CAPÍTULO 55 - EM BUSCA DE UMA ACOMPANHANTE

0 0 0
                                    

Na sala de estar da grande residência, Andrês observava a matriarca da família que estava sentada em uma poltrona encostada à parede onde havia pendurado um retrato da família indicando que o s Aragão tinham muitas filhas. A sua frente, sentado em uma poltrona, estava o patriarca que olhava, com certo desprezo, para Andrês e Roberto.

- Peço desculpas. O penteado ficou pronto ontem, tive que dormir sentada para não desmontá-lo. - Explicou Fabiana Álvares Aragão, sentanda em uma cadeira encostada a parede, enquanto indicava o penteado feito em seus cabelos loiros.

- Compreendo. Bem... Como eu disse, gostaria de convidar sua filha para me acompanhar ao baile. - Explicou  Andrês ao olhar em volta, em busca da mulher - Poderiam chamá-la para participar da conversa? Quero que ela mesma decida, se vocês permitirem.

- Joana está sem um par, mas creio que ela não possa vir agora.  - Explicou Fabiana. - Está se preparando para o baile.

- Entendo. Dessa forma agradeço por me receberem... - Disse Andrês ao ensaiar se levantar.

- Entretanto, não significa que ela não queira ir com você ao baile. - Comentou Fabiana - Vou até o aposento dela para saber o que ela deseja. Enquanto isso, o Pedro te explica os detalhes.

- Detalhes? - Perguntou Andrês ao olhar confuso para o homem. Sentiu o calor lhe incomodar.

- Sabe como é. Nossa filha foi criada com o bom e o melhor. Precisamos garantir que ela tenha um noite com o mínimo de luxo esperado. - Disse Pedro.

- Fiquei tranquilo, venho buscá-la as sete horas com minha carruagem particular. - Respondeu Andrês.

- Certo, mas você tem que entender que os preparativos também envolvem custos, como por exemplo o alfaiate. Ele precisou produzir os vestidos para cada mulher desta casa. - Explicou Pedro. 

- E o que isso tem a ver comigo? - Questionou Andrês enquanto ao mesmo tempo verificava se as janelas estavam abertas.

- Bem, não seria um problema se você contribuir no acerto dessa dívida em nome de minha família. - Propôs Pedro.

Não se sabe se foi a proposta feita pelo homem, ou se foi o forte calor da cidade, mas o corpo de Andrês desfaleceu na poltrona, desmaiado. Em sua mente, ele encontrou algo que o intrigou. Composta por um pequeno quarto, onde havia duas camas de solteiro e uma mesa de escritório cheia de botões que controlam sua consciência, a mente do engenheiro também contava com uma porta que quase passava despercebida, entres a grandes janelas, pois a paisagem do Arcos do Triunfo e do Stonehenge chamavam atenção. 

Naquele pequeno espaço era difícil Andrês não ver o rapaz loiro que estava entre as camas, por isso, não hesitou em correr para trancar a porta antes de guardar a chave dentro de seu bolso, ao mesmo tempo que perguntou:

- O que aconteceu, rapaz? Como veio parar aqui?

- O que? Não, não, não! - Disse Enzo olhando em volta e percebendo que não estava mais na ponte de Recife - Em que ano estamos?

- Em 1889? - Respondeu Andrés enquanto colocava Enzo sentado em uma das camas.

- De novo, não. - Lamentou Enzo ao se sentar, desanimado, em uma das camas - Mais uma vez, fui embora no pior momento possível - Elias já deve estar morto.

- Calma rapaz, me explique o que está acontecendo. - Disse Andrés ao sentar-se na outra cama -Talvez eu possa te ajudar.

- De alguma forma, eu tenho viajado pela mente das pessoas, mas já estou começando a ficar cansado disso. - Explicou Enzo colocando as mãos na cabeça e curvando seu corpo, levemente. 

- Viajado pela mente? - Perguntou Andrés demonstrando uma curiosidade típica de qualquer acadêmico. 

- Eu sei, parece impossível. - Falou Enzo -  Não sei nem como isso aconteceu, mas o fato de eu estar aqui é a prova disso. 

- Se você veio parar na minha mente, talvez você seja fruto da minha imaginação.  Essa busca por uma acompanhante tem me consumido muito. - Esbravejou Andrés ao se levantar e caminhar pelo pequeno apartamento.

- Acompanhante? - Questionou Enzo ao perceber que ali poderia estar sua oportunidade de ajudar Andrés e seguir sua viagem.

- Sim. Fui o único homem negro convidado para o baile do império que acontece essa noite. Durante a semana, passei na casa de diversas famílias, mas todas tinham desculpas esfarrapadas ou queriam que eu pagasse um dote para levá-las ao baile. - Explicou Andrés enquanto batia a mão na mesa.

- Me desculpe a franqueza, mas se for o caso, leve uma mulher da zona. - Sugeriu Enzo fazendo Andrés fazer uma risada.

- Não conhece as regras de etiqueta de um baile? - Perguntou Andrés, recebendo como resposta um movimento negativo - O convite especificou que pares devem fazer parte da lista de convidados para garantir a segurança do Imperador Petrus II. Por isso, estou na casa dos Aragão para convidar a filha mais velha.

- Então você já está resolvendo as coisas. - Disse Enzo, desanimado.

- Pelo contrário, eles querem que eu pague pelos vestidos que encomendaram para festa. - Explicou Andrês - Vê se pode?

- Imagino que você vai recusar a proposta. - Comentou Enzo - Então, vou te ajudar a encontrar uma acompanhante. Assim aproveitamos para descobrirmos mais sobre o que vem acontecendo comigo.

- E como vamos fazer isso, senhor...? - Perguntou Andrés ao perceber que não haviam se apresentado.

- Enzo. - Respondeu o rapaz.

-Eu sou Andrês. - Disse o homem, estendendo a mão, sendo correspondido por Enzo - Mas me diga, o que precisamos fazer?

- Eu preciso que você toque nas pessoas. Se alguma delas também tiver outra pessoa, dentro de sua mente, vocês terão suas mentes unidas. - Explicou Enzo ao olhar suas mãos apertadas. - Temos um acordo?

-  Temos. Receio que teremos dificuldades quanto a isso... - Tentou falar Andrês, mas foi interrompido por um terremoto que tomou conta do apartamento.

- Estão tentando te acordar, certo? - Perguntou Enzo enquanto olhava em volta e viu uma luneta que rolava pela mesa prestes a cair. Antes que isso acontecesse, Enzo esticou seu braço e segurou a luneta.

Enquanto Andrês assumia os controles que estavam vermelhos, Enzo, imaginando que aquele objeto era a forma de enxergar o que acontecia fora da mente do novo amigo,  tentava colocar a luneta em seus olhos. Entretanto, o rapaz não conseguia firmar o objeto, mas conseguiu ver Roberto chacoalhando Andrés na sala de estar da residência dos Aragão. 

Sete ErrosOnde histórias criam vida. Descubra agora