CAPÍTULO 48 - DIPLOMACIA NAS TRINCHEIRAS

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Uma trincheira foi montada no entorno do Forte Brum, de forma que a praça, que fica em frente ao forte, serviria como campo de batalha entre a guarda real e os revoltosos. Quando Elias chegou ali, observou alguns homens colocando sacos para construir as paredes da trincheira enquanto outros terminavam de escavá-la. A guarda real também havia montado uma pequena trincheira na entrada do forte, demonstrando que não tem a intenção de deixar os rebeldes tomarem o forte tão facilmente.

Conforme o combinado, Elias iria ficar na parte traseira da construção enquanto Domingues cobriria a frente do local. A única ordem era que não se iniciasse nenhum confronto sem autorização de Leão Dourado, então logo que chegou, Elias observou o entorno onde viu o mesmo homem que havia visto mais cedo, no Erário.

- Ora, se não é o escravo a quem Domingos entregou um bilhete? - Perguntou Elias em voz alta. - Hey, você! Vá até o Leão e peça autorização para eu ir falar com ele.

Um praça rapidamente saiu correndo pela trincheira e em alguns minutos chegou até o comandante que conversava com Domingues. Por respeito a autoridade, resolveu aguardar o melhor momento, mas não o teve. De dentro do Forte Brum, saiu, representando o Governador, Luiz carregando um documento e se posicionando em frente a trincheira da entrada do local.

- O senhor quer que eu vá com você? - Perguntou Domingues.

-É melhor. Mas não fale nada. - Respondeu Leão antes de deixar sua trincheira para se aproximar de Luiz.

O sol escaldante daquela tarde fazia com que todos estivessem encharcados de suor. Luiz passava um pano na cabeça para se limpar enquanto Leão Dourado usava as mãos e depois as limpava em sua roupa.

- Leão Dourado. - Disse Luiz acenando com a cabeça.

- Luiz Foronda. - Respondeu Leão Dourado acenando com a cabeça enquanto atrás dele, Domingues fazia o mesmo.

- Recebemos o recado e conforme acordamos, fiz a alteração. - Disse Luiz Foronda.

- Ótimo! Entretanto, tenho mais uma exigência. - Disse Leão fazendo um sinal com a mão que fez um de seus homens sair da trincheira, arrastando Carvalhinho. - Descobrimos um traidor entre nós.

- Que curioso. Eu também descobri uma traição entre os meus. - Comentou Luiz. - Mas o que isso, importa?

- Quero trocá-los. - Propôs o Leão Dourado apontando para Carvalhinho.

- Eu não posso responder pelo Governador nesse sentido. - Explicou Luiz.

- Tudo bem. Então só nos resta atacar o forte e executar o Governador. - Disse Leão ao dar as costas para Luiz.

- Espere um momento. - Pediu Luiz antes de entrar no Forte.

Enquanto esperavam, Domingues e Leão Dourado voltaram para a trincheira deixando Carvalhinho sob os cuidados do homem que tinha o levado até ali. De volta a trincheira, os líderes da revolução encontraram o praça enviado por Elias, esperando pelo comandante.

- Licença, Senhor Comandante Leão Dourado. O capitão Elias pediu permissão para abandonar o posto para falar com você. - Disse o praça.

- Se ele chegar aqui, antes de Luiz voltar, eu autorizo. - Disse Leão Dourado antes de se virar para Domingues - Acho que não vai dar certo essa troca, já explico para ele...

O praça nem terminou de ouvir o que Leão falava e disparou em direção ao outro lado do forte, onde Elias aguardava esbravejando por sua demora.

- Finalmente! Teria sido mais rápido, eu ter desobedecido o protocolo e ter ido até ele. - Disse Elias, furioso ao ver o praça de volta.

- Desculpe, Capitão! Quando cheguei lá, o comandante estava conversando com o advogado do Governador. Só consegui a autorização para você abandonar o posto, depois disso. - Explicou o rapaz, ainda esbaforido pela rapidez com que correu até ali.

- Eles conseguiram fazer a troca? - Questionou Elias.

- Ainda não. Carvalhinho ainda está conosco. - Respondeu o praça.

- Certo! Eu vou até lá, qualquer problema... - Disse Elias ao ensaiar deixar a trincheira, mas mudando de ideia ao ver que ali perto, um grupo de guardas reais se reuniam.

Os homens pareciam apreensivos enquanto estavam em volta de um alçapão. Elas viam os rebeldes, não tão longe dali, começarem a notar sua presença. De repente, ouviram batidas vindas do alçapão fazendo um deles, abri-lo revelando o Governador acompanhado de outro guarda real.

- Os cavalos estão prontos? - Perguntou o Governador.

- Estão. A sumaca enviada pela coroa portuguesa, acaba de chegar. - Respondeu o guarda ao ajudar o Governador sair de dentro do buraco.

Limpou suas roupas, que se sujaram ao passar pelos túneis subterrâneos, mas o Governador não conseguiu montar no cavalo. Assim que tocou no animal sentiu o toque frio da espada inimiga em suas costas.

- Monte nesse animal e eu mato você. - Gritou Elias.

- Eu já assinei a deposição. - Explicou o Governador enquanto se virava e ficava face a face com o capitão.

- Nós ainda não recebemos essa informação. - Rebateu Elias apontando a espada para o pescoço do Governador enquanto seus homens lutavam com os guardas reais.

- Vocês foram informados pela manhã. Enviei um escravo para avisá-los, inclusive ele retornou com um pedido de Leão Dourado para que eu fizesse uma alteração nas reivindicações aceitas. - Explicou o Governador.

- Que reivindicação foi alterada? - Perguntou Elias.

- Ele pediu que retirassem a parte que dizia ser uma terra livre para todos os homens. - Respondeu o Governador - Segundo os portugueses, isso poderia dar abertura para a libertação dos escravos.

- Você está mentindo! - Gritou Elias antes de fincar a espada no chão - Cadê Catarina?

- A traidora? Devido ao relacionamento íntimo deles, deixei que Luiz decidisse seu destino. - Respondeu o Governador. 

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