CAPÍTULO 22 - O FINAL DA BATIIKO

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Eram três horas da manhã e a festa Batiiko não estava nem perto de terminar, pois cada vez chegava mais gente no vão da Praça das Artes. Já estava trançando as pernas, mas isso não impedia Lully de descer e subir ao som da música que parecia cada vez mais alta. Deu falta de Valencina e se perguntou em que momento se separaram, antes de começar sua busca por ela.

Caminhava entre os corpos que faziam passos de dança exatamente iguais, como se fosse um happn acontecendo, mas na verdade são os passos viralizados nas redes sociais. Ao mesmo tempo, Lully tentava ligar para Valencina que não atendia e nem via as mensagens. Foi até o bar e perguntou se o barman tinha visto sua amiga.

- Ela pegou uma bebida e comentou que iria pegar um sorvete - Respondeu o homem enquanto jogava a garrafa para o alto.

O amigo de Valencina correu em direção ao quiosque de sorvete, que havia sido montado, mas não a encontrou e questionou a atendente sobre o paradeiro da amiga.

- Ela comentou que faria uma tatuagem de sorvete, depois que eu entreguei o picolé! - Explicou a atendente.

Novamente, Lully reinicia sua busca e se dirige até o estúdio de tatuagem montado para o evento, onde recebe uma resposta que não ajudava em nada.

- Eu até vi sua amiga, mas ela foi pra lá - Disse o tatuador apontado na direção oposta a que Lully veio - Só que ela não falou para onde estava indo, apenas desistiu da tatuagem e foi para lá.

Não sabia mais onde procurar e depois de dar algumas voltas, Lully parou em uma parte onde uma instalação interativa havia sido montada. A obra consistia na construção de uma casa com paredes invisíveis, portanto havia objetos e móveis espalhados. Em um dos cômodos, um grupo formava uma meia-lua em volta de um objeto que Lully não conseguia ver. Deu alguns passos e começou a reconhecer outros objetos do cômodo. Primeiro viu uma pia onde havia um copo com duas escovas de dentes juntas. Em seguida, percebeu que havia um vaso sanitário, o que fez ele compreender que aquilo seria um banheiro.

Ao chegar perto das pessoas, Lully pensou que elas estavam observando a banheira, porém uma voz lhe chamou atenção. A pessoa parecia falar com a língua bem enrolada, típico de quem está bêbado, mas o rapaz a reconheceu. Pediu licença para as pessoas até que conseguiu ver que dentro da banheira estava Valencina. Ela carregava, em uma mão, um drink e, na outra, um picolé enquanto fazia um monólogo para o grupo:

-...Eu devo ser muito burra!...Tenho cara de otária, ou algo do tipo...Por isso, atraio esse tipo de boy...

- Valencina? - Disse Lully fazendo as pessoas se afastarem enquanto ele ajudava a amiga sair de dentro da banheira. - Vem comigo, amiga!

Os dois saíram dali e se sentaram no sofá da sala de estar com paredes invisíveis.

- Lully, você sabe que você é meu melhor amigo, meu irmão gêmeo, né? - Perguntou Valencina retoricamente - Então pode falar para mim. Eu sou uma fraude, não sou?

- Miga, para de ser louca! - Respondeu Lully pensando que era óbvia sua resposta, mas enxergou no olhos da amiga a genuinidade de sua pergunta - Claro que não, né! Se eu achasse isso, não teria criado a vaquinha online.

- Eu sei, so que eu achava que eu era uma mulher empoderada, mas agora estou me sentindo uma princesa sofrida que só quer chorar por causa de homem. - Explicou Valencina com lágrimas nos olhos.

- E quem disse que sofrer por amor te faz menos empoderada? É a forma como você lida com a desilusão que te faz empoderada. - Concluiu Lully abraçando a amiga. - Quer uma mulher mais empoderada do que uma preta formada em física e que trabalha na Camparty?

- Na verdade você está descrevendo a Dra Macrona basica...- Valencina interrompeu sua fala como se tivesse lembrado de algo - Merda! A caixa!

- Que caixa? - Perguntou Lully, confuso.

- Você lembra se, quando cheguei na sua casa, eu carregava uma caixa da empresa? - Falou Valencina que já não demonstrava sinais de tristeza e nem de estar bêbada, mas sim, sinais de ansiedade e aflição.

- Acho que não! Você chegou chorando e segurando um saco de lixo e sua bolsa, mas não lembro...- Respondeu Lully, mas Valencina sai correndo em direção ao ponto de táxi mais próximo. - Onde você vai mulher? Me espera, eu vou com você!

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