos fazer nada. Além disso, a guarda real tem perseguido praticantes de religiões que não são católicas. Invadem seus espaços e ateiam fogo em seus artefatos religiosos e, muitas vezes, levam inocentes para a cadeia pelo suposto crime de vadiagem! E é por isso que estamos aqui, hoje! Para mostrar a vocês que em breve, não viveremos mais em uma colônia e, sim, em uma terra Independente! - Disse o Leão Dourado.
Cerca de cinquenta pessoas estavam no local, ouvindo atentamente o discurso do homem que ao terminar, provocou uma onda de aplausos e gritos. A ovação se misturava com o som de uma festa que acontecia na rua em comemoração a Nossa Senhora da Estância. Entre eles, havia diversas figuras conhecidas na capitania de Pernambuco, mais especificamente em Recife.
- Meus amigos, receio que o nosso ilustre Leão Dourado esqueceu-se de um tema importante: a liberdade de imprensa! - disse um homem de cabelos castanhos curtos, pele branca, olhos azuis como a água do mar e uma cicatriz na bochecha esquerda. - Eu, Domingues Martino, vou garantir aos meus amigos jornalistas, o direito de cobrir o meu casamento com Maria Theodora!
Domingues Martino, era um brasileiro de boa família que se apaixonou por Maria Theodora nascida em família tradicional portuguesa. Diante disso, o amor deles era impossível de se concretizar, pois o pai da moça não queria misturar seu sangue europeu com o sangue brasileiro. Portanto Domingues tinha uma motivação pessoal para se envolver em uma revolução.
- De fato, esse casamento será símbolo da união entre portugueses e brasileiros que desejam viver em uma terra verdadeira independente! Além disso, é preciso unirmos os povos! Os indígenas e negros escravizados não podem mais serem tratados da forma que são.... - Disse um homem negro de cabelo crespo curto e boa oratória, mas que foi interrompido e não pode terminar de falar.
- Cabugo, com certeza a situação dos escravos está entre uma de nossas preocupações! - Falou o Leão Dourado. - Mas antes que nos esqueçamos, vamos falar da estratégia por trás de nossa revolução.
As pessoas animadas gritavam e aplaudiam as palavras de Leão Dourado, mas algumas pessoas não esboçaram reação e observavam tudo com certa desconfiança. O primeiro deles era o Carvalhinho, um comerciante português que adorava arrumar confusão por qualquer coisa, mas se dizia indignado com os impostos e, portanto, estava disposto a arrumar encrenca com o Governador. O outro homem desconfiado, é Elias Pedroso, um capitão do regimento que assim, como seus colegas, está descontente com o salário que recebem. Com um corpo forte, alto e de cor parda, Elias observava o discurso de Leão Dourado, mas repentinamente, sentiu um mal súbito. E antes que Leão pudesse detalhar a estratégia da revolução, a situação de Elias chamou atenção de todos que o viram cair ao chão desmaiado.
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Sete Erros
General FictionSete Erros é uma jornada pela história do Brasil que tem como pano de fundo diversos momentos: - Os dias que antecederam a visita do Santo Ofício - A criação da bandeira de Pernambuco no fim do Brasil Colonial - Um romance impossível às vésperas da...