CAPÍTULO 32 - PRIVILEGIADO

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Ao mesmo tempo que o boi sobrevoava a antiga ponte do Recife, como era chamada a Ponte Maurício de Nassau e representava a mente de Elias, os dois homens conversavam. Diferente da mente de Xica, a do capitão tinha um céu que se transformava em uma noite com uma velocidade mais lenta. Porém, ainda sim, o firmamento mudava mais rápido do que fora de sua mente.  

- E você não sente saudades da sua casa? - Questionou Elias enquanto controlava a mesa de controles.

- Na verdade, eu tô até feliz de estar longe. Tenho muitos problemas e não quero resolvê-los. - Respondeu Enzo.

- Que tipos de problemas? - Perguntou Elias, sem sequer olhar para Enzo.

- Bom...Pra começar, eu preciso decidir se serei candidato a Deputado dando continuidade ao legado de meu pai na política do país. - Explicou Enzo.

- Legado? Ele é o que? - Perguntou Elias.

- Ele...Ele foi...governador? - Disse Enzo, em tom de questionamento, como se soubesse que poderia falar algo que incomodaria Elias.

- Filho de Governador? Então você é um daqueles que se amamentam nas tetas da coroa, mas se dizem inocentes - Alegou Elias.

- Não, não! Na verdade, sou inocente. Nunca fui condenado por nenhum crime. - Disse Enzo ao se defender.

- Os poderosos nunca são condenados, mas não significa que nunca tenham cometido crimes. - Ponderou Elias, olhando com certo desprezo para Enzo. - Qualquer filho de político usufrui dos ganhos do pai, ilícitos ou não.

- Mas não é justo que atribua a seus filhos alguma culpa pela ação dos pais. - Argumento Enzo.

- Escuta, não quero que você se sinta mal. Só quero que você desperte! - Disse, firmemente, Elias, deixando Enzo sem palavras.

- E que certeza você tem que eu estou adormecido? - Perguntou Enzo.

- Se estivesse acordado, não estaria argumentando. - Respondeu Elias, deixando Enzo, mais uma vez, sem palavras. - Já está tarde. Como funciona o negócio de dormir? Se eu dormir, você também dorme?

- Não, eu posso controlar meu sono. Mas acho melhor irmos dormir, mesmo. - Respondeu Enzo ao se deitar no canto de uma ponte. 

Se deitou, mas Enzo não dormiu. Passou aquela hora pensando sobre sua vida.  "Aquela hora" pois o tempo passa mais rápido ali do que fora da mente de Elias. Então Enzo usou seu tempo para refletir sobre sua decisão de seguir a carreira política como o pai. Considerou as palavras de Elias para chegar a conclusão que deve usar seus privilégios se assim lhe foram dados. Se a vida lhe fez filho de um político, o mínimo que ele poderia fazer é dar continuidade ao legado político da família, mas sem fazer a política do jeito que seu pai faz. Mas ainda havia algo que lhe fazia ficar indeciso. Entre seus desejos mais íntimos, se tornar um político era o último. Inclusive, na lista, fica atrás de se tornar um reprodutor de elefante ou um palhaço de rodeio.

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