CAPÍTULO 65 - DESEMBARQUE NA ILHA FISCAL

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Ao desembarcar, Andrês observou a luz suave e dourada que era lançada, ao longo da ponte, através de imponentes candelabros de ferro com velas de cera instaladas em suportes ornamentados com o brasão da família imperial. Mal teve tempo de começar a caminhar pela ponte quando uma mulher, fantasiada de ninfa, se aproximou dele e lhe entregou um medalhão com a imagem de D. Petrus II.

- Seja bem vindo ao Baile do Império! Aceite esse presente ofertado pelo Imperador. - Disse, gentilmente, a ninfa que se abanava com um leque de plumas vermelhas - Eu, como ninfa do fogo, manterei as chamas acesas para que saibam o caminho de volta!

O engenheiro observou o medalhão rapidamente, mas ficou encantado com a fantasia da mulher confeccionada em seda vermelha vibrante, cheia de detalhes em dourado, com cortes dramáticos e uma cauda longa, lembrando as chamas das velas que dançavam  em um ritmo suave por toda a ponte. Em sua cabeça, a ninfa usava uma tiara de rubis e topázios que seguravam seus belos cachos selvagens.

A mulher se afastou e se aproximou de outros convidados, entregando medalhões enquanto Andrês seguiu seu caminho. O engenheiro percebeu que outras ninfas do fogo faziam o mesmo por ali, ao mesmo tempo que sentiu o aroma encantador que vinha das grinaldas de flores frescas delicadamente entrelaçadas nas grades da ponte.

Finalmente, Andrês chegou ao acesso da ponte, onde dois querubins esculpidos de mármore branco guardavam a passagem, e mais uma vez encontrou outro grupo de ninfas que se dirigiam individualmente para cada convidado. Enquanto a mulher caminhava em sua direção, o engenheiro notou que o vestido dela era feito de seda leve em tons de azul celeste e verde-água. Reparou no corpete, adornado com pérolas e na tiara de estrelas do mar. Por fim, notou que, em suas mãos, a ninfa carregava uma bandeja com vinho e cerveja.

- Senhor, aceita uma bebida enquanto aguarda ser anunciado? - Perguntou a ninfa dando um sorriso simpático que fez com que Andrês aceitasse um pouco de vinho.

Atrás da ninfa, as enormes paredes, que compunham a estrutura do Castelo Elizabeth,  mostravam que, por toda a fachada do castelo, foram estendidas bandeiras do Império do Brasil e da República do Chile. Também foi estendido um tapete de padrões luxuosos e detalhes dourados, que ia da ponte movediça até a entrada do castelo, onde a Guarda Imperial organizava a entrada dos convidados.

- Senhor André Relousas! - Gritou um dos guardas e o engenheiro correu até o portão do castelo.

Pouco depois, seu nome foi anunciado novamente, mas dessa vez, foi para entrar no suntuoso salão do castelo, ricamente decorado com elementos que representam tanto o Brasil quanto o Chile. Nas paredes, painéis decorativos contando a história das relações entre os dois países adornavam as paredes. Exibições de arte folclórica do Chile, como tapeçarias, máscaras e artesanato tradicional, completavam a decoração. No teto, um grande lustre exuberante e elegante, adornado com cristais iluminariam o salão com uma luz suave, criando um ambiente acolhedor e festivo.

Mesmo com todo aquele espetáculo estético, Andrês não se sentiu muito confiante, visto que percebeu o olhar de desprezo e deboche da maioria dos convidados. Mesmo assim, entrou no salão, de cabeça erguida e tentou cumprimentar alguns convidados.

Se aproximou de um casal, mas o homem entrou na frente como se estivesse protegendo sua esposa de um ataque violento, fazendo Andrês se afastar. Tentou se aproximar de um grupo de homens, mas eles simplesmente se separaram antes que André pudesse alcançá-los. Constrangido com tudo aquilo, Andrês apenas se dirigiu à um canto onde desejou que não fosse visto por mais ninguém.

Depois de alguns minutos, a banda suspendeu a música ambiente que tocava e começou a valsa "Estrela Azul" de Arthur Napoleão fazendo com que todos que estavam no salão ficassem em perfeito silêncio enquanto o guarda anunciava a chegada dos anfitriões.

- Tenho o prazer de informar a chegada da Família Imperial, Senhor Conde D'Itu e a Princesa e Condessa Elizabeth! - Anunciou o guarda.

Da entrada do salão surgiu Princesa Elizabeth, usando um vestido de moiré preta listrada, tendo na frente um corpinho alto bordado a ouro. Nos cabelos, carregava um diadema de brilhantes que despertaram a inveja dos presentes, seja pela beleza do adereço, seja por seu valor. Acompanhada do Conde que não estava vestido de uma forma tão diferente de Andrês.

O casal fez sua entrada chamando a atenção de todos que aplaudiram a presença dos mesmos. Ao passarem perto de Andrês, a Princesa não hesita em lhe lançar um sorriso de satisfação em vê-lo. O engenheiro também sorriu e não deixou de observá-la, mesmo quando ouviu o guarda anunciar:

- Senhores! Vossa Majestade, o Imperador D. Petrus II do Império do Brasil e a Imperatriz Terezinha Agostinho de Albuquerque!

Da mesma forma que a princesa e o conde, surge D. Petrus II, vestindo um elegante fraque preto com lapelas de cetim. Ao seu lado, a imperatriz utilizava um vestido de renda de chantilly preta, guarnecido de vidrilhos. Os convidados aplaudiram ao ver, mas algumas pessoas comentavam, discretamente, que a princesa estava mais bem vestida.

Diante da ovação, D. Petrus II acenou, em agradecimento, conforme caminhava pelo longo tapete. Estava tão entretido ao ver os convidados que não se deu conta que havia uma dobra formada pelo tapete estendido ao chão. Com isso, o imperador, diante de seus convidados, tropeçou na dobra e quase caiu. O som da banda foi cessado enquanto alguns jornalistas que estavam ali, seguraram o imperador.

- Vossa Majestade, o senhor está bem? - Perguntou um dos jornalistas.

- O monarca escorregou, mas a monarquia não caiu! - Respondeu D. Petrus ao provocar risos em seus convidados e a banda recomeçou a tocar a valsa favorita do imperador.

A noite estava apenas começando e Andrês sequer tinha percebido o quase tombo do Imperador, pois continuava observando a Princesa Elizabeth. Em sua mente, Enzo observava tudo pela luneta e temeu que o engenheiro fosse flagrado por alguém.

- Andrês, dá para parar de olhar para princesa? - Pediu Enzo.

- O que você faria no meu lugar, se a princesa fosse a Valencina? - Perguntou Andrês.

- Eu? - Respondeu Enzo, pensando por alguns segundos - Eu, sinceramente, me declararia à ela. Daria a ela a opção de escolher entre eu e o marido. No caso, eu não me importaria em ser visto como um traidor, mas aí vai de cada um.

- Eu queria que ela pudesse ler minha mente, assim ela saberia como me sinto, sem que eu tivesse que verbalizar. - Desejou Andrês - Afinal, só o que é dito pode ser usado contra você. Só se eu me declarar em voz alta, serei um traidor.

O engenheiro ficou em silêncio enquanto Enzo refletia se a resposta que deu ao homem, ajudou ou piorou as coisas. Sem obter alguma certeza sobre isso, o rapaz voltou a observar a festa através da luneta que estava em suas mãos.

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