CAPÍTULO 88 - O NAMORADO DE VALENTE

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No salão do castelo em que consiste a mente de Clara, ela estava sentada em seu trono, um tanto agitada, com a adrenalina de sua empreitada. Enzo, por outro lado, teme, por alguns segundos, por sua segurança, mas lembra o que  Acreano lhe disse sobre o destino de Clara, portanto não poderia fazer nada para evitar que ela fosse para o combate.

- Acabei de entrar no caminhão. Agora, não tem mais volta. - Comentou Clara olhando para Enzo, que estava sentado na grande mesa.

- Estou certo que você vai se dar bem. - Afirmou Enzo - Alguém desconfiou de seu disfarce?

- Ninguém. Estão falando sobre o corpo das mulheres como se tivessem somente homens. - Explicou Clara - Inclusive, meu irmão está ao meu lado e não percebeu nada.

- E você pretende contar para ele? - Perguntou Enzo.

- Eu queria contar, mas temo que ele faça um escândalo. - Respondeu Clara, olhando para baixo.

- Eu acho que a essa altura, já não tem mais como voltar atrás. - Comentou Enzo, sem saber ao certo se isso influenciará ou não a decisão de Clara, que fora de sua mente, observava seu irmão fixamente, mas quando ele olhava para o lado, disfarçava.

- Tem alguma coisa errada? - Perguntou Valente - Não para de olhar para mim.

- Não, bem....- Respondeu Clara, disfarçando a voz, mas se aproximando do ouvido de Valente e falando com sua voz normal - Sou eu, Clara!

- Parece a voz da minha...- Falou Valente quase soltando uma risada, mas mudando sua expressão rapidamente - Não, você não fez isso!

- Não chame atenção. Agora que eu já estou aqui, não tem o que fazer! - Falou Clara, novamente disfarçando sua voz.

- Você não devia ter feito isso. - Repreendeu Valente enquanto olhava pros lados procurando ver se alguém desconfiava de alguma coisa -  Ainda se fosse na retaguarda, como costureira, cozinheira, esse tipo de coisa que, geralmente, as mulheres ajudam. 

- Eu me ofereci para isso, você achou ruim. - Respondeu Clara, contrariada - Quando vi um covarde largado a farda, conclui que se ele, que é homem, pode ser covarde, eu que sou mulher, posso ser corajosa e ocupar o lugar dele.

- Você sabe atirar, por acaso? - Perguntou Valente.

- Não...Não sei, mas posso aprender. - Respondeu Clara, recorrendo a todo e qualquer argumento que pudesse usar, mas ao invés de convencer Valente, provocou risos da parte dele.

- Viu? - Debochou Valente - Você não vai durar nem um minuto, no campo de batalha. E pra piorar, o papai vai me responsabilizar por isso.

- Claro que não.  - Rebateu Clara. - Eu sou uma mulher adulta capaz de tomar suas próprias decisões.

- Decisões? O que você entende de política, pra tomar alguma decisão dessa? - Perguntou Valente, como se falasse com uma criança.

- Eu sei o suficiente para entender que o PD e o PRP se uniram para combater a tirania de Getúlio que deixou de convocar a eleição de trinta. Sei também que a MMDC luta pela criação de uma constituição que garanta direitos trabalhistas, proteja as riquezas naturais do país e garanta o sigilo do voto de cada cidadão. Por fim, o que mais me motiva estar aqui e também deve ser previsto pela consitituição, é o direito das mulheres votarem. - Falou Clara enquanto brincava com o fuzil que estava entre suas pernas.

- Que seja. - Esbravejou Valente, chamando atenção dos outros homens - Lá, você não vai sair do meu lado, ouviu?

- Ih! O Valente arranjou um namorado. - Debochou um dos homens que estavam ali e  ouviu parte da conversa. - Vai até proteger o amado durante a batalha!

Enquanto os homens davam risada, nem Clara, nem Valente reagiram. Pareciam ter concordado telepaticamente que, naquele momento, não era o ideal criar algum tipo de confusão. Seguiram a viagem em silêncio e só viriam trocar algumas palavras quando chegassem à trincheira.

Sete ErrosOnde histórias criam vida. Descubra agora